Tão logo Jair Bolsonaro foi confirmado como novo presidente eleito do Brasil, uma deputada estadual eleita por Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, fez um post nas suas redes sociais pedindo para estudantes gravarem e enviarem vídeos com denúncias de professores que criticarem Bolsonaro em sala de aula.
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Pela proposta da deputada eleita, os alunos deveriam enviar as denúncias de professores através de um canal informal criado pela própria futura parlamentar: um número de celular que ela mesma disponibilizou. Os estudantes deveriam enviar vídeos e informações como o nome do docente, da escola e da cidade.
A intenção seria fiscalizar professores em sala de aula a partir desta segunda-feira (29) quando, segundo ela, "muitos professores doutrinadores estarão inconformados e revoltados" e, logo, "farão da sala de aula uma audiência cativa para suas queixas político-partidárias em virtude da vitória do Presidente Bolsonaro".
A nota divulgada por Ana Caroline Campagnolo , do PSL, mesmo partido de Bolsonaro, também afirma que vai "garantir o anonimato dos denunciantes" e conta com a assinatura do movimento "escola sem partido".
Muito antes de fazer o post pedindo a denúncia de professores, Ana Caroline Campagnolo já tinha um histórico de polêmicas com a área da educação.
Historiadora de formação, a deputada estadual eleita processou a professora Marlene de Fáveri, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e sua ex-orientadora de mestrado, em 2016, por suposta "perseguição ideológica".
O caso, no entanto, foi julgado improcedente em setembro deste ano pelo 1º Juizado Especial Cível de Chapecó (SC) quando o juiz André Alexandre Happke entendeu que faltavam provas para a ação da deputada que pedia indenização de R$ 17,6 mil por danos morais.
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Na ocasião, o magistrado justificou na decisão que "não vislumbro que as atitudes da ré tenham maculado os direitos de personalidade da autora. Do mesmo modo, as alegadas perseguição religiosa, política ou ideológica são inconsistentes e carecem de prova".
Happke considerou que a discussão entre mestranda e professora em sala de aula não extrapolou os limites aceitáveis. Além disso, a gravação de áudio feita pela orientanda não foi capaz de revelar o contexto em que tais manifestações estavam inseridas. Destacou ainda que não foram arroladas testemunhas que presenciaram os fatos e que não viu ilicitude na troca de orientador, solicitada por Marlene.
O magistrado acrescenta, na sentença, que "quando a autora compartilhou em modo público na rede mundial de computadores mídias em que se contrapôs às concepções ideológicas defendidas pela orientadora e pelo programa de ensino da linha de pesquisa ao qual era vinculada, sabedora que era do posicionamento do corpo discente e docente da universidade, ela assumiu o risco de ser chamada ao debate".
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Independente do caso que, novamente, foi utilizado para marcar as discussões do movimento Escola Sem Partido, a deputada estadual eleita, Ana Caroline Campagnolo, que agora pede a denúncia de professores e que já postou fotos na rede apontando um revólver, segurando uma espingarda e um taco de beisebol com a inscrição "direitos humanos" continuou o mestrado, mas acabou sendo reprovada pela banca examinadora.