A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, expressou neste domingo condolências às vítimas e suas famílias um dia depois que um supremacista branco lançou um ataque em um supermercado em Buffalo, segunda maior cidade do estado de Nova York, deixando 10 mortos e três feridos . Entre as 13 vítimas, 11 eram negras e duas eram brancas, informou a polícia.
Ecoando o presidente Joe Biden, que na véspera condenou a ação como um ataque motivado por racismo e ódio, Harris afirmou que os EUA veem atualmente uma "epidemia de ódio que tem sido evidenciada por atos de violência e intolerância".
"Nos demos denunciar e condenar isso. Crimes de ódio com motivação racial ou atos de extremismo violento são prejudiciais a todos nós", disse em um comunicado.
O atirador, identificado como Payton Genderon, um jovem branco de 18 anos, transmitiu o ataque ao vivo pelo Twitch, plataforma de transmissão on-line de videogames, segundo a polícia.
Ele foi preso sem direito à fiança na loja da rede regional de supermercados Tops Friendly Markets e logo depois foi acusado de "assassinato em primeiro grau", o que pode resultar em pena de prisão perpétua sem liberdade condicional.
Questionada pela imprensa se o agressor poderia enfrentar a pena de morte em nível federal, a procuradora do distrito oeste de Nova York, Trini Ross, respondeu que "todas as opções estão na mesa".
Durante o crime, o agressor, cuja grafia do sobrenome aparece como Gendron na internet, usou capacete equipado com câmera para transmitir a ação ao vivo, colete à prova de balas e roupas de tipo militar, segundo as autoridades judiciárias locais e a polícia.
“Investigamos esse incidente como um crime de ódio e um caso de violência extremista de motivação racial”, declarou no sábado Stephen Belongia, agente especial do escritório do FBI em Buffalo, no Oeste do estado de Nova York e perto da fronteira com o Canadá.
Em um comunicado divulgado no sábado, Biden denunciou o ataque como "terrorismo doméstico" e agradeceu pelo trabalho da polícia e dos serviços de emergência.
"Qualquer ato de terrorismo doméstico, incluindo um ato cometido em nome de uma repugnante ideologia de nacionalismo branco, é antitético a tudo o que defendemos nos EUA", afirmou.
No fim da noite de sábado, a governadora de Nova York, Kathy Hochul disse que o suspeito era um "supremacista branco que realizou um ato de terrorismo".
“[Isso foi uma] execução em estilo militar tendo como alvo pessoas que simplesmente queriam comprar mantimentos no supermercado da vizinhança”, disse ao visitar Buffalo.
Neste domingo, presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, disse que a Casa continuará seus esforços para adotar medidas adicionais que fortaleçam a ações para combater o "terrorismo doméstico".
Os crimes de ódio alcançaram seu mais alto nível em 12 anos em 2020, com mais de 10 mil pessoas reportando ofensas relacionadas à raça, gênero, sexualidade ou deficiência. Crimes contra asiáticos e negros tiveram um aumento em particular nesse ano, sugerem dados do FBI — como não há a exigência de que as polícias submetam os dados desses tipos de crime ao FBI, considera-se que os números disponíveis estejam subestimados.
No ataque, o agressor disparou primeiro contra quatro pessoas no estacionamento do supermercado, três das quais morreram, e depois começou a disparar dentro da loja, explicou a polícia.
Entre os mortos dentro do estabelecimento estava um policial aposentado que trabalhava como segurança. Ele "confrontou o suspeito", mas o atirador o matou com seus disparos, disse o comissário de polícia de Buffalo, Joseph Gramaglia.
Quando a polícia chegou ao local, o atirador apontou a arma para si mesmo, na altura do pescoço, antes de se entregar às autoridades, ainda de acordo com Gramaglia.
Foi um ato de "pura maldade", disse John Garcia, xerife do condado de Erie, onde fica Buffalo.
“É um crime racista e motivado pelo ódio”, acrescentou.
Manifesto racista
A imprensa americana informou que as autoridades investigam um manifesto "de caráter racista" divulgado na internet, no qual o suspeito explicaria seus planos e motivações.
O jornal The New York Times afirma que o suspeito se "inspirou" em atos de supremacia branca, como o assassinato de 51 muçulmanos em mesquitas da cidade neozelandesa de Christchurch em 2019.
De acordo com o jornal local The Buffalo News, a arma semiautomática usada no ataque tinha epíteto racial e o número 14, símbolo da supremacia.
O promotor distrital do condado, John Flynn, disse que o suspeito usou uma "arma de ataque", mas não especificou o tipo.
Em reação ao fato de que o atirador divulgou o crime ao vivo em sua plataforma, a Twitch se declarou "devastada" e prometeu "tolerância zero contra todas as formas de violência".
“Investigamos e confirmamos que, menos de dois minutos após o início da violência, retiramos as imagens transmitidas”, afirmou um porta-voz do serviço de streaming. “Estamos tomando todas as medidas apropriadas, incluindo a supervisão de qualquer conta que retransmita este conteúdo.”
Byron Brown, prefeito de Buffalo, disse que o atirador "viajou horas até a comunidade para cometer o crime".
“É um dia de grande dor para nossa comunidade”, disse Brown.
O ataque é o mais recente de motivação racial nos EUA. Em 2019, um homem branco armado viajou várias horas pelo Texas e matou 23 pessoas em um Walmart em El Paso, onde grande parte da população é hispânica.
Quatro anos antes, em Charleston, Carolina do Sul, um homem branco abriu fogo em uma igreja da comunidade afro-americana e matou nove pessoas.
Nos dois casos, os atiradores publicaram manifestos de ódio antes de cometer os ataques.
Apesar dos recorrentes ataques a tiros fatais e de uma onda de violência armada em todo o país, várias iniciativas para reformar as leis de armas fracassaram no Congresso dos EUA, deixando para estados e prefeituras a decisão de determinar as próprias restrições.
Considera-se que o ataque de sábado em Buffalo seja o pior do tipo nos EUA neste ano. Cerca de 40 mil mortes por ano envolvem armas de fogo nos EUA, dado que inclui suicídios.
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