Aparentemente estas três cenas urbanas são corriqueiras. Uma moça desce da garupa de uma motocicleta e caminha em direção à uma agência bancária. Um Volkswagen Jetta estaciona perto da moto. Um velho Ford Ka enguiça no meio da rua, bloqueando a rota do trânsito.
Mas esses três fatos não são ao acaso. O motoqueiro esconde um fuzil e a mulher uma arma de brinquedo. Os três ocupantes do Jetta também possuem fuzis militares aitimáticos. No interior do Ford Ka há uma bomba e dois galões com óleo diesel. A interação desses eventos irá desencadear uma enérgica resposta da ROTA
, Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
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Usando o revolver de plástico, a mulher passa tranquilamente pela porta giratória o banco, sem acionar o sistema de detecção de metais. Rapidamente ela rende os dois seguranças, toma suas armas e dá acesso ao interior da agência para dois comparsas.
Na rua, o motoqueiro faz a segurança e se esconde atrás de um poste, portando um fuzil. No bolso da sua calça há um detonador de controle remoto. O quinto marginal aguarda dentro do carro de fuga.
Um funcionário do banco aciona o alarme silencioso e o COPOM recebe o aviso. Através do “190”, a PM confirma que o assalto é real, ao receber ligações de clientes que conseguiram fugir da agência. Um alerta é enviado para o Batalhão Tobias de Aguiar, e imediatamente várias viaturas de ROTA convergem para o local. O cenário que os Policiais Militares irão enfrentar é um sistema dinâmico de caos.
Enquanto parte dos criminosos transportam os malotes de dinheiro para o Jetta, o terrorista urbano, que faz a segurança, percebe a aproximação da primeira viatura de ROTA e, sem hesitar, aciona o controle remoto, e a bomba no Ford Ka detona. Os galões de óleo diesel são imediatamente vaporizados e incendiados, causando uma forte explosão com uma enorme bola de fogo, seguida por um intenso incêndio.
Com a rua bloqueada, a viatura policial freia e o Comandante da Equipe avalia a situação tática. Ele ordena que dois Policias desembarquem e o acompanhem numa progressão a pé para se aproximar da agência bancária. Em movimentos coordenados, os bandidos abrem fogo com seus fuzis.
Um Policial é atingido, cai e faz um torniquete na sua perna, para estancar o sangramento. Seus dois companheiros revidam para neutralizar os agressores, e também para dar cobertura à outra Equipe de ROTA que entra na cena de combate para resgatar o companheiro ferido.
Na confusão de tiros e do incêndio, dois criminosos conseguem entrar no Jetta e fugir com o dinheiro, abandonando os outros três comparsas. Imediatamente 4 PMs embarcam na sua viatura e saem em perseguição. O marginal que havia aciononado a bomba, é atingido por um tiro e cai.
Como se este cenário já não estivesse suficientemente complexo, os dois terroristas urbanos que estavam dentro do banco, saem dando tiros para o alto e apontado um revolver para a cabeça de um refém, ameaçando matá-lo. Nesse momento o Grupo de Ações Táticas Especiais é chamado. O GATE é uma unidade de elite da PM especializada, entre outras atividades, em resolver ocorrências com reféns.
Totalmente cercados por várias Equipes de ROTA, o casal de sequestradores toma a primeira decisão inteligente do dia e decidem se render, libertando o refém. Alguns minutos mais tarde os dois marginais que fugiram no Jetta, retornam de carona, algemados dentro de uma viatura de ROTA. A ocorrência finalmente termina com o bando inteiro preso, o refém solto, o dinheiro recuperado, e um PM e três criminosos feridos.
Com a cena do crime controlada, os Bombeiros entram em ação e apagam o fogo. As unidades de resgate médico prestam os primeiros socorros para os marginais feridos, mas eles não são levados para o hospital. E os dois algemados dentro da viatura não são conduzidos para a delegacia.
Os três criminosos feridos se levantam e saem andando das ambulâncias. Os dois presos na viatura retiram suas algemas e também saem caminhando livremente. Os cinco vão em direção aos PMs de ROTA para se confraternizar.
Chega ao fim o simulado de assalto à banco, parte de um programa iniciado há alguns meses pelo Comandante da ROTA, Tenente Coronel PM Ricardo Mello Araújo.
“Este é o terceiro simulado que convidamos a população e a imprensa para acompanhar. Nosso objetivo é de aproximação com a comunidade mostrando a complexidade dessas ações, a importância da denúncia de crimes para a Policia poder agir rapidamente, e também passar uma clara demonstração de força para os criminosos, mostrando que sempre que se depararem com a ROTA vão se dar mal”, explica o Comandante Mello Araújo.
Veja o vídeo de toda esta ação e mais abaixo os detalhes deste simulado, desenhado e conduzido pelo Capitão PM Antônio Emanuel Andrade e Silva, um veterano com 20 anos de experiência na Polícia Militar, e que possui sob sua responsabilidade direta cerca de cem PMs de ROTA.
Qual a função da ROTA?
