A Rússia intensificou sua ofensiva no Donbass nesta sexta-feira, bombardeando um dos últimos bastiões controlados pela Ucrânia em Luhansk, em uma tentativa de tomar o controle de uma das províncias onde separatistas pró-Moscou travam uma batalha desde 2014 contra as forças ucranianas.
Serguei Shoigu, o ministro da Defesa da Rússia, afirmou nesta sexta que as tropas russas estão perto de controlar totalmente a província.
"A libertação da República Popular de Luhansk está perto de ser concluída", declarou Shoigu, citando o nome da província separatista em Luhansk, durante uma reunião com funcionários do ministério e do Exército, de acordo com agências de notícias russas.
Autoridades ucranianas disseram que as forças russas lançaram um bombardeio maciço de artilharia contra Sievierodonetsk, um dos últimos redutos controlados por Kiev na província, que é uma das duas repúblicas separatistas no Sudeste ucraniano que Vladimir Putin reconheceu unilateralmente como independente antes de invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro.
Putin já havia anunciado no mês passado que a nova fase de sua operação militar era "liberar" completamente a região do Donbass, formada pelas províncias de Luhansk e Donetsk.
Sievierodonetsk e a cidade vizinha Lyshchansk formam a parte leste de um bolsão ucraniano que a Rússia tenta invadir desde meados de abril, após falhar na captura de Kiev. O Estado-Maior da Ucrânia disse que Moscou lançou uma ofensiva em Sievierodonetsk, mas sofreu perdas e foi forçada a recuar.
A Guarda Nacional da Ucrânia divulgou um vídeo também nesta sexta que mostra a destruição de uma ponte que liga Severodonetsk à cidade de Rubizhne, em uma tentativa de desacelerar o avanço das tropas russas na área.
O governador de Luhansk, Serhiy Gaidai, disse nesta sexta que militares russos dispararam contra uma escola em Severodonetsk, onde 200 pessoas — muitas delas crianças — estavam escondidas. Segundo ele, três adultos morreram.
Gaidai afirmou que cerca de 11 mil casas foram "parcial ou completamente destruídas" em Luhansk, acrescentando que as perdas econômicas são estimadas "em centenas de bilhões de hryvnias (a moeda ucraniana)". As declarações, porém, não puderam ser verificadas de forma independente.
"O Exército russo iniciou uma destruição muito intensa da cidade de Sievierodonetsk, a intensidade do bombardeio dobrou, eles estão bombardeando bairros residenciais, destruindo casa por casa", dusse Gaidai em seu canal do Telegram.
No dia anterior, ataques da artilharia russa em Sievierodonetsk e em áreas próximas mataram 12 pessoas, segundo o governador.
Apesar de perder terreno em outros lugares nas últimas semanas, as forças russas avançaram na sua frente em Luhansk, no que alguns analistas militares veem como um grande esforço para alcançar objetivos de guerra reduzidos de capturar todo o território reivindicado por separatistas pró-Rússia.
Na noite de quinta, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky havia descrito as condições no Donbass como um "inferno", afirmando que a região foi "completamente destruída" pela invasão russa.
Capturar Luhansk e Donetsk permitiria que a Rússia reivindicasse mais uma vitória, segundo seu objetivo divulgado no mês passado. O Kremlin já deu outro passo adiante na guerra esta semana, quando a Ucrânia ordenou que sua guarnição no principal porto de Donbass, na cidade de Mariupol, se retirasse após um cerco de quase três meses.
Segundo o ministro da Defesa russo, cerca de 2 mil combatentes ucranianos se renderam nos últimos quatro dias no complexo siderúrgico de Azovstal, que representava o último reduto de resistência ucraniana na cidade portuária.
Kiev não confirmou quantos combatentes se renderam, mas o Reino Unido deu a primeira confirmação oficial por parte do Ocidente de que uma grande parte das forças de fato abaixou as armas, dizendo que cerca de 1.700 se renderam. Acredita-se que mais pessoas ainda estejam no local, segundo Londres.
Não está claro, porém, se o objetivo final do Kremlin seria apenas o controle do Donbass. Em uma estratégia ainda não ratificada oficialmente, um comandante russo chegou a dizer que o objetivo era dominar todo o Sul ucraniano, criando uma ligação com a Transnístria, a região separatista pró-Moscou na Moldávia — plano também confirmado pela Inteligência americana.
Por outro lado, as forças russas na Ucrânia foram repelidas nas últimas semanas da área ao redor da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, na sua retirada mais rápida desde que foram forçadas a sair do Norte ucraniano e da área ao redor de Kiev no final de março.
Mas as tropas de Moscou ainda controlam uma grande faixa do Sul e do Leste da Ucrânia, e o fim dos combates em Mariupol significa que o território está praticamente intacto. Ainda assim, analistas militares dizem que a Rússia está usando seu poder de fogo ofensivo e pode estar ficando sem tempo para alcançar seu objetivo de capturar todo o Donbass.
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