Militares que ajudaram o presidente Jair Bolsonaro a se eleger em 2018 se articulam para apoiar outro candidato na disputa eleitoral de 2022. Encabeçado por oficiais da reserva, o movimento ganhou força depois que o ex-presidente Lula voltou aos holofotes com a anulação de suas condenações pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin . As informações são do jornal O Globo.
O jornal ouviu sete generais e um coronel da reserva, que defenderam uma terceira via. Seis deles já ocuparam cargos no governo Bolsonaro . "O centro tem uma grande chance agora, porque um grupo se perdeu na corrupção e outro não sabe governar. E para que existe eleição? Para corrigir. Precisamos voltar à normalidade e ao equilíbrio", disse, ao Globo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz , ex-ministro da Secretaria de Governo.
A opinião é parecida com a do general Maynard Santa Rosa, que foi secretário de Assuntos Estratégicos até novembro de 2019. "O retorno do PT seria um retrocesso inaceitável. Por sua vez, o atual governo não conseguiu honrar o próprio discurso e cumprir o que todo mundo esperava", afirmou ao jornal.
Na semana passada, uma mensagem circulou por grupos de WhatsApp de militares. Nela, o general da reserva Paulo Chagas defendeu que "renovar é preciso", que o "Brasil está sem rumo" e que "é hora de cosntruir uma terceira via". Chagas concorreu ao governo do Distrito Federal em 2018, com o apoio de Bolsonaro. "O grupo de decepcionados com a atuação do presidente é significativo", disse ele ao Globo.
De acordo com um dos generais ouvidos pelo jornal, que preferiu não ser identificado, a preferência por uma terceira via também ganha força entre oficiais que estão no comando das tropas. Militares da ativa, porém, são proibidos de expressarem opiniões políticas publicamente.
O desgasta que Bolsonaro tem causado às Forças Armada s tem gerado um forte descontentamento, sobretudo após a forma como Eduardo Pazuello foi tratado pelo presidente durante seu período como ministro da Saúde.
Quem será apoiado pelos militares?
Descontentes com Bolsonaro, os militares entrevistados pelo Globo ainda se identificam com a Lava-Jato e criticam a decisão do STF de declarar Sergio Moro suspeito no julgamento de Lula . Apoiar Moro nas eleições presidenciáveis de 2022, portanto, é uma opção.
"O Moro
é uma das opções, ainda mais num país que precisa de honestidade", disse Santos Cruz
. O militar
, porém, não descarta a própria candidatura. "Ele também poderia ser um bom candidato", afirmou o general Francisco Mamede de Brito Filho, ex secretário de Governo.
Grupo tem força?
Para o cientista político João Roberto Martins Filho, porém, o grupo contra Bolsonaro nas Forças Armadas ainda é minoria. "O Santos Cruz tem que ser acompanhado, já que está se lançando na vida política. E pode ser uma alternativa, se houver rompimento com o Bolsonaro", analisou, em conversa com o Globo.
O PT também deve tentar uma aproximação com as Forças Armadas, já que manteve boas relações com os militares nos governos Lula e Dilma . Para os generais Brito e Santos Cruz, porém, os militares devem resistir a aproximações do partidopor conta dos escândalos de corrupção.