O gaúcho Douglas Búrigo, de 40 anos, que morreu em combate na Ucrânia, enviou um áudio para uma pessoa próxima apenas alguns dias antes do trágico acontecimento que lhe custou a vida em que dizia temer não conseguir voltar vivo ao Brasil. Segundo o cunhado dele, Carlos dos Reis, a mensagem teria sido enviada na última terça-feira. No sábado, a família foi comunicada sobre a morte de Douglas pelo comandante do pelotão do qual ele fazia parte. Segundo foi informado, o brasileiro morreu durante um bombardeio nos arredores de Kharkiv na sexta-feira.
"Tô apavorado aqui já. P*, abateram um colega nosso aqui. Meu Deus do céu, cara. A sorte é que eu tava bem bloqueado. O cara se foi, meu. Rapaz, eu vou te falar bem a verdade, Celinha, não sei se volto vivo para o Brasil, mas se eu não voltar vivo, eu quero que vá a bandeira para mim. Pelo amor de Deus, homem, isso aqui não tem quem aguenta, é muita bala. Vou te mandar aí, nosso parceiro morreu ontem. P* que pariu", afirmou Douglas no áudio enviado por meio de um aplicativo de mensagens.
Em 25 de maio, Douglas, ex-militar do Exército, postou um vídeo em seu perfil de Instagram em que mostra uma estação, na fronteira com a Ucrânia, enquanto aguarda o trem que o levaria a Kiev no trajeto que, conforme ele descreve, está no "sentido da guerra". Após um período de treinamento, ele ingressou no mesmo pelotão de André Hack, o primeiro brasileiro a morrer no conflito.
"Agora já deu pra ver como as pessoas estão abatidas", disse Douglas. "E daqui pra frente acho que só piora, né?"
Procurado, o Itamaraty ainda não se pronunciou sobre a morte de Douglas. O contato por e-mail da Embaixada do Brasil na Ucrânia também foi procurado, mas não enviou resposta até o momento.
A prefeitura de São José dos Ausentes (RS), de onde era Douglas, decretou luto de três dias no território da cidade. O documento foi assinado pelo prefeito Ernesto Valim Boeira, nesta segunda-feira.
Douglas Búrigo era ativo nas redes sociais, onde compartilhava seu dia a dia junto aos militares ucranianos. Seus parentes e amigos lamentam sua morte. A mãe dele, Cleuza Marizah Rodrigues Búrigo, contou num post no Facebook como a família recebeu a notícia.
"Teu pai está aqui sofrendo muito, chorando muito, tentando entender por que tu quis ir. Tua irmã Denise chora a todo instante e o Pedrinho pede para ela parar de chorar. A Deborah está em choque, quieta, não conversa, se fechou. Tua filha estava em desespero no telefone. Enfim filho estamos todos arrasados com a noticia da tua partida. E a dor aumenta mais pois não haverá nem uma última despedida. Eu te amo meu filho. Nós te amamos", diz um trecho da postagem.
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