A Polícia Militar do Rio revogou o porte de arma e abriu processo administrativo que pode culminar com a expulsão do cabo Tarcísio de Assis Nunes, flagrado por uma câmera de segurança dando socos, chutes, chineladas e até um golpe de judô em sua companheira . O caso foi revelado pelo EXTRA no mês passado. Uma câmera de segurança da casa onde o casal morava com a filha de seis anos, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, registrou as agressões.
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A abertura do processo administrativo foi motivada por uma investigação da Corregedoria da PM, que apreendeu as imagens e ouviu o depoimento da vítima. O vídeo foi gravado na manhã do dia 13 de abril. As imagens mostram o policial se aproximando da mulher, que estava sentada no jardim da casa. Eles começam a discutir e, subitamente, Nunes dá um soco no rosto da companheira. Em seguida, ele chuta a mulher, a puxa e a joga no chão com uma banda. De acordo com um relatório de análise das imagens, feito pela Corregedoria, Nunes "tem conhecimentos de técnicas de artes marciais, uma vez que a banda que aplicou se asselha com o golpe de judô 'de-ashi-barai'".
O agente, lotado no 22º BPM (Maré), chegou a ser preso em 17 de abril, quatro dias após as agressões. No entanto, menos de duas semanas depois, Nunes foi posto em liberdade por decisão da Justiça. Segundo a decisão que determinou a abertura do procedimento administrativo, o cabo "pautou seu comportamento em dissonância com os ordenamentos inerentes à condição de policial militar , praticando atos que afetam a honra pessoal, o pundonor policial militar e ao decoro da classe".
A investigação da Corregedoria ainda descobriu que o cabo trabalhou simultaneamente, por dois anos, na PM e na Prefeitura de Belford Roxo. O agente não foi liberado pela corporação para ocupar um cargo comissionado. O agente, então, tirou seguidas licenças psiquiátricas da PM para poder trabalhar no órgão municipal, entre 2017 e 2019.
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Em depoimento à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Belford Roxo, a mulher relatou que as agressões não pararam após o casal entrar em casa — onde a ação não é mais flagrada pela câmera. Segundo a mulher, Nunes passou a ameaçar a mulher e a filha, "dizendo que iria matar as duas, transtornado, ao mesmo tempo em que pegou o seu revólver e efetuou um disparo para o alto".
Ainda segundo o relato, o cabo, em seguida, "apontou a arma para a cabeça da comunicante proferindo os seguintes dizeres: 'Eu vou te matar e matar tua filha'". Por fim, Nunes ainda teria dito que colocaria fogo na casa, "mesmo com os apelos da filha, pedindo para o pai não matar a mãe". O PM teria respondido à menina: "Vou pensar se não mato você, mas sua mãe vai morrer". De acordo com a mulher, o policial possui mais de uma arma em casa. A vítima escondeu as armas após as agressões .
No dia 16 de abril, diante do relato, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, decretou medidas protetivas a favor da mulher. O cabo não poderia se aproximar dela e nem manter mais nenhum tipo de contato. No dia segunte, o juiz Glauber Bitencourt Soares da Costa, do 1º Juizado Especial Criminal de Belford Roxo, decretou a prisão do PM.
No dia 29, entretanto, a prisão foi revogada pelo mesmo magistrado, que levou em conta uma "declaração prestada pela vítima de forma escrita, na qual afirma não se sentir ameaçada pelo marido e de não possuir receio em sua soltura". Na mesma decisão, o juiz não concedeu nenhuma medida protetiva.
O agente tem um histórico de violência doméstica . Em 2015, ele já havia sido preso por agredir a companheira. Tarcísio permaneceu um mês na cadeia e foi solto porque, segundo a decisão judicial que revogou a prisão à época, "a vítima e o réu se reconciliaram e a vítima não tem mais interesse na prisão do acusado". Após a soltura, o processo contra o PM foi suspenso desde que Nunes cumprisse uma série de condições — entre elas, "participar do grupo de reflexão para homens, frequentando dez sessões".
Na época, a PM decidiu que o cabo ainda tinha condições de seguir patrulhando as ruas do estado. No processo administrativo aberto pela corporação para avaliar a conduta do agente após o episódio, a PM concluiu que ele cometeu uma "transgressão leve": o cabo sofreu uma repreensão — segunda punição mais branda possível na corporação.