Novas mensagens reveladas na noite dessa quarta-feira (12) pelo editor do site The Intercept Brasil
, Leandro Demori, em entrevista à rádio BandNews FM
, mencionam suposta "queda de braço" entre o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki e o então juiz da Operação Lava Jato em Curitiba, Sergio Moro.
Em diálogo ocorrido em 22 de abril de 2016, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, relatou a outros procuradores que teve conversa com o ministro Luiz Fux, sugerindo que a força-tarefa poderia "contar com ele para o que precisar". O tom da mensagem, encaminhada também a Sergio Moro, é o de que Fux seria uma saída para eventuais dificuldades com o até então relator dos processos da Lava Jato no Supremo, Teori Zavascki .
"Caros, conversei com o Fux mais uma vez hoje. Reservado, é claro. O min. Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou, e que o tom de resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições. Em especial no novo governo", disse Dallagnol, referindo-se à então iminente ascensão de Michel Temer (MDB) à Presidência em razão do adiantado processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Moro respondeu: "Excelente. In Fux we trust [em Fux nós confiamos]", recebendo de volta uma manifestação de risada de Dallagnol .
Teori Zavascki e a "queda de braço" com Moro
A 'queda de braço' supostamente mencionada por Fux na conversa com o procurador remete a uma bronca que Teori deu em Moro, por despacho, por ocasião da divulgação de conversas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff.
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Durante sessão de julgamento ocorrida no dia 31 de março daquele ano (menos de um mês antes das mensagens de Dallagnol), Teori disse que a atitude de Moro foi "descabida" e cobrou "estrita observância da Constituição Federal".
Moro respondeu a Teori por carta, reconhecendo que cometeu equívoco ao divulgar a conversa entre os petistas , mas assegurando que "não teve por objetivo gerar fato político-partidário".
O episódio levou Teori a retirar das mãos do juiz de Curitiba e levar para a jurisdição do Supremo o processo referente ao sítio de Atibaia (SP) que recebeu reformas consideradas vantagem indevida ao ex-presidente Lula. A decisão levou o ministro do STF e sua família a receberem ameaças por parte de simpatizantes de Sergio Moro
– que, mais tarde, recuperou a competência para julgar aquela ação penal.
Meses mais tarde, em junho de 2016, Teori voltou a contrariar os interesses da Lava Jato e do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao decidir enviar para Brasília, e não para Curitiba, a denúncia contra Lula , o pecuarista José Carlos Bumlai e o banqueiro André Esteves por suposta tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Nomeado para o STF em 2012 por Dilma Rousseff, Teori era conhecido por seu perfil discreto e estritamente técnico. Foi dele decisões capitais para o prosseguimento da Lava Jato, como a que determinou a abertura de inquéritos para investigar 47 políticos da chamada 'lista de Janot' e também a que fatiou o principal inquérito da operação em quatro : um para o PT, outro para o PP, e outros dois para o MDB na Câmara e no Senado.
Teori Zavascki morreu em 19 de janeiro de 2017, quando o avião no qual viajava o relator da Lava Jato caiu no mar em Paraty, no sul do Rio de Janeiro. À época do acidente, muitos internautas e até o filho do ministro levantaram teorias de que a tragédia poderia ter sido consequência de sabotagem. A investigação sobre o caso, no entanto, descartou "materialidade delitiva" que indicasse possibilidade de sabotagem, apontando como possível causa do acidente a desorientação espacial do piloto provocada pelo mau tempo. O caso foi arquivado.