Manifestações convocadas por sindicalistas e organizações indígenas ocorrem há semanas no Equador
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Manifestações convocadas por sindicalistas e organizações indígenas ocorrem há semanas no Equador

Um dia depois que o presidente do Equador , Guillermo Lasso, anunciou uma pequena redução nos preços dos combustíveis, líderes indígenas e do governo se reuniram nesta segunda-feira para discutir o fim dos protestos no país, que completaram duas semanas. Mas, após quase duas horas de conversas, do qual Lasso não participou, o movimento indígena não cedeu e manteve sua principal demanda, uma redução de US$ 0,40 no preço do combustível.

Participaram do encontro, com mediação da Igreja Católica, o líder da poderosa Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), Leonidas Iza; o ministro de Governo, Francisco Jiménez; a presidente da Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Diana Atamain; e o presidente da Assembleia, Virgilio Saquicela.

O movimento indígena e o governo já haviam tido um primeiro encontro a portas fechadas no sábado, sobre o qual não foram divulgados detalhes. Lasso não participou em nenhuma das ocasiões, mas enviou representantes do governo.

Força de Iza
O encontro desta segunda serviu para mostrar a força de Iza, que se manteve firme em sua lista com dez reivindicações, apesar de reconhecer que o governo deu sinais de abertura. Na quinta-feira, cerca de 5 mil manifestantes foram autorizados a permanecer na Casa da Cultura Equatoriana (CCE), tradicionalmente um local de apoio a manifestantes e até então fortemente ocupada por policiais.

No sábado, Lasso pôs fim ao estado de emergência, que impunha um toque de recolher noturno em Quito e, no domingo, anunciou a redução no preço dos combustíveis, embora não na proporção que os manifestantes pediam.

A redução de 10 centavos de dólar por galão deixa o preço do diesel em US$ 1,80 e o da gasolina comum em US$ 2,45, representando uma redução de 5,3% e 4%, respectivamente. Os indígenas reivindicam os valores de US$ 1,50 para o galão do diesel e US$ 2,10 para o da gasolina. O dólar é a moeda corrente no Equador desde o ano 2000.

Num primeiro momento, a Conaie havia classificado a redução como “insuficiente e insensível”, mas acabou concordando com o encontro desta segunda.

Na reunião, Iza questionou por que o governo demorou tanto para responder às suas demandas e disse que os protestos continuarão “pelo tempo que for necessário, sejam dias ou semanas”. Ele ainda acusou Lasso de infiltrar policiais nas manifestações e denunciou que, na última sexta-feira, houve repressão da força pública na Casa de Cultura, mesmo após a retirada dos policiais do local.

“A ideia é que, que de alguma forma, possamos ter uma política que beneficie mais os pobres. Os povos indígenas foram realmente insultados”, disse. "Esperaram que chegássemos em Quito para que quatro decretos fossem assinados.”

O Executivo, através de Jiménez, defendeu que, embora o presidente não estivesse presente no encontro, “o governo está” e pediu que o movimento ponha fim aos protestos.

“Vamos continuar no diálogo, mas também precisamos de respostas, não apenas demandas”, afirmou.

Votação adiada
Lasso tem hesitado entre negociar com os manifestantes e aumentar a repressão, dando sinais contraditórios que, segundo analistas, impedem que a negociação avance. Depois de voltar a classificar os protestos de “tentativa de golpe”, na última sexta, concordou em suspender o estado de emergência em seis das 24 províncias do país, um dia depois.

Cerca de 14 mil pessoas protestam no Equador há quase uma semana, dez mil deles indígenas que vieram de várias comunidades do país. Dentre a série de reivindicações, a principal é a redução dos preços dos combustíveis, que encarecem os fretes nas regiões agrícolas e levou prejuízos aos produtores.


Até agora, ao menos cinco pessoas morreram nos protestos, segundo a Conaie e organizações de direitos humanos, e 143 foram detidas, de acordo com o governo. Há também seis pessoas desaparecidas, segundo os os manifestantes, enquanto o governo fala em 18 policiais retidos por indígenas.

Os bloqueios de vias e a tomada de mais de 1.100 poços colocam em xeque o petróleo, principal produto de exportação do país. Se os protestos seguirem, o Equador pode deixar de produzi-lo em 24 horas, segundo o governo.

Em meio aos protestos, o Congresso começou a debater uma proposta de impeachment do conservador Lasso, que está no poder há um ano. A proposta foi apresentada pelo partido União pela Esperança, do ex-presidente Rafael Correa. Depois de sete horas de deliberações no domingo, no entanto, a votação foi adiada para quarta-feira.

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