Cristina sofreu tentativa de atentado com arma de fogo
Reprodução/Twitter
Cristina sofreu tentativa de atentado com arma de fogo

Uma terceira pessoa foi presa nesta terça-feira por suspeitas de envolvimento com a tentativa de magnicídio contra a vice-presidente da Argentina , Cristina Kirchner, no dia 1º de setembro.

A mulher detida mantinha conversas com Brenda Uliarte, namorada e suposta cúmplice do brasileiro Fernando Sabag Montiel, que deu dois tiros à queima-roupa contra a vice do presidente Alberto Fernández. A arma, contudo, falhou.

A identidade da nova detida ainda é desconhecida, mas foi presa na noite de segunda em uma operação policial no bairro de San Miguel, na capital. De acordo com o La Nación , ela não faz parte da "gangue do algodão doce" , grupo de amigos do casal cujas atividades também estariam na mira dos investigadores.

O pedido de prisão emitido pela juíza responsável pelas investigações, María Eugenia Capuchetti, e pelo promotor Carlos Rívolo, foi baseado na reconstrução dos dias prévios ao atentado . A mulher detida será interrogada nas próximas horas.

Houve ao menos três operações na noite de segunda na região, uma na cidade e duas na província de Buenos Aires , para confiscar dispositivos eletrônicos e telefones celulares, segundo fontes da investigação disseram ao La Nación. As batidas ocorreram no mesmo dia em que o presidente Alberto Fernández disse que mensagens trocadas entre os acusados apontavam-no como a próxima vítima .

A mulher detida nesta terça levantou suspeitas a partir de mensagens no celular de Uliarte, onde, segundo fontes com acesso à investigação disseram na segunda, "estava todo o plano para atacar Kirchner". No domingo, veio à tona também que o grupo pretendia fazer uma tentativa de magnicídio no dia 27 de agosto, abortada de última hora.

Foi outra informação desvendada a partir do aparelho de Uliarte, em troca de mensagens com Sabag Montiel. Segundo fontes oficiais, uma das conversas do dia falava como o timing para o crime havia passado, pois acreditavam que a vice-presidente não iria mais sair depois de falar com apoiadores em frente à sua casa.

"Não, [ela] já entrou e o palco foi retirado. Toquei nas costas do Axel Kicillof [governador da província de Buenos Aires e discípulo de Cristina], mas ele entrou em um Toyota Etios e foi embora. Uma bagunça. Ela está lá em cima, mas não acho que vai sair", escreveu Sabag Montiel para a namorada. "Fica aí, não traga nada", completou.

No mesmo dia, câmeras de segurança mostram o brasileiro nos arredores do prédio de Cristina, ponto de encontro para os kirchneristas. A câmera do celular de um dos apoiadores o gravou a cerca de 3 metros de Kicillof.

A relevância das provas no telefone, um Xaomi Note 9, seria tanta que teriam levado Capuchetti, a ordenar o sigilo da súmula, sinal de que pode ser um ponto de virada nas investigações. A última vez que havia feito isso foi quando pediu a prisão de Uliarte.

A partir do aparelho, pôde-se constatar que Uliarte participava de grupos encriptados no Telegram de tendências extremistas e que promoveriam a violência. De data desconhecida, uma mensagem no celular da mulher dizia que "era necessário passar para as ações. Vamos pôr (coquetéis) molotov na Casa Rosada", por exemplo.

Na "pasta segura" do telefone encontraram evidências de mensagens salvas, entre elas conversas no WhatsApp. Versões de um político estaria entre seus contatos, contudo, foram negadas por fontes do La Nación.

Os telefones do resto da gangue do algodão doce, colegas que supostamente vendiam a iguaria com o casal, não tinham informações interessantes para os investigadores. O aparelho de Sabag Montiel, por sua vez, foi resetado quando tentaram acessá-lo. Foi possível, contudo, recuperar fotografias do brasileiro e de sua namorada com a arma do crime no cartão de memória.

O homem foi preso em flagrante, nos segundos após seus disparos fracassados contra Kirchner. Uliarte foi detida três dias depois e negava até a última terça qualquer envolvimento com o incidente — dizia que apenas acompanhava o namorado e que o ataque era uma "aberração".

Sua versão, contudo, foi contrariada por áudios obtidos pelos investigadores em que dizia se orgulhar do que "Nando" tinha feito, por imagens que mostravam o casal indo juntos para Buenos Aires antes do ataque e circulando e indo previamente à vizinhança de Kirchner. Isso, segundo os investigadores, indicaria premeditação.

As acusações de tentativa de assassinato contra Uliarte e o namorado foram formalmente confirmadas no dia 8, com a Justiça afirmando que o casal teria atuado "de forma planejada e de comum acordo". Desde então, a Justiça tem 10 dias úteis para resolver a situação processual de ambos.

Capuchetti analisa emitir pedidos de prisão preventiva por tentativa de homicídio qualificado por premeditação e participação de duas ou mais pessoas. Para que as evidências do celular sejam incorporadas às ações, contudo, a magistrada deve primeiro mostrá-las à defesa. Por isso, o casal pode prestar novos depoimentos nesta terça.

Os investigares têm também uma lupa sobre os colegas da gangue do algodão doce e um possível envolvimento do casal com grupos antissistema cujos integrantes teriam inclusive entrado no prédio de Cristina. Também estão na mira cinco ou seis contas no Facebook que supostamente eram usadas pelo casal e seus amigos para se comunicar.

Alguns dos perfis, com identidades falsas, foram fechadas recentemente — os investigadores acreditam que isso supostamente teria ocorrido para apagar evidências ou porque seus donos temem se ver envolvidos no imbróglio. Apenas Sabag Montiel e Uliarte, contudo, foram acusados até agora.

Ao La Nación, fontes disseram que os investigadores observam "em detalhes" gravações, analisam comunicações e geolocalizações para tentar estabelecer o passo a passo dos acusados e de possíveis cúmplices. Estão particularmente de olho em "presenças repetidas" de terceiros nos arredores da casa da vice-presidente.

A vice-presidente, por sua vez, foi alvo de novas ameaças de morte na segunda, que levou a Justiça a pedir reforços em sua segurança. De acordo com o ministro de Segurança, Aníbal Fernández, a ameaça foi "uma mensagem curta" feita através do 911, número de emergência do país. A autoria da chamada ainda está sendo investigada, mas veio da cidade de La Plata.

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