Sem encontrar um partido para ter o controle total e “chamar de seu”, Jair Bolsonaro vem sendo aconselhado a aproveitar o momento de trégua nas tensões políticas e selar sua entrada no PP, sigla do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) . Os mais entusiasmados aguardam o anúncio oficial até o final deste mês para dar início ao planejamento da campanha eleitoral de 2022, mas o presidente da República, segundo pessoas próximas, ainda não deu a palavra final. Paralelamente, ele mantém conversas com o PTB e confidencia a aliados que ainda pode optar por uma sigla pequena.
A interlocutores, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP, já considera como certo o ingresso de Bolsonaro no partido e descarta a ida do chefe do Executivo para outra sigla. Ele diz ter conquistado a confiança do presidente e garantido a ele tanto a legenda como a indicação de candidatos ao Senado em estados estratégicos.
No final de agosto, no auge da crise institucional e com a popularidade em baixa, o ministro-chefe da Casa Civil defendia que Bolsonaro deixasse a definição do partido para o próximo ano, como mostrou O GLOBO. Nogueira, porém, mudou de opinião com a arrefecimento das tensões após a “declaração à nação” feita com a ajuda do ex-presidente Michel Temer depois dos atos de 7 de Setembro, nos quais Bolsonaro fez ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Na avaliação do ministro e de outros aliados que acompanham de perto a negociação, o momento de “calmaria” é oportuno para o chefe do Executivo encaminhar seu futuro partidário e dar a largada para construção da campanha pela reeleição em 2022. Uma filiação agora também atenderia ao desejo de aliados ainda sem legenda e de deputados bolsonaristas no PSL que esperam uma decisão do presidente para também decidir o futuro partidário.
Nos últimos dias, o ministro-chefe da Casa Civil também tem trabalhado para aparar as arestas e diminuir as resistências internas. Conseguiu a sinalização positiva do presidente da Câmara, que até então vinha reticente sobre a filiação de Bolsonaro e, consequentemente, de todo o seu grupo.
"Essa questão de filiações é feita pelo presidente do partido. Eu sou um filiado como outro qualquer. Não tem problema nenhum. Se for bom para o partido, o presidente Bolsonaro poderá vir. Não tem problema nenhum", disse Lira.
A resistência, porém, segue em diretórios da Bahia, Pernambuco e Paraíba, onde o PP é aliado histórico do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece à frente de Bolsonaro nas intenções de votos nas pesquisas. Ainda há dificuldades que precisam ser superadas em estados importantes. Em São Paulo, por exemplo, o PP está alinhado à candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB), tucano incentivado pelo governador João Doria para concorrer à sucessão. Doria, porém, é um dos principais adversários políticos de Bolsonaro.
Segundo um parlamentar do PP de São Paulo, os parlamentares veem com bons olhos a filiação do presidente da República. Acham que a possibilidade de brigar por uma vaga à Câmara será maior. Há, no entanto, que se rediscutir o posicionamento em relação ao palanque local.
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"Noventa por cento do partido apoia a vinda do presidente Bolsonaro. Nunca houve a resistência em si, o que houve foi o questionamento de alguns estados, que queria amadurecer mais o discurso", minimiza o presidente do PP, o deputado federal André Fufuca (MA). "O presidente Bolsonaro tem até o fim desse ano (para decidir o partido). Não vamos fazer as coisas de afogadilho. As conversas estão avançando com sinalização dos dois lados."
Com a chance nulas de conquistar o comando de diretórios estratégicos e pressionado para buscar um partido que garanta recursos para campanha, Bolsonaro passou a pedir a prioridade na indicação de candidatos ao Senado. O presidente da República quer lançar nomes de visibilidade para formar uma bancada forte no Senado a partir de 2023 no caso de um segundo mandato. Nos planos de Bolsonaro estão do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (São Paulo) e do empresário Luciano Hang (Santa Catarina).
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Atualmente, o Senado tem imposto derrotas ao governo. Aliados do Palácio do Planalto estimam que podem contar com apenas 15 dos 81 parlamentares da Casa, número insuficiente à aprovação de matérias importantes, que necessitam, no mínimo, de maioria simples para passar.
Plano PTB
Apesar das conversas adiantas com o PP, Bolsonaro, durante uma viagem a Campinas na semana passada, admitiu a aliados que a indicação de candidatos a senadores pode definir a ida dele para um partido pequeno. Em conversa recente com a vice-presidente do PTB, Graciela Nienov, ele também falou sobre a prioridade da indicação para nomes ao Senado.
"O presidente não quer muita coisa, ele quer os senadores e vamos trabalhar juntos nessas candidaturas. O PTB está muito preparado para discutir com toda a cautela e trabalhar pra que a gente possa construir um grande partido. Na conversa que eu tive com o presidente, ele não me pediu a direção nacional ou diretórios — disse Graciela, que assumiu o comando da legenda após a prisão do presidente Roberto Jefferson em agosto."
Bolsonaro sempre destacou que queria um partido para “chamar de meu” com receio de repetir o que ocorreu com o PSL, pelo qual se elegeu em 2018 e rompeu um ano depois. No fim de 2019, o presidente e seus filhos lançaram o “Aliança pelo Brasil”, que seria criado para abrir a família e aliados. Diante da dificuldade de viabilização, o projeto foi abandonado e Bolsonaro passou a flertar com diversas siglas, como PL, PTB, PMB e Patriota, e havia estabelecido março deste ano como limite para a definição partidária. O
Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) se filiou em maio ao Patriota para abrir caminho para a entrada do pai no partido. O movimento, porém, acentuou o racha interno da sigla e implodiu os planos do presente.
Na próxima semana, a vice-presidente do PTB espera entregar pessoalmente e junto com uma comissão de parlamentares uma carta reforçando o convite para a filiação de Bolsonaro. A visita também tem o objetivo de demonstrar união do partido após a disputa pública entre Graciela e a ex-deputada federal Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson. Aliados do presidente, que acompanham de perto as negociações, dizem que o racha interno e a prisão de Jefferson por ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) reduzem as chances do PTB.
Graciela, por sua vez, diz que, caso Bolsonaro opte pelo PP, o PTB acolherá bolsonaristas que porventura por questões regionais ou ideológicas não se encaixarem no partido do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Segunda ela, sete deputados bolsonaristas estão conversando com o PTB.
— Queremos o presidente, mas a decisão é dele. Se por acaso ele não vier, seguiremos juntos com ele e estaremos de portas abertas para receber os deputados alinhados — diz Graciela.