Joia criada com estilhaços de bomba
Ansa
Joia criada com estilhaços de bomba

Desde quando Kiev começava a registrar as primeiras bombas e mísseis, em fevereiro, o joalheiro Anton Boyko, 30 anos, tentava se alistar para lutar na guerra . Mas, mesmo sem pegar em armas, agora trabalha em uma espécie de "linha de frente".

Sozinho com sua lente, fechado em seu laboratório, tornou-se o artista dos espólios dessa guerra: pingentes, medalhões e anéis são feitos com diversos materiais que ainda tinha em seu estúdio, além de lascas de bombas ou estilhaços que feriram militares - ou até mesmo um prato de metal feito para um kamikaze.

Mas, o trabalho também inclui amuletos para os militares que vão lutar na guerra e outras coisas preciosas para aqueles que perderam suas casas nos ataques. As peças que mais o impactaram são os pedidos dos militares.

"Um soldado me pediu para fazer um anel com fragmentos de um objeto que o feriu no campo de batalha. Outro pediu um medalhão para inserir seus dados já que era um kamikaze, alguém que decidiu se explodir no fronte de batalha. De uma maneira ou de outra na guerra, todos correm riscos, mas criar alguma coisa para alguém que iria fazer algo do gênero, nunca tinha me acontecido", relatou à ANSA.

Boyko tornou-se o joalheiro dos soldados ucranianos de um dia para outro quando, ao esperar em uma longa fila de alistamento para tentar entrar no exército como voluntário, os pedidos dos clientes chegavam a ele sempre como urgentes. Naquele dia, chegou também um pedido de um militar que queria uma aliança de casamento para poder se casar antes de ir para o fronte de combate.


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"Ali, eu percebi que o meu trabalho poderia me tornar muito útil', disse o joalheiro à ANSA. Ele, que é um autodidata que aprendeu a arte de fundir metais preciosos desde criança, publicou um post no início de março em que se oferecia a fazer joias de maneira gratuita.

"Ouvi dizer de vários locais que, nos últimos dias, nasceram muitas crianças e muitos casais querem se casar. Por isso, decidi que vou continuar a trabalhar enquanto puder permanecer um civil e até quando meu laboratório não for bombardeado. Farei tudo à mão: tenho ainda um pouco de prata, algumas gemas e titânio que consegui comprar 12 horas antes do primeiro ataque. Para o nosso povo, tudo será gratuito", escreveu na postagem.

O artista, porém, informou que daria prioridade para os militares e que faria "símbolos de fé e qualquer coisa que dá esperança a uma pessoa". "Percebi hoje que o meu não é o trabalho mais importante, mas talvez alguém tenha necessidade. É hora que a beleza comece a representar aqueles para a qual foi criada", acrescentou.

Desde a postagem, mais de 80% dos pedidos que chegaram foram de alianças feitas de qualquer metal que ele encontrou, com prata e titânio. Boyko informa que estima que as peças valham cerca de 90 euros cada só em materiais. 

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