Em duas semanas, guerra entre Israel e Hamas matou mais de 5,5 mil

Quase 20 mil pessoas estão feridas, a maioria delas na Faixa de Gaza

Foto: Divulgação/ONU
Faixa de Gaza está destruída por bombardeios israelenses

Há exatamente duas semanas, o  grupo armado palestino Hamas invadiu Israel com uma série de ataques que deixou centenas de mortos. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra contra o grupo, que controla a Faixa de Gaza, afirmando que o inimigo pagaria "um preço que nunca conheceu".

Se iniciou, então, um conflito armado que entra neste sábado (21) em seu 15º dia. Até o último balanço, realizado nesta sexta-feira (20), 1,4 mil israelenses foram mortos nesta guerra, a maioria nos ataques iniciais do Hamas, que pegaram Israel de surpresa. Do outro lado, mais de 4.137 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza, número que cresce a cada dia.

Além desses, outros 79 palestinos foram mortos na Cisjordânia. Até esta sexta-feira, o balanço de feridos, segundo as fontes oficiais, era o seguinte:

  • Israel: 4.629 feridos
  • Cisjordânia: 1.434 feridos
  • Faixa de Gaza: 13 mil feridos

Segundo o Ministério da Saúde palestino, mais de 1,5 mil crianças e mais de 1,4 mil mulheres foram mortas na Faixa de Gaza nos últimos 15 dias. Ainda de acordo com o governo local, pelo menos 30% das casas em Gaza foram completamente destruídas ou danificadas.

Repatriação de brasileiros

Desde que a guerra começou, o governo brasileiro enviou diversos aviões para resgatar brasileiros que estavam na zona de conflito e desejavam sair. Até o momento, 1.135 cidadãos que estavam em Israel foram repatriados, e outros 66 estão a caminho do Brasil em uma  aeronave da Força Aérea Brasileira prevista para pousar no Rio de Janeiro neste sábado.

Por enquanto, porém, os brasileiros que estão na Faixa de Gaza ainda não conseguiram ser resgatados. Segundo o Itamaraty, há um grupo de cerca de 30 pessoas aguardando para deixar a região assim que a fronteira com o Egito for liberada.

Parte dos brasileiros que querem ser repatriados está em Khan Yunis e outra parte está em Rafah - ambas são cidades ao sul de Gaza, próximas à fronteira. O governo brasileiro já tem veículos para resgatá-las assim que a fronteira for aberta, e um avião da FAB aguarda no Cairo, capital do Egito, para realizar a repatriação quando possível.

Ajuda humanitária

Além de retirar os cerca de 5 mil estrangeiros que estão em Gaza e desejam ser repatriados, a passagem de Rafah, que liga o Egito à Faixa de Gaza, deve ser aberta em breve para a entrada de ajuda humanitária na região.

Centenas de caminhões  com alimentos, água, combustível e medicamentos aguardam do lado egípcio da fronteira, enquanto o sistema de saúde de Gaza enfrenta colapso e a população carece de itens básicos.

Desde que Israel ordenou que os palestinos deixassem o norte de Gaza pois haveria uma invasão das forças israelenses por terra, cerca de 1 milhão de pessoas deixaram suas casas, de acordo com estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, a população local, que normalmente já depende de ajuda humanitária internacional, passou a demandar ainda mais desses serviços, que estão com dificuldades de operar por falta de insumos.

Nesta sexta-feira, a ONU informou que os caminhões seriam liberados neste sábado ou nos próximos dias. As negociações entre Israel, Egito, Estados Unidos e ONU continuam a acontecer para que a ajuda humanitária entre em Gaza.

Depois de visita do presidente estadunidense Joe Biden a Israel, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu,  afirmou que "não impediria" a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

"À luz da exigência do presidente Biden, Israel não bloqueará as entregas de ajuda humanitária, desde que consistam em água, alimentos e medicamentos para a população civil no sul da Faixa de Gaza. E desde que a ajuda não chegue ao Hamas", disse na quarta-feira (18) o gabinete de Netanyahu, em comunicado.

