Aos 96 anos de idade, a rainha Elizabeth II celebra, nesta semana, 70 anos de coroação, batendo o recorde da rainha Vitória como o reinado mais longevo da história britânica. Após tantos anos no trono, muitos se questionam sobre o que acontecerá quando a monarca morrer. A resposta a essa pergunta é bastante complexa e vai além da sucessão ao trono. Há uma série de protocolos a serem seguidos de uma longa e minuciosa operação traçada há décadas pelo Palácio de Buckingham, chamada de “London Bridge” (ponte de Londres, em tradução do inglês).
Em 2017, o jornal britânico The Guardian revelou os trâmites do plano até então secreto, desde os primeiros instantes após a morte da rainha, até a coroação do novo rei.
O GLOBO listou alguns dos principais pontos dessa revelação:
'A ponte de Londres caiu’
Grande parte dos planos que existem para esse momento fúnebre leva em consideração que a rainha vai morrer após uma curta doença, acompanhada de seus médicos e em seus aposentos reais.
Antes mesmo de sua morte, o Palácio de Buckingham vai divulgar boletins sobre o estado de saúde da monarca, mas sem muitos detalhes.
Assim que Elizabeth II morrer, o primeiro a lidar com a notícia, após a Família Real, será seu secretário particular, Sir Edward Young. É ele quem vai noticiar o primeiro-ministro britânico sobre a morte da soberana por meio de um código: “a Ponte de Londres caiu”.
A informação, nesse ponto ainda ultrassecreta, será transmitida por frequência captável por equipamentos específicos, de forma que não se espalhe antes da hora. Todas as nações da Commonwealth serão notificadas nesse momento.
O príncipe Charles, como herdeiro imediato na linha de sucessão, ascende automaticamente ao posto de rei.
Soam os alarmes
O anúncio público sobre a morte da rainha virá algumas horas depois, por meio da agência de notícias britânica, a Press Association, e será transmitido para toda a imprensa mundial simultaneamente.
Enquanto isso, um funcionário do Palácio de Buckingham vai pregar um anúncio com bordas pretas nos portões. O website do palácio também vai ficar todo preto, com uma página única mostrando o mesmo anúncio de luto, que deve durar 12 dias.
Um alarme da época da Guerra Fria, desenvolvido unicamente para soar em situações críticas (como em ataques bélicos), será ativado na rádio BBC. O equipamento é tão único que grande parte da equipe que trabalha na emissora jamais o viu funcionando — ou somente em raros testes.
Nas outras emissoras de rádio inglesas, há alguns padrões a serem seguidos, como luzes especiais para notificar as equipes de que algo sério aconteceu e que devem trocar as músicas que estiverem tocando para uma playlist específica com tom mais fúnebre.
Na TV, a programação inglesa será interrompida antes dos noticiários começarem. Muitas emissoras já ensaiam o procedimento há décadas.
Com a notícia da morte de Elizabeth divulgada a todo mundo, as pessoas serão liberadas para voltarem para casa mais cedo e os pilotos de aeronaves avisarão os passageiros.
O funeral da rainha e a ascensão do novo rei
Em todos os planos — mesmo nos que consideram a morte da monarca fora do país —, o corpo de Elizabeth será encaminhado para a Sala do Trono, no Palácio de Buckingham. Lá, haverá um altar, o manto, o estandarte real e quatro Guardas Granadeiros com rifles apontados para o chão e os chapéus inclinados sobre o rosto.
Às 11 horas da manhã seguinte à morte de Elizabeth, o filho da rainha, príncipe Charles, será proclamado rei pelo Parlamento, passando por uma série de ritos e percorrendo o Reino Unido. Enquanto isso, ele precisará decidir por qual nome será chamado: se rei Charles III ou por algum outro nome.
Sua esposa, Camilla Parker-Bowles, a duquesa da Cornualha, também vai receber um novo título. Por tradição, a mulher do rei é chamada de rainha consorte, mas espera-se que Charles a apresente como rainha Camilla.
O funeral só acontecerá após nove dias da morte da monarca, sob organização do 18º duque de Norfolk, que supervisionam funerais reais desde 1672.
Quatro dias após a morte da soberana, o caixão ficará sob vigília de quatro dias no hall do Palácio de Westminster. O caminho até o local será o primeiro grande desfile militar do funeral e poderá contar com a presença de até um milhão de pessoas — e dos famosos corgis, raça de cachorros favorita da rainha.
Dez pessoas carregarão o caixão real — que deve ter uma tampa falsa para guardar as joias da coroa e revestido de chumbo — até a Abadia de Westminster, às 11h do nono dia, onde esperarão 2 mil convidados. Elizabeth será a primeira monarca britânica a ter o funeral no local desde 1760. A partir desse momento, todo o país ficará em silêncio.
Ao final da cerimônia, o caixão será posto em uma carruagem verde e transportado pela Marinha Real até o claustro no Castelo de Windsor. Lá, será içado até o jazigo real, a portas fechadas e sem transmissão da imprensa. Por fim, o rei Charles vai lançar um punhado de terra vermelha de uma tigela de prata sobre o caixão.
A coroação de Charles, no entanto, ainda levará um tempo para ocorrer. A cerimônia de coroação da rainha Elizabeth II só aconteceu após um ano e quatro meses da ascensão ao trono.
Já o príncipe William só receberá o título de príncipe de Gales quando o pai o nomear como tal, o que também pode levar alguns anos. A esposa de William, Kate Middleton, ganharia o título de princesa de Gales assim como a sua sogra, a princesa Diana.
O hino nacional inglês também sofrerá uma pequena alteração: em vez de “Deus salve a rainha”, o trecho será modificado para “Deus salve o rei”. As libras também sofrerão uma mudança, com o rosto de Charles estampado nas notas.
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