Santos Cruz teria argumentado que não se tratava de um ato espontâneo, mas que era alvo de uma ação coordenada
Rovena Rosa/Agência Brasil
Santos Cruz teria argumentado que não se tratava de um ato espontâneo, mas que era alvo de uma ação coordenada

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, passou cerca de uma hora na noite deste domingo(5) reunido com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Segundo interlocutores, o ministro tomou a iniciativa de ir ao Palácio seexplicar ao presidente após passar o dia sob ataques nas redes sociais . A hashtag #ForaSantosCruz se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter ao longo do dia.

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Na conversa com Bolsonaro, o ministro Santos Cruz teria argumentado que não se tratava de um ato espontâneo, mas era alvo de uma ação coordenada, com a participação dos filhos do presidente, o chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten, e assessores ligados ao ideólogo de direita, Olavo de Carvalho.

De acordo com um auxiliar do presidente, Jair Bolsonaro reagiu e afirmou que o ministro estaria desviando do “foco central” da divergência, que seria o controle das redes sociais. O presidente teria se irritado com o fato do ministro não admitir que estava errado, quando defendeu na rádio Jovem Pan em abril, uma legislação para as mídias sociais. A entrevista, concedida há um mês, passou a circular neste domingo.

"Isso tem de ser feito. Mas tem de usar com muito cuidado, para evitar distorções, e que vire arma nas mãos dos grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra. Tem de ser disciplinado, até a legislação tem de ser aprimorada, e as pessoas de bom senso têm de atuar mais para chamar as pessoas à consciência de que a gente precisa dialogar mais, e não brigar",  disse Santos Cruz, na ocasião.

Apesar da conversa ter sido considerada “dura”, Santos Cruz segue no cargo. Nesta segunda-feira (6), Santos Cruz viaja a São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, em uma agenda da Secretaria Especial de Articulação Social, onde vai acompanhar trabalhos de atendimento de saúde à população indígena na fronteira.

O presidente Jair Bolsonaro reafirmou neste domingo (5), em sua conta no Twitter, o compromisso de não regulamentar a mídia e de defender a democracia.
“Em meu governo a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coréia do Norte ou Cuba”, escreveu o presidente.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que não pretendia colocar em prática qualquer tipo de regulação dos meios de comunicação. Em outubro do ano passado, após o primeiro turno, ele declarou: “A mídia tem que ser livre. Imprensa livre é sinal de democracia e liberdade”.

Na noite de sábado (4), o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, tinha usado o Twitter para questionar os critérios de redes sociais como o Facebook para banir perfis por compartilhar notícia falsas e discurso de ódio:

“Tradicionais veículos de comunicação que a todo momento espalham fake news não são banidos das redes. Mas perfis de pessoas comuns, conservadores/de direita, a todo momento sofrem perseguição quando se é notório que não espalham fake news e sim usam sua liberdade de expressão?!”, questionou, acrescentando:

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“Comumente perfis de direita são banidos de redes sociais. A desculpa é sempre a mesma: espalhar fake news ou discurso de ódio. Igualmente frequente é a clareza com que são desculpas esfarrapadas usadas para punir os banidos que têm discurso contra a esquerda”.

Após a postagem de Jair Bolsonaro, Eduardo voltou a se manifestar hoje no Twitter, em defesa da liberdade de expressão:

“O que não queremos para nós também não podemos desejar para os outros. Mesmo ao falar de uma fake news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet ou da imprensa. A melhor pessoa para fazer esse filtro é você. Assim também fizeram Chávez e Maduro na Venezuela. Resultado: diversas imprensas foram fechadas ou saíram do país (sic). Toda ditadura controla os meios de comunicação sob o pretexto de ‘melhorá-los’, ‘democratizá-los’ ou de barrar fake news e crimes de ódio”.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, também respondeu à declaração do presidente:

“No ponto, bom lembrar que não fosse a vitória eleitoral do Pr Jair Bolsonaro, estaríamos hoje sob ‘controle social’ da mídia e do Judiciário e que estava expresso no programa da oposição ‘democrática’. Aliás, @jairbolsonaro reafirmou hoje o compromisso com a liberdade da palavra”, escreveu o ministro no Twitter.

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Moro ponderou, no entanto, que a liberdade de expressão não é livre conduto para ameaças:

“Claro, tal liberdade não abrange ameaças . Não significa também que concordo com excessos ou ofensas a quem quer que seja, mas apenas que, para essas, não acredito que o remédio seja a censura. A resposta às críticas injustas da imprensa ou das redes sociais não pode jamais ser a censura ou o controle da palavra. Deve ser o aprofundamento do debate, o livre intercâmbio da idéias. O esclarecimento e não o silêncio. Sou daqueles que ainda acreditam na liberdade de expressão e na de imprensa”.

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