Os moradores da região de Kherson, no Sul da Ucrânia e desde março ocupada pela Rússia, estão sem acesso a redes de telecomunicação e à internet desde segunda-feira, e autoridades russas e ucranianas trocam acusações sobre a responsabilidade pelo apagão. Na semana passada, as forças de ocupação anunciaram que toda a região passaria a usar o código internacional da Rússia.
Segundo comunicado do Serviço de Comunicações Especiais e Proteção da Informação da Ucrânia, uma ação “do regime de ocupação” levou ao desligamento de equipamentos usados pelas redes locais — cabos também teriam sido desconectados.
“Os moradores da região estão sem serviços móveis ucranianos e sem acesso à internet, e também não têm meios de fazer chamadas locais e internacionais usando telefones fixos”, diz o comunicado.
Moradores e representantes de Kiev ouvidos pela imprensa ucraniana dizem que o apagão começou no final da tarde de segunda-feira, e foi antecedido por instabilidade nos serviços.
"A comunicação está sendo cortada há três dias. As forças de ocupação estão constantemente manipulando, acusando as Forças Armadas da Ucrânia de cortarem a comunicação e de realizarem ataques. Mas este não é o caso", disse ao site Suspilne Serhiy Khanya, conselheiro do chefe da administração cívico-militar ucraniana de Kherson.
Contudo, essa versão é rejeitada pela Rússia, que acusa os ucranianos de realizarem um grande bombardeio, que, como relatado pela agência Tass, deixou mais de 500 mil pessoas sem serviços de telefonia móvel e internet. As autoridades ligadas a Moscou criaram zonas de wi-fi gratuitas para amenizar os impactos do apagão, segundo a mídia russa.
Tratada como um “acidente” por Moscou, a aparente desconexão dos sistemas de telecomunicações de Kherson do restante da rede ucraniana vem dias depois que os russos anunciaram que toda a região, além da vizinha Zaporíjia, passaria a operar com o código internacional +7, o mesmo usado em toda a Federação Russa.
As lojas já oferecem chips com números russos — eles são vendidos por cerca de 400 rublos, ou R$ 25, e eles não foram atingidos pelo apagão.
"A conexão funciona, mas apenas a conexão russa. O que foi desligado ontem [segunda-feira] foi a conexão ucraniana. Agora todos que conseguiram comprar um chip com o código +7 têm conexão", disse um representante da administração russa de Kherson à Tass.
Vizinha à Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014, Kherson integra um corredor dominado pelos russos que se estende da região até a fronteira russa, e que serve como uma área estratégica dentro do conflito iniciado em fevereiro.
Apesar dos protestos de parte da população, os russos já instauraram um governo local apoiado por Moscou e algumas medidas apontadas como tentativas de “russificar” Kherson, como a simplificação do processo para a cidadania russa, a adoção do rublo como moeda no comércio e serviços e, agora, mudanças no sistema de telecomunicações, com um novo código internacional, novos números de telefones celulares e um novo provedor de internet. Ações semelhantes foram adotadas em outras áreas ocupadas, como Donetsk e Luhansk, no Leste do país.
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