Nesta terça-feira (6), o ex-presidente do Chile Sebastián Piñera, de 74 anos, morreu em um acidente de helicóptero no Lago Ranco, na região central do Chile. O político estava na aeronave com mais três pessoas, quando caiu na água. Os demais foram resgatados, mas Piñera não conseguiu sair do helicóptero a tempo, segundo informou a mídia local.
Piñera foi eleito em 2010, sendo o primeiro presidente em 20 anos que não seguia ideias de centro-esquerda. Ele era visto como uma das principais figuras políticas de direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), conseguindo chegar ao poder em duas oportunidades.
Como o único político conservador e liberal a alcançar a Presidência por duas vezes (2010 e 2018), o governo de Piñera foi marcado por momentos de crescimento econômico. Entretanto, casos envolvendo confusões na gestão do patrimônio privado e sua vida pública acabaram estourando durante o seu mandato.
Piñera era filho do ex-diplomata José Piñera Carvallo. Cursou engenharia Comercial na Universidade Católica do Chile, e fez o doutorado em economia em Harvard, voltando para o Chile em 1976 com o objetivo de trabalhar como professor universitário. Segundo a Forbes, no mesmo, conseguiu fazer uma fortuna devido à empresa de cartões de crédito Bancard.
Em 1988, no plebiscito que definia a continuidade de Pinochet no poder, ele votou "não". Logo após, ele se candidatou para o cargo de senador pela região metropolitana de Santiago, em 1989, sendo eleito. Ele permaneceu no cargo de senador até 1998. Entre 2001 e 2004, Piñera presidiu o partido Renovação Nacional (RN).
Primeiro mandato
Na primeira vez em que tomou posse do cargo, aos 60 anos, Piñera era conhecido na vida política e empresarial do Chile. Quando chegou ao poder ganhando de Eduardo Frei, analistas apontavam como uma refundação da direita no país.
Durante toda a campanha, ele levantava bandeiras defendidas pela centro-direita, como a criação de empregos e o combate à violência no país, mas também trazia pautas mais sociais, como a criação de planos de ajuda aos mais carentes, principalmente na saúde e educação.
Já na época, os negócios pessoais de Piñera eram questionados pela imprensa e pela oposição. Ele era apontado como o quarto homem mais rico do Chile, com um patrimônio que chegava na casa dos US$ 2,9 bilhões.
No primeiro mandato, o Chile teve um crescimento anual médio de 5,3% e a criação de mais de 1 milhão de empregos, segundo informa a Biblioteca do Congresso Nacional do Chile. Foi implementado também o subsídio para a contratação de mulheres, que teria auxiliado na contratação de 576 mil pessoas.
Em contrapartida, os anos de Piñera no poder foi abalado com as crises naturais que o país sofria. Em 2010, o Chile passou por um terremoto com 8.8 graus de magnitude na escala Richter, deixando ao menos 525 mortos. No mesmo ano, houve o desabamento de uma mina em San José, no Atacama, soterrando 33 mineiros por quase dois meses.
O governo ainda passou pelo recrudescimento do conflito Mapuche, com greves de fome iniciada pelos comuneros por serem processados sob a lei antiterrorismo, e os movimentos sociais que exigiam uma ampliação no acesso ao ensino superior.
Ele acabou não sendo eleito novamente em 2014, perdendo para Evelyn Matthei, que posteriormente foi derrotada pela ex-presidente Michelle Bachelet, que retornou ao poder.
Segundo mandato
Em 2018, Piñera volta à Presidência, com um forte discurso sobre temas envolvendo imigração. Com um posicionamento que hora apontava para um governo centro-direita e hora para um de extrema-direita, foi apontada por analistas na época.
Ele prometeu que apresentaria um plano econômico de recuperação do país, e ainda trouxe que simplificaria as questões tributárias sem que fosse necessário mexer nas cargas de impostos.
Em 2019, no entanto, se viu em um país tomado por uma onda de protestos violentos provocados pelo aumento nas tarifas do metrô. Ele chegou a decretar Estado de emergência, autorizando o Exército e as forças policiais a conter os manifestantes. Ele também revogou o aumento de 30 pesos na tarifa. Mas os protestos continuaram.
A repressão de Piñera foi tamanha que se estima que 460 chilenos tiveram os olhos mutilados por projéteis ou pelo impacto de bombas de gás lacrimogêneo lançadas por agentes de segurança pública. Isso levou a uma investigação do governo por violação dos direitos humanos na ONU.
Piñera chegou a ter uma popularidade de 10%, sendo alvo da primeira acusação constitucional. Ele acabou não indo para frente no Senado.
A imagem abalada de Piñera acabou sendo mais afetada após a menção do seu nome na divulgação do Pandora Papers — uma série de reportagens do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que denunciava os negócios de mais de 300 pessoas, com empresas off-shore em paraísos fiscais. Isso levou a abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, que foi concluído em 2021, com ele sendo deposto do cargo.