Em reunião na manhã desta quinta-feira (16), líderes de partidos do centrão se opuseram à ideia de votar Medidas Provisórias (MPs) urgentes para o governo na semana que vem. Entre elas, está a MP 870, que enxugou o números de ministérios. Se a proposta não for votada até 3 de junho, serão recriados os 29 ministérios do governo Michel Temer, risco já considerado real pelos líderes de governo e pelo próprio presidente da República.
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Questionado pelo GLOBO sobre a possibilidade de votar alguma MP na próxima semana, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, respondeu apenas "acredito que sim". Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, porém, líderes do centrão ainda resistem a tocar a pauta do governo. Com a ajuda da oposição, o grupo pode impor o atraso das MPs pelo aumento do número de ministérios , já que, juntos, controlam ao menos 300 deputados.
O atraso na votação da MP é consequência de um desencontro, na semana passada, das estratégias do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Enquanto o segundo fez um acordo com líderes do centrão e com Rodrigo Maia para votar a MP na quinta-feira passada, o primeiro capitaneou, na bancada do PSL, uma movimentação para impedir a votação. Ele defendeu que a votação apressada da medida, que tiraria o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) do Ministério da Justiça, pareceria uma derrota do governo.
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"Naquele momento, eu não entendi qual era a posição do governo. Há, hoje, uma confusão sobre quem fala pelo governo no Congresso ", diz Coronel Tadeu (PSL-SP).
Os gestos contraditórios da equipe do presidente da República ficaram claros para a bancada quando, no mesmo dia, Bolsonaro recebeu os deputados do PSL à noite e afirmou que, na realidade, concordava com a posição de Vitor Hugo de obstruir a votação, ou seja, a estratégia oposta à que Onyx havia defendido no início da tarde como sendo do governo.
Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, está afinada com o ministro da Casa Civil e critica abertamente Vitor Hugo por ser inflexível em relação às demandas do centrão. Por outro lado, deputados do PSL acreditam que ela atropela o trabalho de Vitor Hugo, já que deveria cuidar apenas de pautas do Congresso Nacional. Ela se tornou líder com apoio de Maia e Onyx justamente para vencer a resistência que o nome de Vitor Hugo sofreu no início do mandato, visto como inexperiente e inábil politicamente.
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Em paralelo à negociação de Joice e Onyx, a bancada do PSL decidiu insistir em manter o Coaf com Moro a qualquer custo. Isso significa, porém, um embate com o centrão, liderado por PR, PP, DEM, PSD, PRB, que promete ser desgastante. Carlos Bolsonaro, filho do presidente, e Vitor Hugo têm ido às redes sociais para denunciar o grupo, acusando-os de estarem alinhados à "velha política", identificada com corrupção e interesse por cargos.
Ante a possibilidade de saírem queimados do embate com Moro, esses partidos poderiam embarcar em uma retaliação ainda maior, como desfigurar o governo. Enquanto isso, Vitor Hugo e deputados do PSL defendem que, se a MP perder a validade, o ônus é do Parlamento.
Nesta semana, com a ausência de Rodrigo Maia (DEM-RJ), a presidência da Câmara ficou nas mãos de Marcos Pereira (SP), presidente do PRB. Arthur Lira (AL), líder do PP, e Elmar Nascimento (BA), do DEM, recusaram um encontro com Jair Bolsonaro na terça-feira, convocado por Vitor Hugo. Ele decidiu chamar, no lugar deles, líderes de partidos nanicos.
Na reunião, porém, Bolsonaro garantiu, segundo os presentes, que iria suspender o contingenciamento nos recursos da educação. Os deputados, inclusive Vitor Hugo e Delegado Waldir (GO), líder do PSL, saíram de lá compartilhando a notícia com aliados, para depois serem desmentidos pelo próprio governo.
Enquanto isso, era votada a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para explicar o contingenciamento no plenário da Câmara dos Deputados no dia seguinte. A votação seria simbólica, mas deputados do PSL pediram para contar os votos, o que gerou ainda mais desgaste, já que o placar foi de 307 a 82.
"Eu pedi verificação. Foi bom até para o governo ver como estão as coisas aqui", diz Filipe Barros (PSL-PR).
A sabatina foi mais morna do que se imaginava, embora o ministro tenha batido boca com parlamentares de oposição. Mas o governo continuava a apanhar de todos os lados. A poucos metros do ministro, o líder do PSL, Delegado Waldir, defendeu a convocação de Onyx Lorenzoni para prestar esclarecimentos sobre a confusa reunião de terça-feira com líderes de partidos pequenos, já que ele mesmo havia sido desmentido pela Casa Civil. Enquanto os embates continuam, há apenas duas semanas para votar a MP 870 na Câmara e no Senado que pode aumentar o número de ministérios .