A Justiça de São Paulo decretou a prisão preventiva do homem negro que teve os pés e as mãos amarrados por policiais militares após supostamente furtar um mercado na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.
De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo , o suspeito, de 32 anos, passou por uma audiência de custódia na segunda-feira (5) e teve sua prisão em flagrante convertida em prisão preventiva, ou seja, sem prazo determinado.
Após análise, a juíza responsável pelo caso concluiu que não existem evidências que comprovem a ocorrência de tortura, maus-tratos ou violação dos direitos constitucionais garantidos ao detento.
De acordo com a decisão, o indivíduo estava em regime aberto cumprindo pena por roubo quando foi detido no domingo (4).
A magistrada ressaltou que ele quebrou a confiança depositada pela Justiça Criminal ao estar em um regime em que deveria se manter longe de qualquer problema com a lei. Ao invés de aproveitar a oportunidade de liberdade, o suspeito foi preso em flagrante por cometer um crime.
Segundo a versão dos policiais registrada no boletim de ocorrência, o homem foi amarrado porque teria resistido à prisão e os ameaçado.
Os PMs afirmaram que estavam patrulhando a Avenida Conselheiro Rodrigues Alves por volta das 23h50 de domingo (4) quando foram abordados por uma mulher que indicou uma movimentação suspeita em um mercado da região.
No estabelecimento, um funcionário informou aos policiais que pessoas haviam entrado na loja e realizado um assalto, levando diversos produtos.
Os policiais deixaram o local e, alguns metros adiante, na Rua Morgado de Mateus, encontraram o homem de 32 anos carregando duas caixas de bombons, avaliadas em R$ 15 cada.
Segundo os PMs, o homem confessou o furto no mercado. Os policiais ordenaram que o suspeito se sentasse, mas ele os ignorou. Os agentes afirmaram que o homem estava agitado e que foi necessário pedir reforço, totalizando quatro homens para contê-lo.
Os policiais relataram que o suspeito resistiu mesmo depois de algemado, o que levou à utilização de uma corda para amarrar seus pés. Segundo o boletim de ocorrência, os policiais disseram que o homem ameaçou se levantar e fugir.
Ele teria afirmado que pegaria a arma dos policiais e atiraria contra eles, fazendo referência a um caso ocorrido na semana anterior em São Mateus, zona leste de São Paulo, no qual um homem lutou contra dois policiais militares, tomou a arma de um deles e os feriu ( os dois agentes ainda estão sob cuidados médicos ).
Imobilizado e amarrado, o suspeito foi levado pelos policiais para a UPA Vila Mariana. A cena cruel que remete ao período da escravidão foi registrada por uma testemunha que filmou o homem com as mãos e os pés amarradas.
Caso semelhante chocou os Estados Unidos
Em 2020, um caso extremo de racismo e abuso de policiais ocorreu nos Estados Unidos vazou na mídia americana.
O abuso ocorreu em 2019, mas só veio à tona no ano seguinte. Um homem negro que foi preso e amarrado por uma corda foi conduzido por dois agentes montados a cavalo pelas ruas de uma cidade no estado do Texas. A vítima moveu um processo contra a cidade de Houston e seu departamento de polícia, e requereu indenização de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões).
Donald Neely foi preso por violação de propriedade em Galveston, região próxima a Houston. Em circunstâncias normais, ele deveria ter sido transportado para a delegacia em um veículo policial.
No entanto, imagens de sua prisão, na qual dois policiais brancos o conduziram pela rua algemado por uma corda amarrada a seus cavalos, causaram indignação na época.
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