Caminhões parados: por que ajuda humanitária ainda não entrou em Gaza?

Entenda a situação na região, que envolve negociações entre Egito, Israel, EUA e a ONU

Foto: Reprodução/SIC
Caminhões com ajuda humanitária aguardam para entrar na Faixa de Gaza

Centenas de caminhões  com alimentos, água, combustível, medicamentos e outros itens de ajuda humanitária estão parados do lado egípcio da passagem de Rafah, que liga o país à Faixa de Gaza. Os suprimentos, vindo de agências internacionais e de diversos países, incluindo o Brasil , aguardam a abertura da fronteira para serem transportados até Gaza.

De acordo com o chefe humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU), Martin Griffiths, nesta sexta-feira (20), a primeira entrada de caminhões deve acontecer "no próximo dia ou depois".

Mais cedo, o secretário-geral da ONU, António Guterres , havia afirmado que algumas negociações ainda estão sendo feitas. A seguir, entenda a situação completa.

Quando a Faixa de Gaza foi bloqueada?

Depois que o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza, realizou ataques surpresas a Israel no dia 7 de outubro , o país respondeu com um cerco total à região. Água, comida, remédios, eletricidade e combustível não podem entrar, enquanto feridos não podem sair em meio ao colapso do sistema de saúde  e aos bombardeios constantes.

Desde que o bloqueio foi imposto, a única passagem possível para a entrada de ajuda humanitária passou a ser a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, já que todas as outras entradas em Gaza são controladas por Israel. Durante a semana, negociações entre Egito, Israel e outros países intermediadores passaram a acontecer.

Como está a situação em Gaza?

Normalmente, a vida em Gaza já é difícil. A ONU estima que 60% da população local depende diariamente de ajuda humanitária internacional. Com a guerra, a situação piorou.

Isso porque Israel ordenou que os palestinos migrassem para o sul da Faixa, enquanto se prepara para atacar o norte por terra. Segundo a ONU, mais de 1 milhão de pessoas (cerca de metade da população local) deixaram duas casas desde o início da guerra, aumentando o número de palestinos que precisam de ajuda humanitária.

Com o cerco total e a sobrecarga de pessoas precisando de ajuda, além do alto número de feridos, falta "tudo" em Gaza, informou Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês), em  entrevista ao portal iG.

"A água está criticamente baixa. Também sabemos que o nível de comida está extremamente baixo. Remédios e equipamentos médicos também estão em grande falta. Faltam coisas simples, como analgésicos", relatou ele.

Como estão as negociações para a entrada de ajuda humanitária?

Depois de visita do presidente estadunidense Joe Biden a Israel, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu,  afirmou que "não impediria" a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza .

"À luz da exigência do presidente Biden, Israel não bloqueará as entregas de ajuda humanitária, desde que consistam em água, alimentos e medicamentos para a população civil no sul da Faixa de Gaza. E desde que a ajuda não chegue ao Hamas", disse na quarta-feira (18) o gabinete de Netanyahu, em comunicado.

Nesta sexta-feira, quando se esperava que a passagem de Rafah fosse aberta, Guterres disse que essas restrições ainda são negociadas. Para a ONU, é necessário que seja autorizado não apenas um comboio de ajuda humanitária, mas sim entradas frequentes de suprimentos.

Além disso, a organização afirma que é necessário que essa ajuda chegue a toda a Faixa de Gaza, e não apenas ao sul, e que a entrada de combustível seja autorizada para que a UNRWA, agência da ONU que atua em Gaza, consiga distribuir os suprimentos.

"É necessário que a UNRWA tenha combustível e, por isso, precisamos ter a garantia de que temos combustível suficiente do outro lado para distribuir ajuda às pessoas necessitadas", disse Guterres em pronunciamento na fronteira de Rafah.

"Estamos agora colaborando ativamente com todas as partes, com o Egito, com Israel, com os EUA, a fim de garantir que somos capazes de clarificar essas condições, que somos capazes de limitar essas restrições, a fim de ter o mais rapidamente possível estes caminhões se deslocando para onde são necessários", afirmou.

Em paralelo às negociações, o governo egípcio atua para consertar estradas na passagem de Rafah que, segundo ele, foi atingida diversas vezes por bombardeios israelenses. Enquanto a passagem não for consertada, os caminhões não conseguem acessar a região, afirma o Egito.

Nesta sexta-feira, o embaixador Ahmed Abu Zeid, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, usou as redes sociais para criticar as acusações de que o Egito trava a entrada dos caminhões em Gaza.

Segundo ele, é errado "responsabilizar o Egito pelo fechamento da travessia apesar de Israel promover ataques direcionados" à passagem. "A passagem de Rafah está aberta e o Egito não é o responsável por obstruir a saída de nacionais de países terceiros", afirmou ele.