O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega voltou a negar, nesta quarta-feira, que tenha recebido propina e interferido em decisões do BNDES que liberaram empréstimos para a JBS. Mantega afirmou que o empresário Joesley Batista , que fez as acusações em delação premiada, mentiu sobre o tema.
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O ex-ministro afirmou que as operações entre o banco e a empresa foram baseadas em critérios técnicos e ressaltou que a JBS chegou a ter pleitos negados junto ao BNDES durante os governos do PT. Como contrapartida aos financiamentos, Joesley disse que depositou US$ 150 milhões em contas no exterior, sob a orientação de Mantega , para financiar despesas e campanhas eleitorais dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI ) que investiga possíveis irregularidades no banco de fomento, o ex-ministro rebateu a versão apresentada pelo empresário à Procuradoria-Geral da República (PGR). Para Mantega, Joesley “inventou diálogos e situações” para conferir “veracidade à delação”.
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"O que o Joesley está dizendo é mentira. Isso não ocorreu. E é fácil verificar as contradições em que ele mesmo se enreda. Ele nunca me passou nenhum tostão", disse Mantega.
As contas no exterior citadas por Joesley também foram lembradas pelo ex-ministro Antonio Palocci, em depoimento em Brasília ao Ministério Público Federal (MPF), como revelou O GLOBO em fevereiro . Mantega disse que o empresário “inventou a história da conta” e colocou em dúvida o depoimento de Palocci, que será ouvido pelos parlamentares na semana que vem.
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"Agora você (deputado) vai me indispor com metade... Não sei se o ministro (Palocci) falou. O dia que eu tomar conhecimento disso, eu me manifesto. O que sei é que as delações do Palocci não eram aceitas na 13a região (vara), em Curitiba. Falava um monte de coisa e foi desqualificado, não aceitavam a delação. O que podemos deduzir disso? Qual a força, a fidedignidade da palavra do Palocci?", afirmou Mantega, em referência ao fato de Palocci ter fechado o acordo de delação com a Polícia Federal, não com o Ministério Público.
O empresário narra que o contato com Mantega, em um primeiro momento, era feito por meio do empresário Victor Sandri. Depois, em 2009, Joesley teria estabelecido uma relação direta com o então ministro. No depoimento, Mantega afirmou que foi ao casamento do sócio da JBS, a um aniversário na casa dele, mas afirmou que negou diversos convites feitos para passar finais de semana em propriedades do empresário e disse que não havia intimidade entre eles.
"As operações que foram feitas beneficiaram sempre o BNDES. Sempre houve participação dura do banco, exigindo multas e garantias".
Antes de comparecer à comissão, Mantega obteve uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu a ele o direito de depor como investigado, não como testemunha, ou seja, de não assinar um termo em que se comprometeria a dizer a verdade. O ex-ministro alegou que já foi denunciado pelo MPF por supostos prejuízos ao BNDES, por isso não poderia prestar esclarecimentos na condição de testemunha. Mantega também tinha o direito de ficar em silêncio, mas optou por responder as perguntas.