O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse saber que estava "para aparecer uma acusação" sobre o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), durante uma reunião em novembro de 2018, após as eleições.
Segundo Weintraub, a declaração de Bolsonaro foi dada ainda na fase de transição do governo, um mês antes de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) divulgar um relatório, como parte da operação Furna da Onça, que apontou movimentações financeiras de mais de R$ 1,2 milhão consideradas suspeitas pelo ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz.
"Eu vou contar então uma coisa aqui que eu acho que eu nunca contei em público. Eu tava no governo de transição, estamos falando em novembro, e eu fui chamado em uma sala com pouca gente. Ministros, pessoas assim (...). Aí juntou assim numa mesa comprida e (Bolsonaro) falou: "Seguinte, eu chamei pelo seguinte, tá para aparecer uma acusação, tá pegando esse cara aqui", apontou para o Flávio, 'e o governo não tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma coisa errada, ele é que vai pagar por isso'", disse Weintraub em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., neste domingo.
Weintraub afirma que, além de Bolsonaro e Flávio, estariam no encontro "alguns ministros" do presidente, e cita Onyx Lorenzoni (atual titular da pasta do Trabalho e Previdência), o general da reserva Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência), Gustavo Bebianno (ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, morto em março de 2020), e Jorge Oliveira (ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência).
De acordo com a fala de Weintraub, o presidente teria conhecimento sobre a possibilidade de uma acusação contra seu filho antes mesmo de a operação Furna da Onça, desdobramento da Lava-jato no Rio, ter sido deflagrada.
Alvo da operação, Fabrício Queiroz, que foi assessor de Flávio Bolsonaro em sua época como deputado estadual do Rio, foi posteriormente apontado pelo Ministério Público como operador do esquema das “rachadinhas”, prática em que funcionários devolviam parte de seus salários, no gabinete de Flávio na Alerj.
No entanto, em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou quatro dos cinco relatórios feitos pelo Coaf que embasavam a investigação sobre as “rachadinhas” envolvendo o senador, além de ter negado pedido do MP para devolver a investigação à primeira instância.
A suspeita de que informações sobre a operação teriam sido vazadas para a família Bolsonaro antes de ter sido deflagrada, porém, não é nova. Em fevereiro de 2020, o empresário Paulo Marinho — que é suplente de Flávio e foi aliado do presidente nas eleições de 2018 — já havia afirmado que o senador teria sido informado sobre a investigação por um delegado da Polícia Federal antes mesmo do segundo turno das eleições.
Na época, Bolsonaro disse que Marinho teria que apresentar provas sobre o suposto vazamento. “Ele vai ter que provar, não vou entrar em detalhe, quem foi o delegado que teria dito para um assessor do meu filho...É sempre assim, né, ‘ouvi "dizer’. Não, não é ‘ouvi dizer’”, disse o presidente.
A entrevista em que Weintraub sugere que Bolsonaro já teria conhecimento sobre a operação foi realizada um dia após o ex-ministro retornar ao Brasil, no momento em que busca viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo. Weintraub estava nos Estados Unidos desde junho de 2020, quando passou a ocupar um mandato como diretor-executivo do conselho do Banco Mundial, cargo indicado por Bolsonaro, que termina neste ano.