Em um áudio enviado pelo WhatsApp, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda relatou ao seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), ter recebido um documento para a importação de lotes da Covaxin , a vacina indiana, com diversas informações divergentes do contrato fechado com a empresa Precisa Medicamentos . A mensagem foi enviada antes de os dois decidirem levar a questão ao presidente Jair Bolsonaro, durante reunião fechada no Palácio da Alvorada, em março. Ouça o áudio abaixo.
Diferente do contrato, o recibo previa pagamento antecipado de US$ 45 milhões (R$ 222,6 milhões) pela importação da Covaxin; citava entrega de apenas 300 mil doses, e não as 4 milhões previstas para o primeiro embarque; e era endereçado a uma terceira empresa, a Madison Biotech, que não era a fabricante indiana, Bharat Biotech, nem a intermediária da negociação, a Precisa Medicamentos.
Verificando inconsistência com o previsto no contrato para a compra da vacina, o servidor se recusou a assinar o documento e pediu que a empresa refizesse o “invoice” (recibo). Com a assinatura, a empresa poderia cobrar o pagamento 100% adiantado , o que a área técnica considerava indevido.
A ideia de levar a questão ao presidente Jair Bolsonaro partiu do deputado Luis Miranda. O parlamentar fala que, quando o irmão o procurou para tratar das suspeitas sobre a Covaxin, Ricardo relatou que não confiava em ninguém naquele momento e pediu ajuda. Uma das possibilidades estudadas pelo servidor era levar a denúncia à Justiça, mas foi convencido pelo irmão de que o melhor caminho era levar o indício de corrupção ao Presidente.
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No mesmo dia, Luis Miranda enviou mensagens para um auxiliar de Bolsonaro com informações e destacando que o tema era urgente e não poderia ser adiado, do contrário poderia ter consequências para o governo. Os dois foram recebidos e tiraram fotos com o presidente ao final da conversa.
Em entrevista ao GLOBO, Luis Ricardo disse ter denunciado ao presidente as suspeitas envolvendo a Covaxin e apresentado o material que comprovaria que houve um pedido de pagamento fora do contrato para importar três lotes com data próxima do vencimento.
O servidor relatou também uma "pressão anormal" no processo para agilizar o envio da documentação à Anvisa, mesmo estando incompleta, e pedir a importação da vacina Covaxin. A agência reguladora negou o pedido, já que a farmacêutica indiana não tinha cumprido os requisitos necessários para conseguir a emissão de um certificado de boas práticas.
- Ele (Bolsonaro) é o chefe do Poder Executivo e detém conhecimento de todas as situações que estão passando no governo, e ao qual cabe a responsabilidade de verificar todas as inconsistências, às vezes que não chegam até ele - explicou Ricardo ao justificar o que o motivou a levar a denúncia ao presidente da República.