À frente do governo do Rio desde agosto de 2020, quando Wilson Witzel foi afastado, Cláudio Castro assumiu o posto definitivamente no último mês de maio. Agora, pré-candidato à reeleição no ano que vem, ele recebeu o Globo no Palácio Guanabara, onde fez um balanço deste ano e avaliou a aliança com Jair Bolsonaro na disputa pelo voto em 2022.
“Quem não quer o presidente da República em seu partido?”, diz ele, que firma posição diferente da de seu correligionário, porém, quanto à vacinação contra a Covid. Já sobre os planos para o fim do mandato, ele põe o foco na segurança pública. E adianta pontos de uma reestruturação nas áreas cobertas pelos batalhões da PM, com a abertura de novas unidades.
Que balanço o senhor faz deste ano à frente do cargo?
Sem dúvidas, a maior vitória foi conseguir iniciar a vacinação ainda em janeiro. Já superamos 73% da população vacinada. Também conseguimos honrar o pagamento dos servidores. Isso colaborou para a criação de um ambiente de negócios melhor, permitindo que grandes empresas escolhessem nosso estado para se instalar. É importante lembrar que o ano começou com o estado saindo da segunda onda da pandemia. Uma coisinha ou outra, uma crise, sempre vai haver, em qualquer governo, mas o Estado do Rio está voltando aos trilhos.
A anunciada reestruturação da segurança pública ficou para 2022. Por que esse adiamento?
O projeto todo é muito complexo, mas estará em funcionamento na capital já no primeiro semestre de 2022. A segurança é um dos seis eixos trabalhados em parceira com prefeituras. Começaremos pelo Jacarezinho, onde instalaremos um batalhão de Polícia Militar, na antiga fábrica da GE. Ali também teremos um parque esportivo e um espaço de capacitação profissional. A criação de um batalhão naquele lugar explica a nova política de segurança: é preciso repensar a distribuição do policiamento, feita há mais de 50 anos, quando a mancha criminal era diferente. Em São Gonçalo, o batalhão abrange mais de um milhão de pessoas. É claro que isso será revisto. A região terá uma nova unidade. O batalhão do Jacarezinho vai desafogar a unidade do Méier, que atende muitos bairros, e por aí vai. Também vamos criar uma delegacia da Polícia Civil dedicada somente à orla de Copacabana, que concentra 30% da criminalidade do bairro. Teremos ainda cinco postos do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas instalados na Avenida Atlântica, ainda neste verão.
O seu mandato tem sido marcado por operações sangrentas, como no Jacarezinho e no Salgueiro. A atuação das polícias está sendo revista?
Não celebramos a morte de ninguém. Estamos reestruturando a Polícia Civil para servir ao cidadão, investindo em tecnologia e infraestrutura. Mas, às vezes, o confronto leva a isso (mortes). A polícia entra nesses territórios conflagrados repelindo a grave ameaça, não entra dando tiro. Ninguém deseja operações deste tipo, ninguém fica feliz com o que ocorreu no Jacarezinho e no Salgueiro. Mas estamos falando de pessoas que fazem disparos contra policiais, que estão camufladas em mangues. O contexto é diferente. Todo mundo precisa de segurança pública, seja de direita ou esquerda. Essa não é uma busca por eleitor. É carro-chefe de todo político que se sentar nesta cadeira. É um tema transversal a qualquer outro.
As regras do novo Regime de Recuperação Fiscal aprovadas na Alerj enfrentam resistência do Ministério da Economia. E se o Rio não se adequar?
O regime é um processo de negociação dura. Não há temor de não acontecer no ano que vem. As discordâncias acontecerão. Mas é importante frisar: mandei para a Alerj um pacote mais austero do que o que foi aprovado. Se não passar no ministério, a Alerj precisa assumir essa responsabilidade, debater novamente esses pontos, já que o processo pode ser judicializado.
Como será ter o presidente Jair Bolsonaro, agora no seu partido, o PL, em seu palanque em 2022, mesmo com os índices de rejeição dele?
Acho essa possibilidade (de dividir palanque com Bolsonaro) muito boa. Quem, em sã consciência, não quer o presidente da República em seu partido? Nós temos dialogado muito bem com o governo federal. Ele venceu uma eleição com milhões de votos. Não entendo o porquê de alguém não gostar da entrada do presidente no seu partido. E a minha postura está consolidada. Sou um sujeito de diálogo, invisto em cidades com prefeitos que têm pré-candidatos contra mim. Não faço esse tipo de distinção.
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Mas como fica a busca pelo eleitor de centro num palanque ao lado de Bolsonaro, com discursos extremistas?
Meu legado vai dizer. As pessoas já percebem o governo do Cláudio Castro. Eu tenho minha identidade própria, não sou hostilizado por ninguém nas ruas, sou tratado com carinho no interior e na capital do estado.
Bolsonaro não se posiciona pela vacina contra a Covid-19, nunca declarou ter sido imunizado. Como vê essa questão?
Sempre fui entusiasta da vacina, segui o Plano Nacional de Imunizações, sem questionar se transformava alguém em jacaré. Eu faço a minha parte. Comprei insumos, fizemos um belo esquema logístico de distribuição. Não importa se ele acredita na vacina ou não. Sempre orientei todos a tomarem vacina. Eu tomei as três doses. Importante, para mim, é que o Rio tenha vacinas disponíveis. O resto pouco me interessa.
Seu governo está loteado com 15 partidos no primeiro escalão, e novas pastas foram criadas para abrigar aliados. Considera essa distribuição saudável?
O que chamam de loteamento eu chamo de uma grande união partidária, política e ideológica para reconstruir o Rio. A criação de secretarias não quer dizer muita coisa, já que pode acontecer o que ocorreu em outros governos, quando anunciavam um enxugamento, mas os cargos seguiam como subsecretarias, dando despesas. Nas secretarias, há um foco nos assuntos. Um governo com poucas secretarias não é necessariamente austero.
Quanto ao carnaval, há possibilidade de decisões divergentes com relação às da prefeitura do Rio?
Hoje temos uma boa radiografia epidemiológica, mas não sabemos como será no carnaval para a festa de rua. Estamos fazendo o controle. Acredito que o desfile das escolas de samba tem que acontecer, com protocolos. É importante para todos. Mas, se houver um surto, não terá como. Não vai haver ruído entre estado e prefeitura.
O senhor enfrenta críticas de uso político de suas agendas no interior, com a distribuição do dinheiro do leilão da Cedae...
Se não vou, dizem que sou um governador de gabinete. Se vou, dizem que faço uso político. Não vou me importar com críticas, nem dar um tiro na cabeça. O que é fazer política? Ir às cidades? Então, vou fazer muito uso político. Sou feliz em espalhar otimismo pelo Rio.
É questionado também o uso do dinheiro do leilão em obras do Pacto RJ, como praças e pontes no interior. Como enxerga essas críticas?
Não estou fazendo gentileza com prefeitos, estou apenas pagando o que devo. Os prefeitos aprovam essa medida, admitem que os projetos deles estão sendo tocados. Ouvi os governantes e a cadeia produtiva. Era isso o que eles queriam. Errado seria tratar esse dinheiro como meu. Quem faz esta crítica está na contramão da cadeia produtiva. Tem gente que critica até a vacina.
O presidente Bolsonaro, por exemplo...
Tem gente que critica tudo. Quem ocupa esta cadeira (de governador do Rio) precisa conviver com tudo.