Ex ministro da saúde, Eduardo Pazuello
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
Ex ministro da saúde, Eduardo Pazuello

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, relatou à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) uma queda de 70% nos óbitos por Covid no Brasil por meio do tratamento com drogas ineficazes contra a doença, de acordo com documentos enviados à CPI da Covid pelo Ministério das Relações Exteriores e obtidos pela TV Globo. 

Em reunião com o órgão internacional, ocorrida em 16 de outubro de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello "avaliou que a primeira orientação das autoridades sanitárias no início da pandemia ao redor do mundo, no sentido de que as pessoas ficassem em casa e só procurassem um hospital se estivesse muito doentes, criou uma situação de grave negligência no tratamento de diversas doenças, e teria se mostrado equivocado. Especificamente em relação à Covid-19, apontou que o Brasil conseguiu diminuir em 70% a proporção de óbitos com a adoção de tratamento precoce", afirma o documento do Itamaraty.


 Os documentos não dizem a qual período Pazuello se referiu, não relatam a apresentação de provas pelo então ministro e não informam dados científicos que tenham sido exibidos.

No dia da reunião, o Brasil somava 153.229 óbitos, quase oito mil a mais na comparação com duas semanas antes, quando o país registrava 145.431 mortes, segundo dados do consórcio de veículos da imprensa. Duas semanas depois da reunião, em 30 de outubro, já eram contabilizadas 159,5 mil mortes.

Em 16 de outubro, quando a reunião ocorreu, o Brasil marcava o 5º dia seguido com queda no número de mortes, após 28 dias em estabilidade (variação inferior a 15%). A média móvel diária de mortes registrava queda de 23% na comparação com duas semanas antes. No entanto, não houve nenhuma comprovação de que a queda estaria relacionada a um eventual tratamento.

Estudos científicos já comprovaram que o tratamento por meio do uso de medicamentos como cloroquina e ivermectina não tem eficácia contra a Covid. No entanto, esses remédios seguem sendo defendidos e indicados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. 

Entidades de saúde, nacionais e internacionais, condenam o uso de drogas ineficazes contra a Covid. Por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a cloroquina não deve ser usada como forma de prevenção. Já a Associação Médica Brasileira (AMB) diz que o uso de cloroquina e outros remédios sem eficácia contra Covid deve ser banido e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) diz que a cloroquina não tem efeito e deve ser abandonada.

A CPI também recebeu outro documento em que o Ministério da Saúde informa que foram gastos R$ 23 milhões com campanhas de divulgação do tratamento com drogas ineficazes. 

O Ministério da Saúde afirmou em nota que "Foi realizada uma campanha sobre tratamento imediato para orientar a população a procurar uma unidade de saúde ao sentir os primeiros sintomas da Covid-19", acrescentou a pasta.

Depois, o ministério informou que onde se lê "tratamento imediato", deve-se ler "atendimento imediato".

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