Em entrevista neste domingo, ex-ministro disse que não houve conflito com o presidente
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Em entrevista neste domingo, ex-ministro disse que não houve conflito com o presidente

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich admitiu, neste domingo (24), que as divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina no tratamento ao coronavírus tiveram peso na sua decisão de deixar o comando da pasta .

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Em entrevista à GloboNews Teich argumentou que temas como o uso ou não do medicamento e isolamento social polarizaram discussões no combate ao vírus no país. Teich deixou o Ministério da Saúde pouco menos de um mês após assumir a pasta. Ele tomou posse em 17 de abril para substituir Luiz Henrique Mandetta , demitido por Bolsonaro após divergências com o governo no protocolo de enfrentamento à epidemia de coronavírus .

"É óbvio que antecipar o uso da cloroquina teve peso. Porque é uma escolha. O presidente achava que era melhor antecipar, e eu achava que não", disse.

Apesar das divergências em relação ao uso do medicamento, Teich afirmou que não se sentiu pressionado e que foi uma saída "confortável", mas que houve um "desalinhamento" com o presidente.

"Não me senti pressionado. Eu tinha que tomar uma decisão. Tem duas posições diferentes, e o presidente foi escolhido. Não houve um alinhamento com o presidente, e é ele quem define. Ele é o chefe da nação, me cololcou ali. Se, por algum motivo, eu não concordo, tenho que sair. A posição dele é essa, ele tem o direito. Desalinhamento não é conflito", afirmou.

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Teich divergia de Bolsonaro em relação à cloroquina porque o presidente é a favor do uso do medicamento antes de existir um estudo que comprove a eficácia do mesmo.

Já Teich queria aguardar um resultado mais claro sobre o remédio. Durante a entrevista, o ex-ministro disse que o uso do medicamento não deveria, por exemplo, ficar a critério dos médicos.

"A nossa ignorância em relação à doença é enorme. Nesse momento, não pode deixar dúvida do que você pensa. Os conselhos tem de rever suas posições, enquanto esperam os estudos que são definitivos. Vai demorar muito pouco", explica.

Questionado sobre uma suposta reunião em que o governo teria sugerido alterar a bula da cloroquina, Teich negou que tenha sido pressionado: "a resposta é não. Eu conversava com o presidente, por mais que eu tivesse problemas com ele. Não tinha como ter pressão, porque eu não ia aceitar".

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Sobre militares em postos de comando no governo Bolsonaro, entre eles o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, Teich disse que é "natural trazer o time dele para o momento de crise".

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"É a coisa mais natural que pode ocorrer. Não podemos julgar porque é militar, tem que ver se é competente, ou não. Mas (Eduardo Pazuello) é o ministro interino, nem ele pretende ficar. O presidente faz as escolhas dele, eu não vou julgar, se não vou estar polarizando, tudo que eu falei para não fazer. Ele tem o comportamento dele. De alguma forma, lá na frente, não sei se na próxima eleição, o povo que vai dizer o que acha dele", apontou.

Isolamento social

Durante a entrevista, Teich preferiu não se posicionar a favor ou contra o isolamento social. No entanto, defendeu um modelo que chamou de "isolamento seletivo".

"Não vai ser uma disputa Teich versus Bolsonaro. O que eu fiz foi uma matriz de risco. Não existe ser a favor de isolamento, ou não. O que precisa é pegar variáveis importantes para medir (o nível de isolamento). O próprio isolamento é tratado de forma meio genérica. Isolamento e remédios têm de ser melhor estudados", afirmou.

Para o ex-ministro, o tipo de isolamento precisa ser definido pelos prefeitos, mas o ideal seria realizar um mapeamento dos possíveis infectados por coronavírus: "você isola as pessoas e os contatos. Para mim, o que está faltando hoje é tratar isso de forma mais individualizada. Isolamento vertical ou horizontal trata de uma forma grande demais, mas para mim o caminho não é nem um, nem outro".

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