Renan Calheiros (MDB-AL)
Divulgação/Agência Senado/Jefferson Rudy
Renan Calheiros (MDB-AL)

O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), pretende incluir a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) em seu parecer final com base em um dossiê que aponta que emissoras de rádio e TV do conglomerado estatal foram usadas pelo governo Jair Bolsonaro para a difusão de fake news e narrativas negacionistas durante a pandemia da Covid-19. De acordo com fontes que acompanham a elaboração do relatório, a EBC deve ser citada em trecho que trata de "desinformação institucional".

O dossiê, preparado por entidades representativas dos trabalhadores e a Frente em Defesa da EBC e da Comunicação pública, ao qual o GLOBO teve acesso, foi entregue aos senadores em agosto. Nas 119 páginas, o texto relata pressão interna para que os jornalistas não publicassem reportagens que contrariassem a opinião do presidente da República.

Segundo o relatório em posse da CPI, a EBC foi impedida de publicar nas redes socais em janeiro a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, a primeira pessoa a receber a imunização com a Coronavac, importada pelo Instituto Butantan e vista como uma iniciativa do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

As mídias sociais da EBC também teriam sido proibidas de publicar assuntos supostamente negativos para a gestão atual. De acordo com os relatos, no ano passado, o termo "segunda onda" chegou a ser banido por um período, quando cientistas já alertavam para a ocorrência de uma nova fase de contaminação, que de fato ocorreu. Por outro lado, houve a orientação para que os noticiários destacassem o "placar da vida", criado pela Secretaria Especial de Comunicação para confrontar o número de mortos com o de pessoas recuperadas.

O material cita ainda censura em diversas situações, como críticas do governador Doria sobre o boicote do governo Bolsonaro à Coronavac e à divulgação de estudo que atestava a falta de eficácia do uso da cloroquina para o tratamento da Covid.

"Censura até das próprias declarações do presidente Jair Bolsonaro, numa lógica de proteger o presidente dele mesmo. Um exemplo foi o 'e daí?' ao se referir aos primeiros 5 mil mortos pela Covid-19", destaca trecho do documento.
O relatório também informa perseguição a profissionais que confrontam a orientação da chefia.

Senadores também receberam imagens de conversas compartilhadas por funcionários da EBC nos quais recebem ordens de superiores pedindo "cuidado" na cobertura da CPI da Covid.

Na área que trata das fake news, a equipe do relator Renan Calheiros também trabalha há meses na identificação e responsabilização de aliados do presidente Jair Bolsonaro que teriam disseminado notícias falsas na pandemia, como o desestímulo ao uso de máscara e o incentivo ao tratamento com medicamentos ineficazes, como a cloroquina.

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