O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento por cerca de duas horas e quinze minutos na tarde desta quarta-feira (13) ao juiz Sérgio Moro, na sede da Justiça Federal em Curitiba. O interrogatório que começou por volta das 14h15 e foi encerrado às 16h30 se deu no âmbito de ação penal que apura se a compra de um terreno supostamente destinado à instalação da sede do Instituto Lula em São Paulo e de um apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foram contrapartidas oferecidas pela Odebrecht em troca de vantagens em negócios com o governo federal.
Essa foi a segunda audiência de Lula frente a frente com o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba. O primeiro interrogatório ocorreu quatro meses atrás , no dia 10 de maio, quando o petista passou quase cinco horas respondendo sobre a compra e reforma pela OAS de um tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo. O ex-presidente acabou condenado a 9 anos e 6 meses de prisão nesse processo – sentença que foi contestada pela defesa no início desta semana no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Um forte esquema de segurança foi organizado para evitar confrontos entre apoiadores e manifestantes contrários ao líder petista, que se concentram nos arredores do local do depoimento – onde Lula chegou por volta das 13h50.
O ex-presidente é acusado nessa ação penal de ter cometido crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro nos episódios envolvendo a compra do terreno na Vila Clementino, na zona sul da capital paulista, e de um apartamento em frente ao imóvel onde ele próprio mora, em São Bernardo do Campo. A força-tarefa de procuradores da Lava Jato
acredita que foram pagos R$ 12,4 milhões em vantagens indevidas ao petista.
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Palocci é o novo Renato Duque
Além das acusações contidas na denúncia entregue pelo Ministério Público Federal, Lula também precisou se explicar a respeito das revelações feitas pelo ex-ministro de seu governo Antonio Palocci
, que também é réu nessa ação penal da Lava Jato (assim como Marcelo Odebrecht e outras cinco pessoas).
O ex-chefe da Fazenda nos governos Lula e Dilma relatou em depoimento prestado na última quarta-feira (6) que houve um "pacto de sangue" entre o Partido dos Trabalhadores e a Odebrecht
. Esse "pacto" envolvia, nas palavras de Palocci, "um presente pessoal, que era um sítio, um prédio de um museu pago pela empresa, palestras pagas a R$ 200 mil" e uma "reserva de R$ 300 milhões que foram sendo disponibilizados com a planilha entregue pela empreiteira".
Preso desde setembro do ano passado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Antonio Palocci é acusado de ter atuado de maneira "intensa e reiterada" na "defesa de interesses da Odebrecht na administração pública federal envolvendo contratos com a Petrobras".
Em nota, a defesa de Lula classificou as acusações de Palocci como "contraditórias" e reafirmou que o petista "jamais cometeu qualquer ilícito nem antes, nem durante, nem depois de exercer dois mandatos de presidente da República".
O cenário de agora é semelhante ao da véspera da primeira audiência do ex-presidente com o juiz Sérgio Moro
. Naquela ocasião, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque resolveu disparar contra Lula
dias antes do depoimento do ex-presidente sobre o caso tríplex. Assim como Palocci, Duque se encontrava preso há tempos, mas só decidiu implicar o petista pouco antes do encontro de Lula com o juiz da Lava Jato.
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Disputas começaram meses antes do depoimento
O interrogatório desta tarde estava marcado desde julho
e, de lá para cá, já foi motivo de uma série de 'embates' entre Lula e Moro. O magistrado inicialmente pretendia que o depoimento fosse prestado via videoconferência, justamente para evitar a mobilização de todo o aparato de segurança montado nos arredores da sede da Justiça Federal em Curitiba. A defesa do petista chiou e conseguiu manter a audiência presencial.
Os advogados de Lula também pediram, mais uma vez, autorização para filmar o depoimento por conta própria, o que foi negado por Moro. O juiz da Lava Jato também rechaçou pedido da para adiar o interrogatório , solicitação feita pela defesa sob o argumento de que o Ministério Público Federal (acusação) juntou ao processo uma série de documentos sem que houvesse tempo hábil para os advogados de Lula analisarem.
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