Apesar do nome "União Brasil", o novo partido formado a partir da fusão entre PSL e DEM , já enfrenta disputas locais em torno de quem comandará os diretórios nos estados. A aprovação por meio de convenção ocorrida nesta quarta-feira, em Brasília, foi só a primeira etapa — e já demorou três meses de negociações. Agora, os dirigentes da legenda terão mais quatro meses (até a abertura da janela partidária) para definir quem dará as cartas em cada unidade da federação. Mas ainda estão longe de chegar a um consenso, principalmente nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
O presidente estadual do DEM do Rio, Sóstenes Cavalcante, anunciou que abandonará "na mesma hora" a sigla caso o presidente do PSL fluminense, prefeito de Belford Roxo, Waguinho, assuma o comando do União Brasil no estado.
"Ontem, quando vi que ele seria o presidente do diretório, liguei na mesma hora para o Luciano Bivar (presidente do PSL) e o ACM Neto (presidente do DEM). Eles me garantiram que não está nada resolvido", disse Sóstenes, que hoje votou a favor da fusão dos dois partidos.
Waguinho se encontrou nesta terça-feira com ACM Neto, agora secretário-geral do União Brasil. No Rio, o novo partido ainda negocia a filiação de políticos da família do ex-governador Anthony Garotinho e do ex-deputado Eduardo Cunha.
"Com esse tipo de gente eu não caminho", completou Sóstenes, que é muito ligado ao pastor Silas Malafaia, aliado do presidente Jair Bolsonaro.
Em São Paulo, o conflito se dá entre o dirigente do PSL Júnior Bozzella e o do DEM, Milton Leite. Presidente da Câmara Municipal paulistana, Leite é um dos principais aliados do governador do estado, João Doria (PSDB), e apoia abertamente a campanha ao governo do atual vice, Rodrigo Garcia (PSDB). Já Bozzella vem trabalhando em prol de uma candidatura própria do União Brasil no estado, encabeçada pelo ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, ou do deputado estadual Arthur do Val.
"Nós não vamos abrir mão de ser cabeça de chapa nessa disputa", disse Bozzella.
Nos cálculos de dirigentes do União Brasil, o PSL deve ficar com 17 diretórios e o DEM, com 10. Na divisão dos postos mais importantes, o PSL assumirá a presidência nacional, com Luciano Bivar, e a tesouraria, nas mãos de Maria Rueda. Já o DEM ficará somente com a secretaria-geral, sob o comando de Neto, o que gerou a percepção de que o partido estaria saindo perdendo da fusão.
"Para fazer uma mudança dessa magnitude, o DEM teve que abdicar. Tivemos que ser generosos. Mas tudo pode mudar no desenho de 2023", disse o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), que ficou com o comando da Fundação Indigo.
Segundo Mendonça, uma regra que exige pelo menos 60% de aprovação da Executiva para a tomada de qualquer decisão equilibrou as forças dentro do União Brasil.
"Se o PSL quiser fazer alguma coisa, ele vai ter que conquistar pelo menos 10% do DEM, e vice-versa", disse ele.
Apesar da aprovação da fusão por aclamação, políticos do DEM mais alinhados com o governo Bolsonaro saíram insatisfeitos com o resultado das negociações e já planejam deixar a nova sigla, assim com a ala bolsonarista do PSL, que deve debandar para o PP ou o PTB.
Havia uma expectativa de que os diretórios fossem definidos na convenção desta quarta-feira, mas isso precisou ser adiado em função das divergências locais.
"Nós já temos um desenho montado nos estados, mas em alguns não foi possível concluir. A partir de agora, nós vamos tratar das composições estaduais. Temos que fazer jus ao nome do partido e exaurir o diálogo", declarou ACM Neto durante o evento.
Outra discórdia levantada entre os parlamentares da nova sigla é a insistência da direção em viabilizar uma candidatura própria à presidência da República — são cotados nomes como o do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM). Tanto o ACM Neto como Bivar defendem essa ideia.
"Agora com a união, certamente nós queremos o protagonismo. Mas é inoportuno discutir um nome hoje", comentou Bivar.
Boa parte dos deputados, no entanto, considera que é melhor investir o fundo eleitoral em campanhas ao legislativo do que em uma terceira via.