O presidente Jair Bolsonaro escreveu neste domingo (26) em suas redes sociais que Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública que se demitiu na sexta, mentiu ao acusá-lo de interferência na Polícia Federal.
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Segundo Bolsonaro, nenhum superintendente da PF foi trocado por ele e todos foram indicados pelo próprio Moro ou o diretor geral. Ele aproveitou ainda para cutucar mais uma vez o ex-ministro dizendo que "os bons Policiais estão em todo o Brasil e não apenas em Curitiba, onde trabalhava o então juiz".
O ataque direcionado a Moro foi escrito na legenda de um vídeo compartilhado pelo Bolsonaro em que Susanna Val Moore, presidente do Sindicato dos Policiais Federais de São Paulo, fala sobre a continuidade da autonomia do órgão mesmo com a saída de Moro e Maurício Valeixo , ex-chefe da PF. Não há nenhuma menção ao presidente, mas sim às mudanças na instituição ocorridas na última semana.
Susanna cita o "protagonismo no combate à corrupção" da Polícia Federal nos últimos 20 anos e a estrutura do próprio órgão, que é, apesar de autônomo, submetido ao controle externo do Ministério Público Federal (MPF). Ela conclui, sem mencionar diretamente, que as mudanças não vão dar poder a Bolsonaro em investigações envolvendo seus filhos, por exemplo, já que o órgão tem estrutura consistente, corroborando a narrativa construída pelo presidente de que as investigações seguirão seu curso naturalmente.
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Moro revelou que Bolsonaro buscava trocar direção e superintendências da PF por "pessoas mais próximas", e enviou ao Jornal Nacional prints de conversa com o presidente no WhatsApp em que ele revelava preocupação com investigação que mira bolsonaristas. Bolsonaro chegou a dizer a Moro que este seria "mais um motivo para a troca" no comando da PF.
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Segundo o The Intercept Brasil , o presidente buscava, além disso, proteger seus filhos com alguém próximo comandando a PF. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é investigado por investir e lucrar com o mercado imobiliário da milícia no Rio de Janeiro, enquanto Carlos Bolsonaro é identificado pela PF como um dos articuladores de esquema de fake news .
A tendência é que os indicados pelo presidente para a PF e o Ministério da Justiça sejam, de fato, próximos da família e dos filhos de Bolsonaro.
O substituto de Valeixo deve ser Alexandre Ramagem , atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que foi chefe da segurança do presidente durante sua campanha em 2018 e contou com apoio explícito de Flávio e Eduardo Bolsonaro para chegar ao atual cargo.
Já o substituto de Moro como novo ministro da Justiça tende a ser Jorge Oliveira , hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que é amigo do presidente há mais de 10 anos, trabalhou no gabinete de Eduardo Bolsonaro na Câmara e tem pouca experiência no direito. Oliveira só obteve a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) há pouco mais de seis anos, em 2013, e já foi, inclusive, cogitado a ser o indicado por Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), assim como Moro no passado.