O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema de lavagem de dinheiro da Frangos Rica
Valter Campanato Arquivo/Agência Brasil
O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema de lavagem de dinheiro da Frangos Rica

O empresário Frederico Igayara acusa o irmão, Luiz Alexandre, presidente da Frangos Rica, de ter omitido na colaboração premiada à Lava-Jato que a empresa quitou em 2016 uma dívida de R$ 24 milhões com o governo do estado com um terreno na Baixada Fluminense, comprado pelos sócios três anos antes por R$ 1,2 milhão. A denúncia fará parte de um dossiê que Frederico levará aos Ministérios Públicos Federal e Estadual para sustentar o pedido de anulação da delação. Ele quer destituir o irmão do comando da empresa, acusado de lavar a propina do ex-governador Sérgio Cabral.

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Frederico gravou uma reunião na empresa, em junho de 2016, na qual Luiz Alexandre revelou detalhes do empréstimo. “Ganhamos na loteria esportiva com isso aí”, vangloriou-se o presidente do frigorífico, referindo-se a um empréstimo de R$ 20 milhões, concedido pela Agência de Fomento do Estado do Rio (AgeRio), em novembro de 2014, pela linha de crédito AgeRio Giro Produtivo. O financiamento deveria ser quitado em três anos, mas após um ano de carência a empresa suspendeu o pagamento.

Para obter o empréstimo, Luiz Alexandre diz na gravação que usou de influência junto a Cabral e a Júlio Bueno, então secretário de Indústria e Comércio do governo de Luiz Fernando Pezão: “Pedi esse empréstimo ao Júlio Bueno, que conheço há 15 anos. Entrei na sala dele e disse: ‘Preciso de dinheiro. Tô precisando. Aí que começou o negócio. Isso foi em maio de 2014. E saiu no finalzinho do ano. Conclusão: a melhor saída foi dar a terra em pagamento”.

Quando parou de pagar, a Rica recebeu uma carta da AgeRio alertando que a dívida havia subido para R$ 24 milhões. Na gravação, Luiz Alexandre insinua que o terreno oferecido em garantia e incorporado pela AgeRio em 2016 — de 339 mil m² entre Queimados e Japeri — não valia na época 20% do total do financiamento: “A gente compra uma área como daquela lá hoje por R$ 3 ou R$ 4 milhões.”

A AgeRio informou que, com a suspensão do pagamento pela Frangos Rica, a agência “consolidou a propriedade fiduciária do imóvel localizado na Baixada Fluminense, cujo valor de avaliação era superior à dívida”.

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Alexandre Igayara negou favorecimento para conseguir o empréstimo para a Rica. Segundo ele, o recurso foi disponibilizado pela AgeRio “levando em consideração condições técnicas”. Embora na gravação ele afirme que conhecia Júlio Bueno há 15 anos, ao Globo ele negou:

"O Júlio Bueno? Ah! Sim. Ele era secretário na época, se não me engano, não é isso? Não sou amigo dele. Eu o conhecia como secretário e o procurei porque ele ocupava essa função. Como ele era secretário podia ajudar em alguma coisa porque é interesse do estado o desenvolvimento econômico", diz.

Júlio Bueno reconheceu ter recebido Alexandre, mas negou qualquer favorecimento.

No dossiê que Frederico levará aos Ministérios Públicos Federal e Estadual para sustentar o pedido de anulação da delação, consta um áudio em que Alexandre Igayara comenta o que chamou de "assinatura do contrato DXA". Ele destaca que estava difícil renovar a licença ambiental e havia uma ação proposta pelo MP do Meio Ambiente que poderia levar ao fechamento da empresa.

"Isso foi uma guerra. Esse caso estava na mão de um juiz chamado Jessé, na primeira instância. A gente conseguiu através de um lobby fazer com que não fechasse a empresa naquela oportunidade. Foi mais ou menos em 2001 ou 2002", contou Igayara.

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"E através do prefeito que era o José Sagari Filho (1997-2004) [...] E aí através do Sergio Cabral , que conversou com o Sagari, a gente arrumou um espaço. Eu fui lá e conversei com o secretário de Meio Ambiente. Ele inventou um projeto de fazer adubação para plantio de coqueiro com pena e víscera. Olha só (risos). A gente doou para a prefeitura uma kombi nova, zero. Que foi uma contrapartida. E a gente começou a enterrar lá".

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