A ROTA é uma unidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo que possui Policiais com treinamento e equipamentos especializados, que os habilita a fazer dois tipos de missões. A primeira, e mais conhecida da população, é o patrulhamento tático ostensivo e preventivo, que é desenvolvido diuturnamente em áreas da cidade com índices de criminalidade elevados, com o objetivo de reduzi-los.
A segunda função é conduzir operações de grande porte contra o crime organizado, desenhadas com antecedência. Essas missões possuem alvos pré-definidos, como por exemplo a localização e fechamento de centros de produção e distribuição de drogas , e apreensão de armamento ilegal.
Qual o objetivo desses treinamentos públicos?
É importante ressaltar que estes exercícios são uma simulação para o público e não um treinamento real com procedimentos operacionais da ROTA. Estes simulados foram uma inovação trazidas pelo Comandante Mello Araújo para atingirmos os seguintes objetivos:
1- Expor ao público a complexidade desse tipo de ocorrência. Queremos mostrar o ambiente de caos e de alto risco que é produzido pela criminalidade, e as decisões rápidas que os Policiais precisam tomar em cenários fluídos que mudam de forma inesperada e constante.
A população pôde acompanhar de perto situações de ocorrências que enfrentamos como: tiros com armas de alto poder ofensivo, fugas e perseguições, sequestrador com refém, um Policial e criminosos baleados, uma explosão seguida de incêndio, e nossa atuação coordenada com as unidades de resgate médico e dos Bombeiros. Já usamos também helicópteros Águia da PM em outros simulados.
2- Mostrar a importância da participação da população no combate ao crime, no sentido de que são os olhos da Polícia, e que podem e devem nos acionar.
Essa ocorrência, só começou para a ROTA quando alguns cidadãos acionaram o COPOM pelo 190. A participação da comunidade é importantíssima, se chegamos rápido numa ocorrência é porque o cidadão nos ajudou.
3- Demonstração de força para o crime. São Paulo não é um bom lugar para marginais, onde houver crime iremos sufocá-lo. Coletamos informações durante nossos patrulhamentos e recebemos denúncias da população. Acompanhamos de perto a movimentação do crime e sempre que bandidos encontrarem uma Equipe de ROTA vão perder.
4- Abordar de forma transparente, com a população, o tema da letalidade. A decisão do confronto está nas mãos do marginal. Esta é uma opção dele. Se o criminoso decidir agredir um cidadão de bem ou a Polícia, irá sofrer o revide e sairá sempre perdendo. Por outro lado, se resolver se entregar de mãos levantadas, será preso e terá todos seus direitos preservados.
Por que um simulado de roubo a banco?
O Comando da ROTA escolhe os temas dos simulados baseado em estudos das atividades criminais violentas que veem ocorrendo com maior frequência. Já mostramos nossa capacidade de resposta em dois simulados anterioreres, um de explosão de caixas bancários , e o outro foi o ataque contra carros-fortes com armamento pesado e explosivos.
Nestes esses exercícios fizemos uma coordenação previa com as áreas de segurança dos bancos e de transportadoras de valores, para refinar todos detalhes das ações criminosas e recriá-las da forma mais autêntica possível, sempre pensando na segurança do público presente, e dos participantes da simulação. Para conduzir de forma segura e controlada as explosões, pedimos ajuda aos PMs do Esquadrão Antibombas do Grupo de Ações Táticas Especiais.
O uso de fuzis no simulado foi realmente necessário?
Decidimos mostrar ao público uma infeliz realidade que a Polícia enfrenta: criminosos portando fuzis militares. Esse tipo de arma foi desenvolvida para guerra, sua munição possui altíssima energia, com alcance efetivo que chega a um quilometro, ou cerca de 10 campos de futebol!
Para você ter uma ideia deste poder de destruição, um único tiro de um destes fuzis transfixa a porta de um carro, perfura o motorista e o passageiro, e ainda passa pela outra porta com energia suficiente para fazer mais estragos.
O marginal não hesita em usar todas as munições dessa arma no meio da rua, sem se preocupar com quem, ou quantas pessoas serão atingidas. A ROTA possui armamento do mesmo calibre, mas toma extremo cuidado ao responder ao fogo do criminoso para não por em risco nenhum inocente.
No simulado um Policial é ferido, e de acôrdo com o procedimento operacional, os dois companheiros dele não o socorrem e retornam fogo. Como é isso na vida real?
Como qualquer Policial, já passei por situações que marcaram muito minha carreira. O pior momento que qualquer um de nos pode enfrentar é enterrar um companheiro de farda, e isso já aconteceu comigo, com homens sob meu comando. Essa é uma situação limite, mas estamos preparados para lidar com isso. No simulado, quisemos mostrar essa dificuldade.
Se os dois Policiais Militares parassem para ajudar o companheiro ferido e não mantivessem a sua posição de tiro, ao invés de um PM baleado poderiam ter sido três.
Os dois Policias da frente não possuem outra alternativa, devem manter a guarda e continuar na função de neutralizar a ameaça, mesmo sabendo que há um amigo sangrando ao lado.
