Quatro dias após falas controversas sobre o Nordeste , o presidente Jair Bolsonaro desembarca nesta terça-feira em Vitória da Conquista, na Bahia, para inaugurar o Aeroporto Glauber Rocha, tentando se blindar de protestos e buscando, mesmo em condições adversas, estabelecer uma agenda positiva na região em que tem a pior avaliação. Apenas 25% dos nordestinos consideram o governo ótimo ou bom, segundo a últimapesquisa Datafolha , de 4 e 5 de julho. No Sul, onde tem a maior aprovação, o índice é de 41%.
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Nesta segunda-feira, o governador da Bahia, Rui Costa (PT) cancelou sua ida à inauguração e acusou o governo Bolsonaro
de tornar o evento uma “convenção político-partidária”.
Segundo o colunista Lauro Jardim, inicialmente eram cerca de 200 convidados . O número passou para 300 na última sexta-feira — dia das declarações sobre os governadores do Nordeste — e, ao longo do fim de semana, subiu para 600 . Deste total, apenas cem convites eram para o governo da Bahia . O Planalto não comentou as críticas.
Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde de ontem, o petista disse que convidou o governo federal por “boa educação”, mas “infelizmente confundiram a boa educação com covardia e, desde então, temos presenciado agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia”. Segundo ele, o último repasse do governo federal foi feito na gestão Michel Temer.
Rui Costa criticou ainda a organização do evento. “A medida anunciada é excluir o povo da inauguração, fazer uma inauguração restrita a poucas pessoas, escolhidas a dedo como se fosse uma convenção político-partidária. Não posso concordar com isso”, disse o governador. Há previsão de manifestações contrárias ao presidente em outras cidades do estado e do Nordeste.
Como fez ao longo de todo o fim de semana, Bolsonaro voltou a minimizar nesta segunda-feira suas críticas aos governadores do Nordeste e disse que viajaria à Bahia sem temer protestos.
" Você já reparou que o pessoal fala do Nordeste como se fosse outro país, né? Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul é um país só", respondeu ao ser questionado se não temia uma reação após as declarações da última sexta-feira "Estamos indo sim para a Bahia, inauguração do aeroporto, sem problema nenhum", completou.
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O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, reforçou ainda que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não vê riscos na viagem. Para ele, o presidente será “muitíssimo bem recebido” na cidade da mesma forma como ocorre em outras regiões do país:
"Em qual cidade o presidente chega e não é ovacionado? Em todas. Ele é muito bem recebido pela população e não seria diferente em Vitória da Conquista, onde nós temos um apreço especial pelo senhor prefeito, por aquela população, e entendemos a importância, como dito anteriormente, da inauguração do aeroporto para ajudar na divulgação cultural, histórica e prover melhorias no ambiente econômico e turístico", declarou.
Durante declaração à imprensa, o porta-voz fez elogios à população do Nordeste em mais uma tentativa de superar o episódio em que Bolsonaro foi flagrado em conversa reservada com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , durante café da manhã com jornalistas da imprensa estrangeira.
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No trecho audível do diálogo, o presidente diz que, “ daqueles governadores de ‘paraíba ’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”. Alvo de críticas de nordestinos, incluindo artistas e políticos, Bolsonaro disse mais tarde que se referia apenas a Flávio Dino, governador do Maranhão, e João Azevêdo, da Paraíba.
"O presidente enfatiza que os nordestinos representam a força do povo brasileiro, que supera adversidades de toda ordem, sendo exemplo de gente resiliente e trabalhadora", disse o porta-voz, ressaltando que o Ministério de Desenvolvimento Regional viabilizou no primeiro semestre operações de crédito para o semiárido totalizando R$ 13 bilhões.
O Nordeste foi a única região em que Bolsonaro perdeu no segundo turno, registrando 30,3% dos votos válidos contra 69,7% de Fernando Haddad (PT). Em maio, o presidente determinou uma força-tarefa na região.
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Na época, Bolsonaro
encomendou a cada ministério que apresentasse realizações para os nove estados nordestinos, governados por políticos da oposição. Em busca de aproximação, o presidente queria iniciar uma série de viagens pela região. Em quase sete meses de governo, entretanto, a Bahia é apenas o segundo estado a receber a visita do presidente.