O cabo da Polícia Militar Tarcísio de Assis Nunes foi flagrado por uma câmera de segurança dando socos, chutes, chineladas e até um golpe de judô em sua companheira. As agressões aconteceram na casa onde o casal morava com a filha de seis anos, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O EXTRA teve acesso, com exclusividade, às imagens, que fazem parte de um Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Corregedoria da PM. O cabo, lotado no 22º BPM (Maré), foi preso em 17 de abril, quatro dias após as agressões. No entanto, menos de duas semanas depois, Nunes foi posto em liberdade por decisão da Justiça.
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O vídeo foi gravado na manhã do dia 13 de abril. As imagens mostram o policial se aproximando da mulher, que estava sentada no jardim da casa. Eles começam a discutir e, subitamente, Nunes dá um soco no rosto da companheira. Em seguida, ele chuta a mulher, a puxa e a joga no chão com uma banda. De acordo com um relatório de análise das imagens, feito pela Corregedoria da PM , Nunes "tem conhecimentos de técnicas de artes marciais, uma vez que a banda que aplicou se asselha com o golpe de judô "de-ashi-barai'".
As agressões não pararam mesmo com a mulher caída no chão. O policial ainda tira o chinelo e bate com o calçado no rosto da companheira. Em seguida, eles entram na casa e se afastam da câmera. Antes do casal entrar na casa, é possível ver uma criança saindo do imóvel. Segundo o relatório da Corregedoria, é a "filha do casal, menor de idade (6 anos), que aparentemente ouviu todo o ocorrido".
No dia seguinte, policiais militares do 39º BPM (Belfor Roxo) foram acionados para a residência e levaram o casal para a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do município. Na unidade, a mulher relatou que as agressões continuaram. Segundo o depoimento, Nunes passou a ameaçar a mulher e a filha, "dizendo que iria matar as duas, transtornado, ao mesmo tempo em que pegou o seu revólver e efetuou um disparo para o alto".
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Ainda segundo o relato, o cabo, em seguida, "apontou a arma para a cabeça da comunicante proferindo os seguintes dizeres: 'Eu vou te matar e matar tua filha'". Por fim, Nunes ainda teria dito que colocaria fogo na casa, "mesmo com os apelos da filha, pedindo para o pai não matar a mãe". O PM teria respondido à menina: "Vou pensar se não mato você, mas sua mãe vai morrer". De acordo com a mulher, o policial possui mais de uma arma em casa.
No dia 16 de abril, diante do relato, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, decretou medidas protetivas a favor da mulher. O cabo não poderia se aproximar dela e nem manter mais nenhum tipo de contato. No dia segunte, o juiz Glauber Bitencourt Soares da Costa, do 1º Juizado Especial Criminal de Belford Roxo, decretou a prisão do PM.
No dia 29, entretanto, a prisão foi revogada pelo mesmo magistrado, que levou em conta uma "declaração prestada pela vítima de forma escrita, na qual afirma não se sentir ameaçada pelo marido e de não possuir receio em sua soltura". Na mesma decisão, o juiz não concedeu nenhuma medida protetiva.
O agente tem um histórico de violência doméstica. Em 2015, ele já havia sido preso por agredir a companheira. Tarcísio permaneceu um mês na cadeia e foi solto porque, segundo a decisão judicial que revogou a prisão à época, "a vítima e o réu se reconciliaram e a vítima não tem mais interesse na prisão do acusado". Após a soltura, o processo contra o PM foi suspenso desde que Nunes cumprisse uma série de condições, entre elas, "participar do grupo de reflexão para homens, frequentando dez sessões".
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Procurado, o advogado do policial, Felipe Simão, alegou que o cabo não se aproximou mais da mulher depois que foi posto em liberdade. "Eles estão vivendo separados. A própria ex-companheira declarou ao Ministério Público que não tinha medo dele. E não se sentia ameaçada por ele de forma alguma", afirmou Simão. Já a Polícia Militar informou que, atualmente, o cabo está "afastado do serviço para tratamento de saúde".