A Covid-19 já afetou mais de 5,4 milhões de pessoas em todo o mundo, causando a morte de 346 mil. Como o novo coronavírus foi conhecido há pouco mais de cinco meses, cientistas ainda não tiveram tempo para determinar a duração da imunidade. Afinal, ela é duradoura ou temporária?
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Enquanto essa pergunta tão importante ainda carece de resposta, um novo debate tem ganhado espaço no meio político: os passaportes de imunidade. Em tese, as mais de 2,2 milhões de pessoas que contraíram a doença e já se recuperaram estariam imunes, mas a Organização Mundial de Saúde pede cautela.
Segundo Natalie Kofler, especialista da Universidade de Medicina de Harvard, passaportes de humanidade são uma péssima ideia. Em uma coluna publicada pela revista científica Nature, Kofler afirma que restringir a mobilidade com base na biologia ameaça a liberdade e saúde pública.
Positivos e negativos
Antes de tudo, Kofler afirma que testes de anticorpos ainda não têm eficácia comprovada. Muitas empresas desenvolveram modelos falhos, que identificam as proteínas erradas. Dessa forma, alguns pacientes que não contraíram a Covid-19 podem acabar testando positivo para a doença. Há grande margem de erro.
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“Alguns testes podem fazer pessoas que não tiveram contato com o coronavírus pensarem que estão imunes”, ressalta a especialista. “Da mesma forma, há falsos negativos. Pessoas que tiveram a Covid-19 podem achar que ainda estão vulneráveis ao vírus”.
Quantidade inviável de testes
Segundo a especialista de Harvard, governos teriam que fazer uma quantidade inviável de testes para determinar os passaportes de imunidade. Como exemplo, Kofler cita a Alemanha, onde 84 milhões de pessoas moram. “O governo precisaria de 168 milhões de testes para validar duas vezes os anticorpos da população”, afirma.
Poucas pessoas para retomar a economia
Ainda de acordo com Kofler, há pouquíssimos curados da Covid-19 na comparação com todas as pessoas que ainda podem pegar o vírus. Em todo o mundo, há 2,2 milhões de pessoas que já contraíram o vírus. No Brasil, o número de curados revelado pelo Ministério da Saúde é de 142 mil. Segundo Kofler, é um número irrelevante de pessoas para a economia.
“Com base nos números dos Estados Unidos, por exemplo, apenas 0,43% da população teria o passaporte de imunidade. Essa porcentagem é inconsequente para a economia. Um café não pode reabrir e servir os clientes se apenas uma fração dos funcionários estiver imune”, afirma a especialista.
Injustiça
Com poucos testes de anticorpos disponíveis, apenas uma fração da população será testada. Até o momento, sabe-se que pessoas mais abastadas têm mais facilidade de obter os testes de anticorpos do que os mais vulneráveis.
“No começo de março, quando equipes esportivas, executivos de grandes empresas e celebridades estavam sendo testadas, muitos estados nos EUA faziam menos de 20 testes de anticorpos por dia”, ressalta Kofler.