O auditor do Tribunal de Contas da União, Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, afirmou em seu interrogatório que o nome de seu pai foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para um cargo de gerência da Petrobras e que o presidente também encaminhou seu currículo para um cargo no BNDES.
Marques foi suspenso por 45 dias pelo TCU após produzir um relatório paralelo em que contestava o número de mortes por Covid-19 no Brasil em 2020. O documento foi divulgado pelo presidente como se fosse do tribunal. Posteriormente, após o TCU negar que aquele era um material oficial, o presidente voltou atrás.
Questionado no interrogatório, obtido pelo GLOBO, sobre como foi a chegada de seu pai na Petrobras, o auditor afirmou que houve um processo seleitvo mas que a indicação saiu do Presidente da República.
"O meu pai só me informou que ele foi indicado para aquela gerência de Inteligência e Segurança Corporativa... ele, meu pai, desde que saiu do Exército, ele foi para a reserva em 98, ele sempre atuou nessa área de segurança corporativa e inteligência. Ele passou por um processo seletivo interno da Petrobras... de avaliação de currículo, entrevistas com diretores com RH, o que eu sei é isso. Mas a indicação foi feita pelo presidente da República", afirmou.
Segundo Marques, foi seu pai o responsável por enviar o documento paralelo para o presidente.
O pai do auditor, Ricardo Silva Marques, é um coronel reformado do Exército da mesma turma do presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Ricardo Silva Marques se formou na AMAN em 1977, mesmo ano em que o presidente se graduou na academia. Em 2020, Marques foi reformado como coronel do Exército. Um ano antes, em 2019, ele assumiu a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras.
No mesmo ano em que Ricardo Silva Marques ganhou um cargo na Petrobras, o seu filho foi indicado para um cargo em outra estatal. Em 2019, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, ligado aos filhos de Bolsonaro, indicou Alexandre Marques para uma diretoria do banco. O processo só não foi efetivado porque os ministros do TCU barraram a nomeação sob o argumento de que a atuação de Marques na instituição financeira poderia configurar um conflito de interesse, uma vez que o BNDES é um dos órgãos fiscalizados pelo TCU.
Ainda no interrogatório, Marques comenta sobre sua indicação para uma diretoria do BNDES. Segundo ele, durante a transição da presidência do órgão entre Joaquim Levy e Gustavo Montezano, atual presidente, seu pai lhe perguntou se ele tinha interesse na vaga, que foi confirmada pelo auditor.
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Segundo Marques, seu currículo foi encaminhado diretamente pelo presidente Bolsonaro ao novo presidente do BNDES.
"[Em] função dessa minha concordância, digamos assim, ele encaminhou o meu currículo ao presidente da República, como eu falei, ele tem esse contato, por terem sido colegas na Aman, e o presidente da República encaminhou meu currículo ao então recém nomeado presidente do BNDES, Gustavo Montezano", disse no interrogatório.
Em seu depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, Marques afirmou que a sua indicação para o BNDES só não ocorreu porque necessitava da aprovação de um colegiado do TCU, que negou a transferência.
"Existe uma resolução administrativa do tribunal que veda a cessão de servidores do TCU para outros órgãos, excetuados casos excepcionais, que são deliberados pelo colegiado. E, na ocasião, entendeu-se que não seria o caso de haver a minha cessão e não foi deferido", afirmou aos senadores.
No mesmo depoimento na CPI, Marques foi questionado sobre quem teria feito sua indicação para o cargo e respondeu que o presidente do BNDES fez a sua indicação.
"Foi o próprio Presidente. O então recém-nomeado Presidente do BNDES, Gustavo Montezano, que fez essa indicação, a indicação de todos os diretores", afirmou na CPI.