![Flordelis e o marido, pastor Anderson Flordelis e o marido, pastor Anderson](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/cd/3l/ej/cd3lejyjp5nl0au5vaso7r284.jpg)
Eleita deputada federal em 2018, a c antora e pastora Flordelis dos Santos de Souza está com o mandato ameaçado. Alvo de um pedido de afastamento feito pelo Ministério Público estadual do Rio e de um processo disciplinar na Câmara dos Deputados, a parlamentar é acusada de ser a mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo. A vítima foi assassinada em junho de 2019, apenas quatro meses após Flordelis tomar posse como deputada.
O pedido feito pelo MP para que Flordelis seja afastada corre de forma independente ao processo disciplinar na Câmara . Ou seja, ambos não possuem ligação entre eles. Entenda, abaixo, detalhes sobre cada um deles.
Pedido de afastamento pelo Ministério Público estadual
Na terça-feira, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio decidiu, por unanimidade (com votos de três desembargadores), afastar Flordelis do cargo de deputada federal . A decisão foi dada após um recurso do MP estadual. A decisão dos desembargadores é para que Flordelis permaneça afastada do cargo até ir a julgamento por ser mandante da morte do marido. A determinação, no entanto, é para que o afastamento tenha duração máxima de um ano. Ou seja, se até esse período o julgamento não ocorrer, a pastora poderá reassumir o cargo.
Não há previsão para que o julgamento de Flordelis ocorra. No processo criminal respondido pela pastora, já foram ouvidas todas as testemunhas de acusação e de defesa, além dos réus. A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, abriu prazo para que todos os réus no processo - Flordelis, sete filhos e uma neta, além de um policial militar e a esposa - apresentem as chamadas alegações finais. Na peça, os advogados devem apresentar suas razões para que seus clientes não sejam levados a júri popular.
Após a apresentação das alegações finais, a juíza do caso dará uma sentença na qual decidirá quais acusados irão a júri popular pelo crime . Dessa decisão, ainda caberá recurso. Só em seguida, os réus serão levados a júri.
Apesar da determinação da 2ª Câmara Criminal, Flordelis ainda não pode ser afastada. A decisão precisa ser aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Para que a decisão do TJ seja mantida, será necessário ter 257 votos favoráveis.
Ainda não há prazo para que a votação do afastamento de Flordelis ocorra, segundo a assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados. Nessa quarta-feira, a Justiça do Rio notificou a Câmara de Deputados sobre a decisão de afastar Flordelis. Foram enviados ofícios ao deputado federal Arthur Lira, presidente da câmara.
O afastamento de Flordelis à 2ª Câmara Criminal foi pedido pelo MP sob argumento de que a deputada poderia se utilizar do cargo para interferir em seu julgamento. Inicialmente, o pedido foi feito à juíza Nearis dos Santos, no processo criminal respondido por Flordelis. A magistrada negou a solicitação. O MP então recorreu à 2ª Câmara Criminal.
Na Justiça, a defesa de Flordelis ainda poderá recorrer da decisão judicial.
Processo na Câmara pode culminar com perda de mandato
![A deputada é acusada e ter participado da morte de seu marido, pastor Anderson do Carmo A deputada é acusada e ter participado da morte de seu marido, pastor Anderson do Carmo](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/5r/gz/nz/5rgznz4oiqthjmkl1dv29zgbz.jpg)
Paralelo ao pedido judicial para um afastamento provisório, Flordelis enfrenta um processo administrativo na Câmara dos Deputados que pode terminar com a perda definitiva de seu mandato. Nesse caso, ainda há diversas etapas a serem cumpridas e o processo pode demorar até três meses para ser finalizado.
Na última terça-feira, após instauração do processo contra a parlamentar no Conselho de Ética da Casa, foi desginado o relator do procedimento, deputado Alexandre Leite (DEM-SP). O parlamentar terá 10 dias úteis para dar um parecer preliminar no qual recomendará o prosseguimento ou arquivamento do caso.
Caso o Conselho de Ética decida pelo prosseguimento do caso, Flordelis será notificada e terá um prazo de 10 dias úteis para apresentar defesa por escrito. Na etapa seguinte, serão ouvidas testemunhas de defesa e acusação em um prazo máximo de 40 dias úteis.
No fim desse prazo, o relator terá que apresentar um novo parecer sobre o caso, opinando sobre a perda do mandato , que será votado pelo Conselho de Ética. Após essa decisão, o processo será encaminhado para o plenário da Câmara, que fará nova votação.
O processo administrativo contra Flordelis teve como origem uma representação do deputado Leo Motta (PSL-MG), feita em agosto de 2020. Na ocasião, após Flordelis ter virado ré por ser mandante da morte do marido, o parlamentar apresentou uma denúncia contra Flordelis na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados "por atos incompatíveis com o decoro parlamentar".
A denúncia do parlamentar foi encaminada para a corregedoria da Câmara. Após análise, o corregedor, deputado Paulo Bengtson (PTB-PA) deu parecer no qual recomendou à Mesa Diretora da Câmara continuidade do processo disciplinar contra Flordelis. A mesa concordou com o parecer e decidiu enviar a representação ao Conselho de Ètica.
Por causa da pandemia, o conselho não estava funcionando, por isso a representação ficou parada na Mesa Diretora por quase quatro meses. Na última segunda-feira, o Conselho de Ética voltou a funcionar e o processo disciplinar contra Flordelis foi instaurado.
Relembre o crime
![Família Flordelis Família Flordelis](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/e4/xi/zg/e4xizgmmkl8l7ydygc086p5r9.jpg)
O pastor Anderson do Carmo foi morto a tiros na garagem da casa da família, em Pendotiba, Niterói, na madrugada de 16 de junho de 2019. Dias após o crime, dois filhos de Flordelis foram presos e foram acusados de participação no assassinato. Flávio dos Santos Rodrigues - filho biológico apenas da deputada - e Lucas Cézar dos Santos Rodrigues - filho adotivo de Flordelis e Anderson - respondem a processo judicial pelo crime. Flávio, acusado de ter atirado no padastro, e Lucas, acusado de ter ajudado o irmão a comprar a arma do crime.
Após a prisão e indiciamento de Lucas e Flávio , a Polícia Civil do Rio continuou investigando a participação e outras pessoas no crime, incluindo Flordelis. Em agosto do ano passado, a deputada, outros quatro filhos e uma neta foram acusados de envolvimento no assassinato. Flordelis foi apontada como mandante do crime. A polícia ainda descobriu uma tentativa de manipular as investigações com uma carta copiada por Lucas no presídio.
Flordelis é a única acusada de envolvimento no crime que não está presa, em razão de sua imunidade parlamentar. Ela é monitorada por tornozeleira eletrônica.