O governo da Rússia minimizou nesta quarta-feira (30) os resultados das negociações com a Ucrânia na Turquia e disse que ainda não é possível comemorar avanços nas tratativas.
As declarações chegam um dia após as delegações de Kiev e Moscou, reunidas na cidade turca de Istambul, terem dado os primeiros passos concretos na direção de um possível entendimento, hipótese que ainda é vista com ceticismo por todas as partes.
"Não podemos dizer que houve algo muito promissor ou qualquer avanço. Ainda há muito trabalho a ser feito", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em um briefing com a imprensa nesta quarta.
No entanto, ele afirmou ser "positivo" que a Ucrânia tenha colocado suas demandas no papel. "Estamos cuidadosamente evitando fazer comentários sobre os temas. Acreditamos que as negociações devem ocorrer em silêncio", acrescentou Peskov.
A delegação ucraniana apresentou uma proposta por escrito que garante sua "neutralidade", ou seja, o compromisso de não ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e seu status de país "desnuclearizado".
Em troca, o país cobra o aval da Rússia à sua candidatura a membro da União Europeia e a instituição de um mecanismo internacional de garantias de segurança similar ao artigo 5 da Otan, que determina que um ataque a um integrante da organização deve gerar uma resposta conjunta da aliança.
Esse instrumento prevê a formação de um grupo de países capazes de dar uma resposta dentro de 24 horas no caso de uma eventual agressão externa contra a Ucrânia, incluindo assistência militar, fornecimento de armas e fechamento do espaço aéreo.
Diversas nações já foram cotadas para esse mecanismo, incluindo os membros do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha, Canadá, Israel, Itália e Turquia. No entanto, o Reino Unido, que faz parte do Conselho de Segurança, se mostrou reticente em ser um dos garantidores.
"Dependeria do que exatamente isso comportaria. Fomos muito claros sobre o fato de que não queremos entrar em um conflito militar contra a Rússia", declarou o vice-premiê britânico, Dominic Raab.
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Redução
O negociador-chefe de Moscou, Vladimir Medinsky, definiu as conversas em Istambul como "construtivas" e anunciou uma redução "radical" das atividades militares russas nas regiões de Kiev e Chernihiv, mas ambas foram alvos de ataques nesta quarta-feira.
A administração regional de Kiev denunciou pelo menos 30 bombardeios contra prédios residenciais e outras estruturas civis. "O Exército russo lançou mísseis e bombas para destruir infraestruturas e áreas residenciais, em violação do direito humanitário internacional", diz uma nota publicada no Telegram.
Já o governador de Chernihiv, Viacheslav Chau, disse que a região foi atacada durante "a noite inteira". "Acreditamos nas promessas? Claro que não", afirmou.
Oficialmente, a Rússia declara que já concluiu a primeira fase de sua "operação especial", que previa a redução da capacidade de defesa das Forças Armadas ucranianas, e que agora vai se concentrar em seu objetivo prioritário: a "liberação" do Donbass, onde ficam as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk.
Dessa forma, a alegada diminuição das atividades em Kiev e Chernihiv seria apenas uma etapa para reorganizar suas tropas e reforçar o fronte oriental.
De acordo com a ONU, a guerra na Ucrânia já gerou mais de 4 milhões de refugiados, sendo que mais da metade (2,3 milhões) cruzou a fronteira com a Polônia.
Três corredores humanitários ficarão abertos nesta quarta-feira, todos eles no sul da Ucrânia.
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