Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputam segundo turno das eleições na França no próximo domingo (24)
Montagem iG / Imagens: Rémi Noyon / Flickr e Remi Jouan / Wikimedia Commons
Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputam segundo turno das eleições na França no próximo domingo (24)

Desde que Lisa Troadec se converteu ao islamismo e começou a usar um hijab, há quase uma década, a francesa diz que foi submetida a abusos verbais e olhares na rua. Ela teme que o preconceito que ela sente fique ainda mais forte se a líder de extrema direita Marine Le Pen vencer a eleição presidencial de domingo (24).

A insistência de Le Pen em proibir as mulheres muçulmanas de usar o véu islâmico em espaços públicos seria, disse Troadec, um ato de discriminação contra a maioria de muçulmanos como ela, que aderem aos rígidos valores seculares da França.

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" Estou genuinamente com medo de que Le Pen vença", disse Troadec, que administra uma creche em Paris. "Se isso acontecer, não tenho certeza de como será a vida no dia seguinte."

Na esperança de manter Le Pen fora do poder, ela votará em Macron, mas a contragosto. O histórico dele a respeito do Islã a deixou profundamente desiludida e convencida de que o sentimento antimuçulmano está crescendo na França.

Os dados confirmam o que ela sente. Números do Ministério do Interior mostram um forte aumento de atos discriminatórios contra muçulmanos em 2021, enquanto outras religiões tiveram um declínio. Ela descreve votar em Le Pen ou Macron como presidente como "uma escolha entre a islamofobia e a islamofobia".

‘Separatismo islâmico’

Macron afirma que continuará lutando contra o que chama de "separatismo islâmico" e defenderá o secularismo francês, que, segundo ele, permite que todos os cidadãos pratiquem livremente sua fé. Ele diz ser contra a proibição de símbolos religiosos no espaço público.

Já Le Pen quer proibir o uso do hijab em espaços públicos, mas não de outros símbolos religiosos, como o kippa judaico. Ela promete lutar contra as "ideologias islâmicas", que ela chama de "totalitárias".

Nos últimos cinco anos, o governo Macron aprovou uma série de leis e medidas que, segundo ele, são para combater o extremismo religioso e preservar os valores seculares nacionais. Mas deixou muitos muçulmanos como Troadec sentindo que a islamofobia está em ascensão.

Uma amiga de Troadec, Sherazade Rouibah, de 23 anos, chama de cínicas as propostas de Macron aos eleitores muçulmanos entre os dois turnos de votação. Na semana passada, por exemplo, o presidente parabenizou em Estrasburgo uma jovem muçulmana, usando o hijab, que chamou a si própria de feminista.

"Por cinco anos você está contra nós e agora está interessado em nossos votos? E o pior é que vamos votar nele mesmo porque Le Pen é pior", disse Rouibah com um riso amargo.

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Falta de confiança

Pesquisas mostram que uma vitória de Le Pen no domingo é improvável, mas não impossível. Em 2017, quando os dois candidatos se enfrentaram, Macron venceu Le Pen com 66,1% dos votos.

Mas nem todos os muçulmanos votarão em Macron. Percepções de que o atual presidente adotou políticas de direita sobre questões de identidade e economia, e que é um "presidente dos ricos" e distante do povo levarão alguns a votar em Le Pen e muitos outros a se absterem completamente da votação.

"Há pessoas que vão votar nela e que dizem isso", afirmou Troadec.

O reitor da mesquita de Villeurbanne, em Lyon, Azzedine Gaci, disse que ele e outros líderes muçulmanos locais estão pedindo que sua congregação apoie Macron no segundo turno, em nome da proteção das liberdades religiosas da França.

Ele descreve o manifesto de Le Pen como "um projeto que conclama ódio aos muçulmanos, ao fechamento de mesquistas e que fala sobre os muçulmanos noite e dia".

Um voto para Macron, diz ele, não é um voto de apoio, mas para bloquear a extrema direita do poder.

Em Villeurbanne, Hedi Baiben, 42 anos, disse que muitos de seus amigos acham difícil votar em Macron, mesmo que, em sua opinião, a escolha certa seja votar contra a extrema direita.

"Hoje em dia é difícil para os frequentadores de mesquitas votar em pessoas em quem não confiam", disse Baiben, membro de longa data da comunidade muçulmana local, enquanto supervisionava o preparo e a entrega de refeições para estudantes de famílias de baixa renda durante o mês sagrado do Ramadã.


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