Se isso não for feito a Equipe inteira poderá ser comprometida. O Policial que está ferido também sabe disso, e nas condições que se encontra, entende que não poderá ser socorrido imediatamente.
É por esse tipo de situação que os PMs de ROTA são treinados para se auto aplicar os primeiros socorros, como neste simulado.
Como são os treinamentos reais da ROTA?
Todo Policial Militar de ROTA treina diariamente por 3 horas dentro do Quartel antes de ir para rua. Além de exercícios para condicionamento físico, fazemos outros treinamentos como o uso de equipamentos especializados, armamentos, técnicas de abordagem, primeiros socorros, controle de distúrbios, estudos de legislação e análises de casos reais para rever e avaliar ocorrências passadas.
Também conduzimos vários treinamentos fora do nosso Quartel. Como exemplo cito três: técnicas para dirigir uma viatura , procedimentos para progressão em terreno a pé e como agir numa emboscada preparada por marginais. Quanto mais você treina, melhor você fica. Nosso objetivo é que, em situações reais, algumas reações aconteçam automaticamente, de forma segura, sem pensar.
É como entrar num carro e mudar as marchas ou frear em caso de necessidade. Você não fica pensando para executar essas ações, você as faz pois sabe que é a coisa correta. Treinamento é fundamental, sem ele os erros acontecem e não há evolução.
Qual a reação da população ao ver os PMs de ROTA durante as patrulhas?
Você pode medir isso pelo interesse e pela presença das centenas de pessoas que se dispõe a assistir os nossos simulados públicos. No dia-a-dia é muito comum a população não apenas nos receber bem nos nossos patrulhamentos e incursões, mas também passar informações sobre esconderijos de drogas e armas, assim como nos indicar a localização de traficantes que aterrorizam a região. A comunidade confia muito na ROTA, reconhece e respeita nosso trabalho e isso é muito gratificante.
Vocês operaram em qualquer local da cidade?
Diferente de outros estados, em São Paulo a Polícia Militar acessa qualquer lugar, no momento que julgar necessário. Não existem avenidas, ruas, vielas, bairros ou comunidades que nossos Policiais são impedidos de patrulhar pelo bandidagem. A ROTA leva e aplica a lei em todo o Estado, inclusive para salvar criminosos .
O simples fato de uma das nossas viaturas chegar numa área, para fazer patrulhamento de rotina, já faz com que a criminalidade se retraia, se esconda. Uma viatura de ROTA é uma Equipe autossuficiente, com Policiais muito técnicos, altamente treinados e equipados, que projetam segurança para a população e pavor no crime.
O que é a ROTA para você?
A ROTA é minha vida, é apaixonante servir aqui. A minha dedicação, e de todos PMs deste Batalhão, é de 24 horas por dia, e eu não me canso disso. Sou triatleta e está dentro de mim encarar obstáculos e vencê-los. Tenho essa mesma atitude positiva no meu trabalho.
A energia no nosso Quartel é muito boa, os Policiais que estão aqui são apaixonados e orgulhosos do seu trabalho, querem fazer o bem para a sociedade, com transparência e dentro da legalidade. Todos PMs de ROTA, lutaram pelo privilégio de estar aqui, passaram por processos rigorosos de seleção e isso cria uma forte união, a ROTA é nossa família.
Não há sentimento mais recompensador para um Policial do que livrar um cidadão de bem das mãos de criminosos e entregá-lo para sua família, ou prender uma quadrilha de traficantes que tanto mal faz para nossa sociedade. O Batalhão Tobias de Aguiar permite que façamos isso diariamente, é isso que nos motiva.
Você é marido e pai. Como compatibiliza seu trabalho com a família?
Entrei na Força Aérea Brasileira em 1995, muito incentivado pelo meu Pai. Via com frequência os comboios das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar passando pelo Quartel da Aeronáutica onde eu servia. Um dia uma viatura de Comando voltou, passou na minha frente e decidi: quero ser o ficial de ROTA. Em 2009 realizei meu sonho e entrei para o Batalhão Tobias de Aguiar como 1o Tenente.
Como qualquer Policial, também sou cidadão, venho da mesma sociedade. Também deixo minha família em casa quando saio para trabalhar, e pago contas todo mês. Mas nosso trabalho é diferente, nos coloca em situações de perseguições, enfrentando criminosos disparando suas armas e usando explosivos. Às vezes temos que até fazer partos de emergência ou até ressuscitar um neném !
Eu escolhi esta profissão, e como qualquer Policial Militar, minha missão é proteger a sociedade. Só consigo fazer isso bem feito, graças ao estímulo e apoio que recebo da minha família.
Estou junto com minha mulher há 22 anos e somos casados há 16. Minha esposa possui a mesma paixão, e ama esse Batalhão tanto quanto eu. Minhas filhas vem muito aqui no Quartel e também adoram meu trabalho. Quer arrumar uma briga séria com minha mulher? Fala mal da Polícia e da ROTA . A família é a base de tudo, e sou abençoado por ter uma esposa e duas filhas maravilhosas!