A manifestação em favor do governo com presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste sábado (12), gerou aglomeração de milhares de motociclistas em São Paulo e teve clima de campanha eleitoral. Bolsonaro foi recebido com gritos de "mito" e palavras de ordem contra a imprensa, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB) .
Saindo de São Paulo, o evento teve um bate-volta de moto até Jundiaí, a 60km da capital. A rodovia Bandeirantes foi fechada para a passagem dos manifestantes.
Sem máscara, Bolsonaro fez discurso atacando o isolamento social, enaltecendo a cloroquina (remédio sem comprovação para o combate à covid-19) e posou para foto com os manifestantes. As imagens foram transmitidas ao longo do dia em perfis oficiais do governo nas redes sociais.
Nos últimos meses, Bolsonaro tem feito diversas viagens pelo país em clima de campanha eleitoral, a pouco mais de um ano das eleições presidenciais em 2022.
Algumas foram parte da agenda oficial do presidente, como a participação de culto evangélico no interior de Goiás, em 9 de junho, e o evento em Açailândia, no Maranhão, em 21 de maio, em que também houve aglomeração.
Outros, como ato neste sábado em São Paulo, não fizeram parte da agenda oficial da presidência. Atos semelhantes com motociclistas aconteceram também no Rio de Janeiro e em Brasília, em maio.
Assim como São Paulo, boa parte dos outros Estados escolhidos pelo presidente para visitas nos últimos meses são redutos políticos de seus adversários, como os governadores Flávio Dino (PCdoB-MA) e Camilo Santana (PT-CE).
Para os compromissos oficiais, o presidente tem privilegiado os Estados do nordeste, onde tem 62% de rejeição, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada em 12 de maio. Já os atos extra-oficiais de apoiadores têm acontecido em locais onde Bolsonaro têm muitos eleitores.
A manifestação deste sábado aconteceu duas semanas após a realização simultânea de manifestações em todo o país contra o governo de Jair Bolsonaro.
Defesa da cloroquina
A "motociata" em São Paulo começou pela manhã e terminou pouco depois das 14h, no Obelisco do Parque Ibirapuera, onde o presidente começou a discursar.
O evento ganhou o nome de "Acelera para Cristo" e é promovido nas redes sociais como versão evangélica das "motociatas" em Brasília e Rio de Janeiro, quando não houve viés religioso claro.
Em discurso após o trajeto de moto, Bolsonaro disse comandar um governo "que acredita em Deus" e negou estar em campanha eleitoral.
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O presidente também falou sobre a pandemia, que continua grave no país. Em contraste a discursos feitos no ano passado em que comparava o coronavírus a uma "gripezinha", neste sábado disse que temos "um problema sério do vírus".
Mas voltou a criticar o isolamento social — considerado essencial por autoridades sanitárias — e defendeu tratamentos sem comprovação científica contra a doença, como o uso de cloroquina.
A defesa de Bolsonaro da cloroquina é um dos principais temas da CPI da Covid, que investiga se o governo federal privilegiou o remédio em vez da compra de vacinas.
Multa e embates com Doria
No fim da manhã, o governo de São Paulo informou que o presidente recebeu uma multa de R$ 552,71 por não usar máscara no encontro, que gerou diversos pontos de aglomeração. Em 21 de maio, o governo do Maranhão também havia multado Bolsonaro pelo mesmo motivo.
O filho do presidente Eduardo Bolsonaro e o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes, foram autuados com multas no mesmo valor por também terem dispensado proteção facial no ato em São Paulo.
O governo do Estado tornou obrigatório o uso de máscaras em locais públicos em maio de 2020.
"O documento endereçado às três autoridades pontua a necessidade da manutenção das medidas preventivas já conhecidas e preconizadas pelas autoridades sanitárias internacionais, como uso de máscara e distanciamento", disse o governo paulista, em nota.
Apoiador de Bolsonaro durante a campanha de 2018, Doria se tornou um dos principais rivais políticos do presidente quando os dois começaram a divergir sobre o combate à pandemia.
Além de gritos de "Fora Doria" por parte do público, a manifestação teve também acenos e elogios do presidente à Polícia Militar do Estado, que fazia parte da organização e segurança do evento.
"Estaremos juntos aconteça o que acontecer", disse Bolsonaro aos PMs.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de SP, 6,3 mil policiais, 2,1 mil viaturas, 5 aeronaves e dez drones acompanharam a manifestação, que não teve contagem oficial de participantes divulgada.
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