Parlamentares do Reino Unido aprovaram nesta quinta-feira que uma comissão investigue se o primeiro-ministro Boris Johnson enganou a Casa sobre o "partygate", como ficou conhecido o escândalo no qual o premier participou de várias festas, inclusive com bebidas alcoólicas, na residência oficial, em Downing Street, no período de quarentena por causa da pandemia.
De acordo com o código ministerial, enganar conscientemente o Parlamento é uma ofensa que deve resultar em renúncia. A expectativa anteriormente era de que a moção desta quinta não seria aprovada, porque Boris aparentava manter o apoio da maioria dos legisladores em seu Partido Conservador.
No entanto, durante um debate parlamentar, políticos de todos os lados pediram a saída de Boris, e os parlamentares apoiaram a moção movida pelo Partido Trabalhista, oposição a Boris, que diz que as declarações do premier "parecem enganar a Câmara" e deveriam ser investigadas pela sua Comissão de Privilégios. Os conservadores de Boris não se opuseram à medida.
Em viagem à Índia, o próprio premier afirmou à emissora Sky News que abandonou uma tentativa de adiar a investigação porque ele "não tem nada a esconder". Não está claro, porém, se houve uma ordem do Partido Conservador para que seus parlamentares não se opusessem à moção.
Muitos conversadores estão desconfortáveis em defender o premier, já que o escândalo no qual Boris se envolveu levou a uma maior rejeição do público à sua liderança e ao próprio partido.
Steve Baker, um importante parlamentar conservador que apoiou Boris no processo do Brexit, disse nesta quinta que o premier deveria renunciar.
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“O primeiro-ministro deveria ter ido embora há muito tempo. [Ele] Deveria saber que o show acabou”, disse Baker, acusando Boris de violar a "letra e o espírito" da lei.
Boris já pediu desculpas em diferentes ocasiões pelo ocorrido, dizendo inclusive que não lhe "ocorreu que estava violando as regras". Ele fora multado pela polícia em £ 50 (R$ 303) por participar de uma celebração de seu aniversário na tarde de 19 de junho de 2020 no jardim da sede do governo. O premier alegara que não sabia que o evento, no auge da pandemia no Reino Unido, violava as regras que ele mesmo havia estabelecido.
A aprovação da moção, no entanto, não acarreta imediatamente o início da investigação. Segundo a BBC, a moção diz especificamente que a investigação deve começar após a publicação de um relatório conduzido pela alta funcionária Sue Gray.
Parte do relatório de Gray foi publicado em janeiro, apontando "falhas graves" do governo de Boris. No entanto, ele só será divulgado na íntegra após a Polícia Metropolitana de Londres finalizar suas investigações sobre o "partygate" e emitir todas as suas multas.
Todo o processo pode atrasar ainda mais, já que a polícia anunciou nesta quinta que reterá quaisquer atualizações sobre sua investigação até após as eleições locais e regionais, em 5 de maio.
"Embora a investigação continue durante o período pré-eleitoral, devido às restrições de comunicação antes das eleições locais de maio, não forneceremos mais atualizações até depois de 5 de maio", disse um porta-voz da força em comunicado por e-mail.
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