Dois policiais da Rota assassinados em menos de duas semanas e nenhuma conclusão. As mortes dos cabos Daniel Gonçalves Correa, 43, em Santos no dia 25 de abril, e Fernando Flávio Flores, 38, em São Paulo , no dia 04 de maio, são parecidas. Ambos faziam parte das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), batalhão conhecido como a "tropa de elite" da Polícia Militar de São Paulo, e foram brutamente executados com tiros pelas costas em dias em que estavam de folga. Os dois casos foram flagrados por câmeras de segurança e seguem sem solução.
Os assassinatos são separados por nove dias. A primeira hipótese investigada pela Polícia Civil é de retaliação do crime organizado. No dia 04 de abril, uma ação conjunta da Rota com o COE (Comando de Operações Especiais - elite do batalhão de Choque da PM de São Paulo) impediu o assalto de duas agências bancárias em Guararema , na Grande São Paulo. Após tiroteio, 11 suspeitos foram mortos na terceira ação mais letal da história da PM paulista.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), elogiou a atuação dos policiais no episódio. "Quem deve ter vergonha do que faz são os bandidos. Heróis são os policiais militares e civis, que diariamente deixam suas casas para defender vidas e o nosso patrimônio."
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No dia 09 de abril, o tucano recebeu no Palácio dos Bandeirantes os policiais que participaram da ação para uma condecoração. “A polícia agiu corretamente e mandou para o cemitério 11 bandidos", disse. A corregedoria ainda não confirma se o ato foi legal ou irregular.
Pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro também parabenizou os envolvidos na operação. "Parabéns aos policiais pela rápida e eficiente ação contra 25 bandidos fortemente armados e equipados que tentaram assaltar dois bancos na cidade de Guararema e ainda fizeram uma família refém. 11 bandidos foram mortos e nenhum inocente saiu ferido. Bom trabalho!".
Um dia após o assassinato de Fernando Flávio Flores, o ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, afirmou que os cabos podem ter sido mortos como respostas pelas suas atuações como policiais, ainda que os homicídios tenham acontecido no período de folga.
"Os primeiros indícios são de que houve retaliação por ocorrências envolvendo a Rota. O caso, porém, ainda está sob investigação", afirmou na época.
O ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente Silva Filho, discorda da principal hipótese. Para ele, os assassinatos dificilmente estão relacionados a qualquer retaliação. O especialista afirma que os históricos das investigações, sobretudo na corregedoria da PM , apontam que mais de 88% das mortes de policiais não estão conectadas com o crime organizado.
"A ouvidoria tem que ouvir mais. Não me parecem casos de retaliação. Existe uma evidência em São Paulo de que bandido tem pavor de policial da Rota. Nas ações é fácil identificar isso. Eles preferem fugir do que enfrentar. Todo policial deste batalhão é bem treinado, sabe que está em risco inerente, mas não fica com medo", defende José Vicente Silva Filho.
Assassinatos costumam acontecer com policiais de folga
Por retaliação ou não, os assassinos costumam agir quando os policiais não estão fardados. Segundo dados da própria Polícia Militar, de janeiro de 2000 a março de 2019 foram assassinados 27 integrantes da Rota, sendo que 26 estavam de folga. No mesmo período, o batalhão matou 1222 suspeitos.
"Dá um pouco mais de um policial por ano e ainda com quase todos quando estão de folga. É preciso entender que muito policial trabalha em outras atividades além da polícia, a maioria com segurança em empresa privada. Essas mortes muitas vezes estão relacionadas a essas atividades, nenhuma relação com o crime organizado", diz o ex-secretário.
Os homicídios dos dois cabos da Rota seguem sem solução. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informa que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos realizam pesquisas com cruzamento de informações e análise de imagens visando a identificação, prisão dos autores e descoberta das motivações dos crimes.
Independente de ainda não comprovada uma retaliação do crime organizado, a secretaria garante que as investigações prosseguem e que o trabalho da Rota continua da mesma forma.