Se as conversas vazadas do ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, envolvessem um parlamentar, o político já estaria preso ou cassado. A dura avaliação foi feita na noite desta segunda-feira (24) pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre(DEM-AP) , durante evento organizado pelo site Poder 360.
Embora tenha feito a ressalva de que é preciso saber se as conversas divulgadas pelo site The Intercept são mesmos verdadeiras, Alcolumbre afirmou que, no caso de um parlamentar, isso nem seria levado em conta, porque o conteúdo "é grave".
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Segundo o presidente do Senado , Moro teria ultrapassado o limite da ética que regula as relações entre um juiz e as partes do processo. Conversas por intermédio de um aplicativo de celular atribuídas ao ex-juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba e o procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol revelaram supostas combinações sobre a condução da operação. Alcolumbre destacou que as pessoas "têm o direito" de conversas, mas "no limite da Constituição".
"Do ponto de vista ético, ultrapassou. Porque o juiz não pode conversar com o procurador. Se aquilo ali for tudo verdade, esse é o problema", disse Alcolumbre.
"Aquela conversa não era para ter sido naquele nível entre o acusador e o julgador. São graves, muito graves. Se isso for verdade, se comprovar que é verdade, vai ter um impacto grande. Não em relação à operação ( Lava-Jato ), ninguém contesta isso nunca, mas em relação a procedimentos. De maneira procedimental, isso não é coisa boa para um julgador. Na política, se fosse com deputado ou senador, tava no Conselho de Ética , tava cassado ou tava preso. E não precisava nem provar se era com hacker, se era legal", ressaltou o senador.
O presidente do Senado disse que não sabe dizer se o conteúdo das conversas pode ser usado para anular os processos da Lava-Jato. Moro contesta a autenticidade dos diálogos e defende não haver infrações nos textos divulgados. Ele atribui os vazamentos a um "ataque orquestrado" contra a operação contra a corrupção.
"Não sei se pode anular, como vai anular uma operação dessas?", questionou Alcolumbre. Ele destacou ainda que não seria o caso de usar o episódio de Moro para abrir uma CPI porque o Congresso deve ter outras prioridades.
"Do mesmo jeito que falei da CPI do Judiciário, falei da CPI do Moro. Não precisa disso, vamos cuidar da reforma. Do jeito que o Brasil não merece CPI do Lava Toga , não merece isso, não vai colaborar com o Brasil. Não é bom para o Brasil mesmo. Isso não vai ajudar na política. Vamos fazer o que tem que fazer para o bem", afirmou.
Decreto das armas
Durante o evento organizado pelo Poder 360, o senador revelou ainda que chegou a propor ao governo alternativas ao texto do decreto das armas na tentativa de evitar que o texto fosse revogado pelos senadores, como acabou ocorrendo . Segundo Alcolumbre, o governo não aceitou alterações no decreto.
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"Eu sou da Amazônia, o cara lá precisa de arma para comer e para defender sua família de uma onça. Sei de lugares que a onça passa no quintal da casa do cara. Então o cara quer ter a posse. Trabalhei e as testemunhas são Flávio Bolsonaro e o Marcos Rogerio. Estava pronto para votar um destaque (ao texto) protegendo atiradores, colecionadores, (garantindo) a posse e não o porte. (Estava) ponto um texto construído com todo mundo. Foram procurar o governo e o governo disse que não queria fazer acordo. Se tivesse votado o destaque, todo mundo votava porque corrigia as distorções", finalizou Alcolumbre .