Nesta sexta-feira, quando se esperava que a passagem de Rafah fosse aberta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que essas restrições ainda são negociadas. Para a ONU, é necessário que seja autorizado não apenas um comboio de ajuda humanitária, mas sim entradas frequentes de suprimentos.

Além disso, a organização afirma que é necessário que essa ajuda chegue a toda a Faixa de Gaza, e não apenas ao sul, e que a entrada de combustível seja autorizada para que a UNRWA, agência da ONU que atua em Gaza, consiga distribuir os suprimentos.

"É necessário que a UNRWA tenha combustível e, por isso, precisamos ter a garantia de que temos combustível suficiente do outro lado para distribuir ajuda às pessoas necessitadas", disse Guterres em  pronunciamento na fronteira de Rafah nesta sexta-feira.

"Estamos agora colaborando ativamente com todas as partes, com o Egito, com Israel, com os EUA, a fim de garantir que somos capazes de clarificar essas condições, que somos capazes de limitar essas restrições, a fim de ter o mais rapidamente possível estes caminhões se deslocando para onde são necessários", afirmou.

Em paralelo às negociações, o governo egípcio atua para consertar estradas na passagem de Rafah que, segundo ele, foi atingida diversas vezes por bombardeios israelenses. Enquanto a passagem não for consertada, os caminhões não conseguem acessar a região, afirma o Egito.

Nesta sexta-feira, o embaixador Ahmed Abu Zeid, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, usou as redes sociais para criticar as acusações de que o Egito trava a entrada dos caminhões em Gaza.

Segundo ele, é errado "responsabilizar o Egito pelo fechamento da travessia apesar de Israel promover ataques direcionados" à passagem. "A passagem de Rafah está aberta e o Egito não é o responsável por obstruir a saída de nacionais de países terceiros", afirmou ele.

Reféns do Hamas

De acordo com as forças israelenses, o Hamas ainda tem mais de 200 reféns,  sendo mais de 20 crianças. Segundo informações da BBC, o  grupo planeja fazer uma negociação para liberar os reféns em troca de um cessar-fogo em Gaza.

A comunidade internacional pede pela libertação de reféns sem que quaisquer condições sejam impostas pelo Hamas para que isso aconteça. Nesta sexta-feira, o  grupo libertou duas reféns estadunidenses e disse que estava fazendo isso para "demonstrar ao povo americano quão erradas são as declarações de Biden e da sua administração fascista". Durante a semana, o presidente estadunidense Joe Biden esteve em Israel, onde prestou apoio irrestrito ao país.

Guerra será longa, diz Israel

Nesta semana, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu,  disse que a guerra entre Israel e Hamas "será longa". Na sexta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, explicou que a tática de guerra israelense consiste em três fases , e que a primeira está sendo executada neste momento.

Segundo ele, os objetivos da guerra incluem eliminar o Hamas, destruindo suas capacidades militares e governamentais, e criar um novo "regime de segurança" na Faixa de Gaza, mas excluindo completamente qualquer responsabilidade que Israel tenha sobre o território.

A primeira fase da tática de guerra israelense, segundo Gallant, é a que está em curso. Ela consiste em "uma campanha militar com ataques aéreos e mais tarde com uma manobra terrestre com o objetivo de destruir operacões e danificar infraestruturas, a fim de derrotar e destruir o Hamas".

Finalizada esta etapa, o ministro afirma que a segunda fase terá combates contínuos, mas com menor intensidade, a fim de "eliminar focos de resistência" do Hamas.

"O terceiro passo será a criação de um novo regime de segurança na Faixa de Gaza, a remoção da responsabilidade de Israel pela vida cotidiana na Faixa de Gaza e a criação de uma nova realidade de segurança para os cidadãos de Israel e residentes da área ao redor de Gaza", disse Gallant.