Uma médica que registrou, por meio de uma câmera acoplada ao seu capacete, os atendimentos que fazia durante os primeiros dias da ofensiva russa contra a cidade de Mariupol, na Ucrânia, foi solta três meses depois de ter sido capturada pelo exército inimigo. Yuliia Paievska, conhecida na Ucrânia como Taira, apelido escolhido por ela e inspirado no jogo “World of Warcraft”, usou o equipamento para gravar cerca de 256 gigabytes de vídeos dos atendimentos feitos pela sua equipe, ao longo de duas semanas, para salvar os feridos, incluindo soldados russos e ucranianos.
Taira e um colega foram apreendidas pelas forças russas em 16 de março, no mesmo dia em que um ataque aéreo atingiu um teatro no centro da cidade, matando cerca de 600 pessoas, de acordo com uma investigação feita pela agência AP. “Foi uma sensação tão grande de alívio. Essas palavras parecem tão comuns, e eu nem sei o que dizer”, disse o marido de Yuliia, Vadim Puzanov, que falou por telefone com Taira, que estava a caminho de um hospital de Kiev.
O presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, anunciou a libertação de Taira em um discurso nesta sexta-feira. “Sou grato a todos que trabalharam para esse resultado. Taira já está em casa. Continuaremos trabalhando para libertar todos”, disse.
Primeiros dias no front
Os vídeos mostravam o trabalho de Yuliia em um hospital militar onde liderou os cuidados com os feridos, no período entre 6 de fevereiro e 10 de março. Nas filmagens, também é possível ver a médica salvando tanto soldados russos quanto civis ucranianos.
No dia da invasão da Rússia, em 24 de fevereiro, Yuliia gravou os profissionais de saúde enfaixando o ferimento aberto na cabeça de um soldado ucraniano. Dois dias depois, as imagens mostram seus colegas de trabalho embrulhando um russo ferido com um cobertor. Em uma outra gravação, duas crianças — um irmão e uma irmã — são atendidos. Ambos chegam gravemente feridos após um tiroteio que matou seus pais.
As imagens se tornaram públicas no dia 19 de maio. Yuliia entregou um cartão de memória com 256 gigabytes de vídeos para uma equipe da agência de notícias Associated Press — os últimos jornalistas internacionais na cidade de Mariupol — quando eles deixaram o local em um comboio humanitário, em 15 de março. No dia seguinte, Yuliia e seu motorista foram capturados por soldados russos. Desde então, ela é prisioneira de guerra.
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