Vladimir Granovski, de 36 anos, mora na Ucrânia há pouco mais de três anos e vive um drama em tempos de guerra. O biólogo molecular conta que tinha a esperança de que o conflito, que se iniciou no dia 24 de fevereiro com a invasão russa à Ucrânia , acabasse em pouco tempo, porém, agora quer voltar para o Brasil e ficar com a esposa, que está em Sorocaba, no interior de São Paulo.
"Minha esposa está grávida no Brasil e vai fazer o primeiro ultrassom, eu quero voltar pra minha família. Ainda tenho 13 dias aqui provavelmente, a situação é muito volátil nas cidades aqui na Ucrânia, daqui a pouco é possível até bombardearem o apartamento em que eu estou."
Granovski disse que três motivos o fizeram não voltar com a esposa e os demais brasileiros, que embarcaram para o Brasil na Polônia em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), no dia nove de março.
"A primeira razão é que existia a chance de avacuação do laboratório que eu trabalhava de Kiev para Lviv, a outra é de que o laboratório se realocasse em um armazém subterrâneo, e a terceira é que eu pensei que o conflito não ia durar muito tempo, com a Rússia atingindo os objetivos dela, mas agora, depois do pronunciamento do Putin ontem (16), vi que isso está longe de acabar, ele quer tranformar a Ucrânia na União Soviética de novo", afirma.
Ainda de acordo com Vladimir, as esperanças em ficar no país acabaram de vez quando o laboratório em que ele trabalhava fez um anúncio. "Meu chefe me chamou e disse que eu deveria trocar de capítulo e virar a página da Ucrânia na minha vida, aí eu vi que não tinha mais nada".
FUGINDO DA GUERRA
O biólogo molecular, que nasceu na antiga União Soviética e veio com os pais para o Brasil em meados de 1992, conta que ao tentar fugir de Kiev para Lviv, no quarto dia de guerra, viu cenas que só tinha assistido em documentários da Segunda Guerra.
"As pessoas estavam desesperadas, nós saímos do nosso apartamento apenas com duas malas nas mãos e nosso cachorro, deixamos tudo, tudo que conquistamos, uma vida toda pra trás."
"Quando chegamos na estação de trem, vi cenas que só tinha visto em documentários da Segunda Guerra Mundial, milhares de pessoas tentando embarcar, mas só podiam mulheres e crianças, os homens ficavam. Em um momento, vi uma criança segurando a mão da mãe, logo depois um homem que estava tentando entrar no trem passou em desespero e empurrou a criança nos trilhos, foi horrível", afirmou Granovski.
Ao desistir de entrar no trem, Vladimir disse que contou com a ajuda de uma amiga, e junto da esposa foi parar em um abrigo secreto, onde estavam soldados e pessoas que estavam tentando fugir da cidade.
"Entramos em um carro, demos várias voltas, trocamos de veículo e depois de um tempo chegamos ao abrigo, lá tinha uns 60 soldados e alguma pessoas que tavam fugindo da cidade, ficamos por uma noite e conseguimos uma van para levar a gente pra Lviv, nessa van tinha colchões da União Soviética, depois trocamos de carro umas três vezes, eles só andavam em estradas locais."
AJUDA NA UCRÂNIA
Depois que a esposa de Vladimir Granovski embarcou para o Brasil, o biólogo molecular vem tentando ajudar as pessoas como pode, traduzindo textos e diálogos, inclusive soldados do país.
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"Eu estou em um quarto de apartamento em Lviv, tem algumas pessoas aqui, eu ajudo um casal a traduzir algumas coisas em outras línguas. Eu também criei uma vaquinha online no valor de 600 mil reais pra tentar comprar coletes e capacetes para os soldados daqui da Ucrânia. Se não bater a meta, eu vou pelos menos comprar kits de primeiros socorros."
Atualmente, a vaquinha que o brasileiro fez chegou a sete mil reais. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele fala como as pessoas podem ajudar e faz um apelo.
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