Um relatório que aponta possíveis fragilidades no aplicativo de votação das prévias presidenciais do PSDB é o novo motivo de impasse entre os grupos dos governadores João Doria e Eduardo Leite. O paulista e o gaúcho disputam a indicação do partido ao Palácio do Planalto em pleito interno no dia 21.
A auditoria feita no sistema pela empresa Kryptos, contratada para evitar possíveis invasores e hackers, tem sido usada por aliados de Doria para questionar a segurança do aplicativo, cujo desenvolvimento foi feito por uma fundação ligada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Faurgs. O fato de o software ter sido gestado em solo gaúcho inclusive já havia gerado atritos anteriores.
Interlocutores ligados à direção do partido afirmam que embora os desenvolvedores do partido sejam gaúchos, como o governador Eduardo Leite, aqueles que testam sua eficácia e tentam encontrar falhas estão em São Paulo. Não por acaso, o partido contratou não só a Kryptos, mas também uma consultoria ligada à Universidade de São Paulo (USP) e, mais recentemente, ainda outro consultor de Pernambuco.
Em reunião nesta quarta-feira, a Faurgs informou que conseguiu sanar 11 vulnerabilidades encontradas pela Kryptos no aplicativo e mitigar outra. Os problemas citados eram de ordem técnica, como, por exemplo, a adoção de dupla autenticação ( com o envio de SMS) para evitar o risco de uso indevido da foto utilizada pelo usuário por meio de reconhecimento facial. Em nota, a fundação ainda disse que os itens apontados pela Kryptos não colocam em risco a segurança do processo de votação.
As explicações da fundação gaúcha não agradaram a todos e houve resistência. Numa tentativa de conciliar a situação e desfazer o mal estar, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, pediu que as empresas tentem chegar a um acordo até o final da semana, quando a Kryptos deve entregar um novo parecer sobre as melhorias feitas pela Faurgs.
Com o acirramento das prévias, Araújo tem evitado dar opiniões e procurado adotar posições diplomáticas, na tentativa de evitar com que a disputa termine num quadro inconciliável de racha.
Ainda assim, ele já deixou claro que a escolha se dará pelo voto eletrônico: "A única possibilidade descartada é a volta a algo mais vulnerável e grave: o voto na cédula eleitoral”, afirma Araújo em nota.
Internamente, tucanos ligados ao PSDB nacional dizem que os aliados de Doria não têm porque temer o aplicativo, já que o estado leva clara vantagem entre os inscritos no sistema até o momento. Até a noite de segunda-feira, a sigla contabilizava 22.189 cadastros, sendo que 13.625 são de paulistas, o equivalente a 61%. No ranking de inscritos, os gaúchos aparecem na segunda posição com apenas 2164 inscritos, seguido de Minas Gerais, com outros 1470.