O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas eleições presidenciais deste ano, distribuiu críticas ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ao seu futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, e ao Partido dos Trabalhadores (PT) e sua militância.
Em entrevista televisionada na noite dessa sexta-feira (8) pela Globonews , Ciro Gomes se disse "muito apreensivo" com o novo governo, mas garantiu que "deseja boa sorte" para Bolsonaro. "Ele é o piloto de um avião onde estamos todos nós dentro. Ele precisa acertar. O Brasil está muito machucado", afirmou o pedetista, que destacou o papel dos futuros ministros general Heleno (GSI) e Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).
Apesar de torcer pelo sucesso do presidente eleito, Ciro disse que Bolsonaro é um "ponto de interrogação" e que, "para governar, é melhor ele ficar calado". "A nossa geração se acostumou a ver a democracia evoluir sempre. E, desta feita, aparentemente, o Brasil resolveu dar um gigantesco passo para trás, na direção de um grande ponto de interrogação."
O pedetista atacou por diversas vezes Paulo Guedes
, futuro 'superministro' da Economia e integrante da equipe do governo de transição. Segundo Ciro, a dobradinha Bolsonaro-Guedes "abriu três gravíssimos conflitos potenciais por nada", citando declarações da dupla sobre a China e o Mercosul, e também o plano de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv
para Jerusalém.
"Nós escolhemos uma pessoa que nunca administrou nenhum pequeno negócio particular. [...] Você veja o Paulo Guedes, por exemplo, nunca teve nenhuma vivência no serviço público. Em nove dias, ele deu declarações absolutamente ociosas, desnecessárias", afirmou.
Sua ronda de ataques ao guru econômico do novo governo, no entanto, incluiu até mesmo uma fake news, que motivou piadas na internet. "Quem está dizendo bobagem a três por quatro é o Paulo Guedes. Posso repetir aqui uma coisa escatológica? O jornalista perguntou para ele quais as empresas prioritárias para privatização. Ele disse: 'São aquelas envolvidas no 'C' - 'U' dos curiososo", declarou Ciro, reproduzindo informação falsa produzida por uma página de sátiras humorísticas na internet.
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Ciro afirmou também que "não é possível mais" apoiar o PT
e criticou os militantes do partido que o acusaram de se omitir ao não apoiar abertamente o candidato Fernando Haddad no segundo turno contra Bolsonaro. "Quem agride falando de omissão é o petista que não percebeu, não quis perceber. É que nem o bolsominion: fanático, relativiza tudo e tal", disse o pedetista, acrescentando críticas ao próprio Haddad.
"O Haddad não é advogado do Lula. Todo mundo sabe que ele não é. E ele usa uma franquia da lei, ou seja, frauda a lei para estar toda segunda-feira consultando [o Lula]. Que tipo de presidente sairia de uma dinâmica como essa?", questionou.
"Eu não quero mais fazer campanha com o PT. O PT tem feito um mal muito grande para o Brasil. Estamos subordinando o interesse nacional, a história do Brasil, o destino do nosso povo a um conjunto de fraudes, a um conjunto de escolhas absolutamente assustadoras", disse ainda, citando nesse ról de "escolhas assustadoras" a eleição de Dilma Rousseff, considerada por ele um "absoluto equívoco".
Passadas as eleições, Ciro agora organiza uma frente parlamentar de centro-esquerda com nomes de partidos como Rede, PSB, PSDB e DEM para atuar como uma oposição "vigilante" ao governo.
"A democracia brasileira até aqui está intocada. Nossa tarefa será organizar um movimento que garanta a saúde da institucionalidade democrática contra qualquer tipo de avanço. A segunda [tarefa] é a questão da proteção do interesse nacional e o terceiro é a proteção dos interesses dos mais pobres no Brasil".
"Eu tenho uma atitude diferente que a de uma certa oposição que nós nos acostumamos. Se eu pedi ao povo a honra de servir ao Brasil como seu presidente e o povo elegeu outro, o que me cabe é aplaudir, é reconhecer e desejar boa sorte."
Questionado sobre seus planos para 2022, Ciro Gomes não confirmou e nem negou que pretende ser candidato à Presidência pela quarta vez. "O que eu posso prometer é que eu vou seguir lutando com a mesma energia. Estamos armados e eu vou tentar desarmar isso. A minha tarefa mais importante vai ser mexer com a juventude", disse.