Pesquisas de boca de urna apontam para a reeleição do presidente da Sérvia, Aleksander Vucic, um dos protagonistas na vida política do país na última década, e que se apresentou como o único capaz de liderar a nação em tempos turbulentos na região, mas que foi acusado por seus rivais de adotar uma postura autoritária no cargo e de usar a máquina do governo para impulsionar seu eleitorado. Apesar do resultado oficial ainda não ter sido confirmado, ele já declarou vitória.
“Tive 2.245.000 de votos no primeiro turno”, disse Vucic, em discurso em Belgrado.
Segundo os números dos institutos Ipsos e CeSID, 59,8% dos eleitores votaram em Vucic, do Partido Progressista Servio (SNS), de centro-direita, enquanto 17,1% escolheram Zdravko Ponos, da coalizão União Pela Vitória (centro), eliminando a necessidade de um segundo turno. O comparecimento às urnas foi de cerca de 60%, dez pontos percentuais acima do registrado nas eleições legislativas de 2020.
Assim como na Hungria, que também realizou eleições neste domingo, a campanha foi marcada pela guerra na Ucrânia, um conflito no qual a Sérvia vem tentando manter uma posição de equilíbrio entre os históricos e importantes laços com a Rússia e suas aspirações de, um dia, entrar para a União Europeia — segundo analistas, antes da guerra, os debates estavam centrados em temas como corrupção, direitos humanos e questões ambientais.
Vucic, presidente desde 2017, trouxe em seus discursos a imagem de que ele seria o único capaz de liderar o país em um momento decisivo para a Europa, e conseguiu gravar junto ao eleitorado a ideia de que uma mudança no comando do governo seria uma má ideia. Seu próprio slogan eleitoral refletia essa imagem: "Paz. Estabilidade. Vucic."
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“As grandes crises, ao menos a curto prazo, favorecem sempre aqueles que estão no poder. Geram incertezas, medo e a esperança de que o sistema vai garantir ao menos a segurança básica”, disse à AFP Zoran Stojiljkovic, professor de ciências políticas em Belgrado.
No começo do ano, a oposição acreditava ser possível derrotar Vucic: naquela ocasião, o presidente se viu obrigado a desistir de um projeto para uma mina de lítio, após uma série de grandes protestos. Muitos viram ali um sinal de fissuras nas bases do poder do líder de centro-direita, mas a alegada fragilidade se dissipou rapidamente depois da invasão russa.
Somado a isso, Vucic incrementou os programas sociais, no que foi visto por adversários como uma tentativa de compra de votos. Sua influência em praticamente todos os níveis do Estado sérvio também é apontada como uma característica autoritária do líder que, nos últimos 10 anos, foi presidente, primeiro-ministro e vice-premier.
De acordo com a boca de urna, o partido do governo, o SNS, deve manter sua ampla maioria no Parlamento, permitindo um mandato em tese sem sustos para Vucic: a sigla obteve 43,6% dos votos, segundo a Ipsos e o CeSID, contra 12,9% do União Pela Vitória e 11,6% do Partido Socialista da Sérvia. Mesmo assim, os números sugerem que a sigla precisará de alianças para passar pautas cruciais do governo.
Segundo analistas, o primeiro desafio de Vucic, passadas as eleições, será lidar com a pressão vinda de Bruxelas e de Moscou para escolher um dos lados na guerra da Ucrânia. Por um lado, Belgrado é dependente do gás russo, e parte considerável de sua população apóia a invasão e não quer se afastar da Rússia. Por outro, a União Europeia, que adotou uma série de sanções contra o governo russo, vem pressionando os candidatos a uma vaga no bloco a se posicionarem contra as ações de Vladimir Putin na Ucrânia.
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* Com informações de agências internacionais