Força-tarefa da Lava Jato fez acordo com Petrobras para gerir recursos de multa que ficariam no Brasil
Marcelo Camargo/ABr
Força-tarefa da Lava Jato fez acordo com Petrobras para gerir recursos de multa que ficariam no Brasil

Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) defendeu a atuação de procuradores da força-tarefa da Lava Jato, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o acordo firmado pelos procuradores e a Petrobras, que prevê criação de um fundo de R$ 2,5 bilhões. Para a ANPR, houve "excesso" da PGR na ação.

"Por sua atuação irrepreensível e pelos altos serviços prestados ao país, é reprovável qualquer tentativa de enfraquecimento institucional da Força-Tarefa [da Lava Jato] e do Ministério Público Brasileiro", afirmou a entidade na nota, assinada pela diretoria da ANPR.

Ao apontar “excessos” da PGR, a ANPR explica que a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) foi apresentada por Dodge cerca de duas horas depois dos próprios integrantes da força-tarefa anunciarem a desistência de parte do acordo que previa a criação de uma fundação para gerar o fundo.

"A ADPF apresentada pela PGR nasce prejudicada e se configura desnecessária tanto do ponto de vista jurídico quanto institucional", diz a nota.

A diretoria da ANPR afirma que se criou um "impasse" sobre o destino dos recursos e isso pode significar a "devolução dos recursos". Segundo o texto, a União não é "destinatário legítimo da multa que lhe foi imposta".

"Afirmar ainda que os valores deveriam ser destinados à União ou a Petrobras é equivocado. Afinal, como aponta o acordo com a SEC, a Petrobras foi considerada responsável por falhar em detectar e expor os esquemas de corrupção e por prestar informações falsas aos órgãos americanos", diz a associação. 

O órgão lembra que os valores seriam aplicados, principalmente, na prevenção da corrupção, em cidadania, em saúde e em educação. O texto critica o procedimento adotado pela procuradora-geral, Raquel Dodge, a ADPF. "Não é normal nem ordinário uma matéria de primeira instância do Ministério Público ser levada ao STF pela Procuradora-Geral da República", disse.

Para a associação, a ação é um "precedente negativo que qualquer Termo de Ajustamento de Conduta ou Acordo Judicial possa ser centralizado pela PGR, levado diretamente ao STF, violando a independência funcional e ignorando o rito jurídico ordinário".

"A argumentação genérica utilizada pela PGR acerca dos atos sujeitos à ADPF permitiria que qualquer ato do Ministério Público, em qualquer grau de jurisdição, ou quem sabe, do Presidente da República, ou do Congresso Nacional, de Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores fosse passível de controle por esse instrumento", diz a nota da ANPR.

ANPR também defende os propósitos do acordo firmado entre a força-tarefa da Lava Jato e a Petrobras e negou que procuradores iriam administrar o fundo bilionário. "Não seriam os membros da força-tarefa que iriam gerir os recursos, já que a fundação tem personalidade própria. O fato do acordo prever a possibilidade de integrantes do MPF terem uma vaga no conselho curador, por óbvio, não basta a igualá-los à condição de gestor dos recursos, ao contrário do afirmado pela PGR", disse.

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