Presidente da Rússia, Vladimir Putin
Reprodução / Twitter - 27.03.2022
Presidente da Rússia, Vladimir Putin

Rússia fechou a torneira de gás para Polônia, Bulgária e Finlândia, além de reduzir drasticamente o fluxo para Alemanha, Áustria e Itália. Em paralelo, a operadora francesa GRTgaz anunciou que não recebe gás do país de Vladimir Putin há dois dias, devido à “interrupção do fluxo físico” entre os territórios francês e o alemão.

Com a  invasão na Ucrânia prestes a entrar em seu quinto mês, Moscou pressiona os europeus em um dos lugares mais doloridos: a vulnerabilidade energética, com cerca de 40% do gás europeu vindo da Rússia. Bruxelas classifica os cortes como uma “chantagem” de Putin, que retalia pelas sanções aplicadas ao seu país e exige que o pagamento pela energia seja em rublos.

Na maioria dos países europeus, a escassez ainda não é sentida, pois em pleno verão não é necessário ligar o aquecimento. Mas é justamente nesta época que os países costumam reabastecer suas reservas, com o objetivo de estocar pelo menos 80% das reservas da UE até novembro.

As preocupações, contudo, se acirraram nos últimos dias, após uma onda de calor na Espanha e na França aumentar a compra de gás — com mais ares-condicionados ligados, o consumo de energia subiu. Nesta sexta, segundo a agência Reuters, o fluxo de gás ficou novamente aquém da demanda.

A Itália e a Eslováquia relataram terem recebido menos da metade do volume habitual pelo gasoduto Nord Stream 1, que cruza o Mar Báltico da Rússia até a Alemanha. O sistema é responsável por entregar cerca de 40% do gás que chega à União Europeia (UE).

A francesa GRTgaz disse que não recebe energia há dois dias e que, desde o início do ano, o fluxo reduziu cerca de 60%. A empresa afirma não conhecer a causa do corte, mas coincide com a redução significativa das entregas à Alemanha, que a estatal russa Gazprom pôs na conta de problemas técnicos.

Na terça-feira, a Gazprom anunciou que reduziria em 40% a quantidade de gás enviado à Alemanha pelo Nord Stream 1 porque uma turbina, que havia sido enviada à Siemens para reparos, não havia retornado a tempo — algo confirmado pelo grupo alemão. A justificativa, contudo, não satisfez o ministro alemão de Economia e Clima, Robert Habeck, que a classificou como uma “decisão política”.

"Os russos usam o gás como arma há muito tempo", disse à AFP Thierry Bros, professor do Instituto Sciences Po, em Paris. "A Gazprom não precisa de nenhuma justificativa. É uma decisão política do Kremlin."

O grau de dependência energética varia entre os países-membros: a França está entre o grupo menos vulnerável, com apenas 17% do seu gás vindo da Rússia. A Alemanha, por sua vez, importa 55% do seu gás dos russos. Entre os búlgaros, a parcela chega a 85%.

A Itália, onde no ano passado 40% de todo o gás importado veio da Rússia, disse nesta sexta que recebia apenas metade dos 63 milhões de metros cúbicos diários solicitados à Gazprom. Roma já havia relatado fluxos abaixo do solicitado nos últimos dois dias. Tal qual o governo alemão, o premier do país, Mario Draghi, tachou a desculpa da estatal russa de “mentira”.

O país disse que pode decretar um estado de alerta na próxima semana se os cortes continuarem, o que significaria medidas de racionamento e o maior uso do carvão, extremamente poluente, como fonte energética. O governo alemão classificou a situação no país como “tensa”, mas afirmou que os estoques do país estão estáveis neste momento.

Segundo analistas da ING ouvidos pela Reuters, o estoques de gás liquefeito da UE está a 52% de sua capacidade, um pouco abaixo da média dos últimos cinco anos, mais acima dos 43% registrados há exatamente um ano.

— Com informações de AFP

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