Presidente Jair Bolsonaro (PL)
Antonio Cruz/Agência Brasil - 25.02.2022
Presidente Jair Bolsonaro (PL)

Em novembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro fez uma viagem de seis dias pelo Golfo Pérsico e esteve nos Emirados Árabes Unidos, Qatar e Bahrein . No caso dos dois primeiros países, foi a segunda visita do titular do Palácio do Planalto em três anos de governo, um sinal de prestígio concedido a poucas nações nesse período. O roteiro exemplifica como Bolsonaro alterou o mapa da política externa brasileira, atrofiando relações com antigos aliados e construindo novas parcerias.

Na comparação com os seus antecessores, o presidente diminuiu a frequência de viagens para América do Sul e Europa, enquanto aumentou para a Ásia e América do Norte. Além disso, pode ser o único chefe do Executivo nas últimas décadas a não visitar a África em seu mandato.

Nos primeiros 38 meses das gestões de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula Silva e Dilma Rousseff, a América do Sul foi o continente mais visitado. No governo Bolsonaro, esse posto ficou com a Ásia, com predomínio para países do Oriente Médio.

O destino preferencial de Bolsonaro vem sendo os Estados Unidos, embora a Argentina tenha sido o país mais visitados pelos três ex-presidentes — no governo Lula, empatado com os EUA. Bolsonaro pisou no país vizinho tanto quanto em nações como Japão, Qatar e Emirados Árabes.

As viagens à Argentina ocorreram quando o presidente era Mauricio Macri, um aliado de Bolsonaro. Entretanto, desde o fim de 2019, o país é governado por Alberto Fernández, com quem o brasileiro já trocou acusações públicas. Os dois demoraram mais de um ano para terem a primeira reunião, que ocorreu de forma virtual.

Situação semelhante ocorreu com os Estados Unidos: Bolsonaro esteve cinco vezes no país, três delas para se reunir com o então presidente Donald Trump, que era seu principal parceiro no exterior. As outras duas viagens para os EUA foram para participar da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Metade das viagens de FH e cerca de um terço das de Lula e Dilma tiveram como destino países da América do Sul. Com Bolsonaro, esse índice ficou em 23%. Por outro lado, em 40% das vezes em que Bolsonaro saiu do país, ele partiu rumo à Ásia, percentual que não passou de 10% com os presidentes anteriores.

China no mapa

David Magalhães, professor de Relações Internacionais da PUC e da Faap, ressalta que a maioria das viagens ocorreu para nações aliadas dos Estados Unidos, como Israel e países do Golfo Pérsico.

"São regimes religiosos e monarquia sunitas. Basicamente as monarquias do Golfo, que são profundamente vinculadas aos Estados Unidos. Veja que não coube nenhuma consideração aos palestinos nem às chamadas repúblicas nacionalistas, sejam Síria ou Iraque", avalia.

Apesar das críticas que já foram disparadas por membros do seu governo e outros aliados à China, Bolsonaro esteve uma vez no país asiático, em 2019. Ele também visitou a Índia e o Japão.

Uma das principais diferenças na lista de destinos de Bolsonaro é a baixa presença da Europa: o presidente só esteve três vezes no continente, duas delas para participar de eventos com outros chefes de Estado (o Fórum Econômico Mundial, na Suíça; e o G20, na Itália). O único encontro bilateral ocorreu na Hungria, cujo primeiro-ministro é o líder de direita Viktor Orbán, por quem Bolsonaro não esconde sua admiração. O presidente também passou pela Rússia.

O brasileiro enfrenta resistências entre alguns dos principais chefes de Estado da região, sobretudo por conta de suas políticas ambientais. O tema levou a embates principalmente com o presidente da França, Emmanuel Macron. Enquanto as visitas a países da Europa representaram 11% das viagens de Bolsonaro, esse índice ficou em mais de 20% entre seus antecessores.

"Na Europa Ocidental é onde se concentra tudo aquilo que a política externa de Bolsonaro mais tem ojeriza", afirma Magalhães. "Havia uma indisposição recíproca."

Canada e México fora

Na América do Norte, o presidente só esteve nos Estados Unidos. Já seus antecessores, apesar de terem visitado menos a região proporcionalmente, diversificaram os destinos. Foram para o México (no caso de FH, Lula e Dilma) e Canadá (apenas FH).

Nos governos do PT, houve uma interlocução maior com a África: foi o segundo continente mais visitado por Lula (21% das viagens) e o terceiro por Dilma (15%). Fernando Henrique viajou duas vezes a países da região (4%).

Analisando o número total de viagens, Bolsonaro foi o presidente que menos viajou, em parte devido à pandemia de Covid-19: ele saiu do Brasil 26 vezes desde que assumiu a Presidência. Lula lidera a lista com folga, com 90 viagens, seguido por Dilma, com 53, e Fernando Henrique, que viajou em 43 ocasiões. O levantamento leva em conta o período de três anos e dois meses de mandato de cada ocupante do Planalto.

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